Nem o dia ensolarado e quente — na casa dos 25°C — nem o cenário arborizado e convidativo do entorno do Araujo Vianna, em Porto Alegre, tiraram o foco de quase 3 mil estudantes que não desviaram o caminho e encheram o auditório na tarde desta sexta-feira (2) para estudar em pleno feriado de Finados. O esforço é justificável: faltam dois dias para a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e o evento em questão é o tradicional aulão do Unificado, uma oportunidade de revisar os principais conteúdos, tirar as últimas dúvidas e pegar uns macetes para o exame.
Neste domingo (4), serão aplicadas as provas de Redação, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias. No próximo, dia 11, será a vez de Matemática e Ciências da Natureza. Para alguns alunos, este será o primeiro contato com o exame que pode abrir as portas para uma vaga no Ensino Superior, o que aumenta o nervosismo e a expectativa diante do que os espera. É o caso de Vanessa Fernandes, 18 anos, do bairro Niterói, em Canoas, que almeja uma cadeira na faculdade de psicologia.
— Vou fazer para pegar experiência e entender como funciona a prova, já que nunca fiz, porque não estudei muito, não. Procurei focar mais na redação e, aqui, vou tentar absorver algumas dicas — admite a jovem, sem esconder a preocupação e um certo pessimismo. — Ah, estou nervosa porque eu sei que não vou passar de cara, mas acho importante tentar.
Também novato no Enem, Gabriel Terres, 18 anos, da Cidade Baixa, em Porto Alegre, já expressa a calma e a confiança de quem se preparou para o desafio.
— Tô tranquilo, estudei o suficiente, cerca de duas horas por dia, todos os dias, fora o cursinho. Hoje, quero descontrair, me divertir um pouco, mas, claro, também pegar algumas manhas para a prova — diz o garoto, que garante estar alerta ao que pode ser um obstáculo a mais neste ano: o horário de verão, que vai coincidir com o primeiro dia de provas. — Vou trocar o horário e adiantar o relógio do celular em uma hora já no sábado ao meio-dia, manualmente mesmo, pra não correr nenhum risco (risos).
Na turma dos experientes, está Gabrielly Frazão, 19 anos, do bairro Niterói, em Canoas, que pretende conquistar uma vaga para odontologia. Esta é a segunda vez que ela fará as provas do Enem, e se diz otimista pela bagagem que traz de 2017, quando enfrentou algumas dificuldades que jogaram contra ela na luta por uma vaga na universidade:
— Acho que vai ser bem difícil, mas estou confiante, tenho fé que, neste ano, vou conseguir. Na primeira vez, eu ainda estava no segundo ano e estudava em uma escola estadual. Estava há quatro meses sem aula. Quis me ambientar com o exame, conhecer, saber como funciona. Agora, além de estar em uma escola particular, me preparei, estudei mesmo. Mas quero aproveitar o aulão para pegar todas as dicas que puder, especialmente, de exatas, que é onde tenho mais dificuldade.
Assim como o concorrente da Cidade Baixa, a alteração nos ponteiros do relógio não tira o sono de Gabrielly:
— Não estou preocupada, porque já tive a experiência do ano passado de horário, de tempo de deslocamento, e pretendo sair com bastante antecedência. É só se organizar.
Professores dão show de motivação aos candidatos
Em cima do palco, para uma plateia calorosa que grita, aplaude e dá gargalhadas a cada intervenção, professores do Unificado fazem as vezes de artistas em um espetáculo, ora em formato stand up, ora coletivamente. Antes de entrar nos conteúdos propriamente ditos, disseminam mensagens motivacionais e fazem alertas importantes sobre organização, gerenciamento do tempo e prioridades na resolução das questões. A ZH, os docentes reforçam essas dicas.
— É muito importante pensar que vai ter engarrafamento, que meio-dia é a hora de chegar no local da prova e não de sair de casa; que tem de se alimentar, mas não comer nada pesado para não correr risco de se sentir mal; e que a ansiedade só atrapalha — destaca Ênio Kaufmann, professor de física e diretor de ensino do Unificado.
Ele ressalta uma dica fundamental para a realização do exame:
— Faça todas as questões fáceis da prova primeiro, ainda que não siga a ordem das provas. Errar uma questão difícil não é um problema, errar uma fácil sim. Se faltar tempo, que fique de fora uma questão difícil e jamais uma fácil.
— A gente costuma dizer que eles passam dias na fila de um show mas saem em cima do laço para a prova do Enem. Não pode, tem que se organizar e sair de casa com folga _ reforça Michael de Souza Cruz, professor de filosofia e sociologia.
Carla Beber, professora de redação, fala sobre uma das provas mais temidas pelos alunos:
— Adivinhar tema é muito difícil, mas é importante saber que eles sempre envolvem questões sociais, e que o aluno precisará pensar em propostas de solução, intervenções sociais para um problema proposto. Neste ano, acreditamos que o tema da redação não vá envolver nada que divida o Brasil, que já vive uma polarização muito grande. Apostamos em algo geral, que unifique, como, quem sabe, doação de órgãos, a questão da água, automedicação... E atenção: é preciso se posicionar, deixar bem claro o seu ponto de vista sobre o tema e defender com argumentos e dados aquilo em que acredita.