O prédio e o ginásio de esportes novinhos despontam atrás da enorme figueira que acolhe o pátio da Escola Estadual de Ensino Fundamental Maria Cristina Chiká. São 18 salas, laboratório, sala de materiais, escadas e corredores com piso de porcelanato, banheiros em cada pavimento e elevador. Um "luxo" que cerca de 740 alunos da instituição de ensino da Lomba do Pinheiro, na Capital, olham todos os dias, mas não podem acessar.
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A obra deveria ter sido concluída em junho de 2015, mas, quando estava quase pronta, parou. Aparentemente, são necessários alguns acabamentos internos, mas o que impede mesmo a escola de transferir suas atividades para a nova sede é a falta de energia elétrica. Uma rede adequada precisa ser instalada para abastecer o prédio. É o que todos aguardam para sair do sufoco imposto há seis anos à rotina escolar.
No edifício precário onde atualmente funciona, o colégio – um dos mais centrais do bairro – faz uma dança das cadeiras para acomodar os estudantes. Nos dois pavimentos de concreto, são seis salas, todas com algum problema de infraestrutura. A sala dos professores é depósito de materiais, arquivo morto e biblioteca, resumida a exemplares acomodados em um armário. Há um banheiro feminino, outro masculino e um de uso dos professores, e a secretaria divide o já modesto espaço com o Serviço de Orientação Educacional (SOE).
– Se temos de tratar um assunto mais delicado com algum pai ou aluno, o pessoal da secretaria tem de sair para garantirmos privacidade – conta a vice-diretora Tatiane Carvalho, 38 anos.
Não bastasse isso, a casa do PM residente abriga os alunos do primeiro ano, deixando a escola, encravada numa região de disputas entre facções do tráfico de drogas, desguarnecida. No pátio, estão dois símbolos do quanto a instituição só esteve como prioridade nos discursos das autoridades: duas salas de aula volantes, permanentemente provisórias, onde os professores mal têm condições de se movimentar em frente ao quadro. A ventilação é precária, e a umidade já deforma as paredes – que são nada mais do que aglomerados com uma camada finíssima de cimento e pintura. As duas estruturas estão ali há três anos, sob a promessa de que a escola teria suas atividades transferidas para o prédio novo. Os dias de chuva do começo do mês comprometeram ainda mais as peças nas quais nove turmas do Ensino Fundamental se revezam em atividades.
Vida escolar sem recreação
A obra de aproximadamente R$ 3 milhões que repousa – e se deteriora – ao lado da Cristina Chiká resolveria muito mais do que a organização dos espaços. Sem um ambiente adequado, a escola precisou mudar o cronograma de aulas, dividindo os alunos em três turnos sem intervalos. Os estudantes têm atividades ou das 7h30min às 11h, ou das 11h às 14h30min ou das 14h30min às 18h, adaptação exigida nos tempos em que se anunciou o estudo de solo da obra e o fim das brizoletas, estruturas que abrigavam as aulas na área onde fica a futura sede. Desde então não há recreio, porque o pátio, ocupado pelas duas salas volantes e com uma área interditada por conta do prédio inacabado, ficou sem espaço.
– Isso me dói muito. Temos alunos que nunca tiveram recreio desde que vieram para cá – conta Tatiane.
As aulas de educação física ocorrem sem bolas ou jogos coletivos e se transformaram em treinos de coordenação motora e equilíbrio e jogos de tabuleiro.
Nesse dia a dia de improvisos, não é raro ter de juntar turmas – mesmo de níveis diferentes – por conta de goteiras, telhas quebradas e rachaduras. Na segunda-feira pós-feriado de Corpus Christi, a professora Nilda Souza buscava manter a atenção de alunos do 3º e 4º anos, amontoados em uma sala. Preferiu juntar as turmas a ficar na sala volante tomada pelo cheiro de mofo e umidade.
– É difícil, mas tem de ter fé na educação. Tenho fé que esse ainda é meu talento – conformava-se.
Seduc promete prédio pronto em até 90 dias
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) manifestou-se somente por meio de sua assessoria de imprensa. A pasta informou que, para finalizar as obras na Escola Estadual de Ensino Fundamental Maria Cristina Chiká, será feito um termo aditivo de R$ 27 mil no contrato com a empresa vencedora da licitação, e a execução do serviço deverá ser concluída em até 90 dias.
No projeto de 2013 não estava previsto, segundo o órgão, a criação de uma "subestação" de energia. A CEEE não confirma que seja necessária uma subestação, porque precisa receber a solicitação da demanda para avaliar o que será preciso fazer.
A Seduc garantiu que a instalação elétrica da escola será contemplada no novo cronograma de obras, anunciado no dia 14 pelo governador José Ivo Sartori, a ser executado a partir do segundo semestre deste ano.
Outra obra "para breve"
No início do ano letivo, outra escola despontava no universo de 93 instituições de ensino estaduais da Capital que aguardavam por obras estruturais. No Lami, a Escola Heitor Villa Lobos, que atende a 170 estudantes do 1º ao 9º ano, começou as atividades deste ano em salas improvisadas e com o prédio principal interditado. Em novembro de 2016, um temporal destelhou o pavilhão onde funcionavam três salas de aula, secretaria, sala dos professores, sala da direção e cozinha, e não houve providências até então.
Enquanto a reforma não começa, os materiais no prédio interditado se deterioram. Além de classes e cadeiras, mobiliário da sala dos professores, instrumentos musicais e outros equipamentos foram perdidos pela ação do tempo. A Seduc informou que em 20 dias ocorrerá o início das obras na escola. A reforma da cobertura é tratada como demanda emergencial e terá custo de R$ 111 mil.