O que é isso? O que significam essas chaves? Como? Era um escravo? Em frente ao símbolo do assentamento do Bará do Mercado Público, em Porto Alegre, a estudante Lara Bach, 19 anos, tenta dar conta da curiosidade dos colegas de faculdade, a malaia Kah Yee Chiang, 20 anos, os americanos Zachary Witzel, 19 anos, Natalie Kanter, 19 anos, Coby Anderson, 20 anos, e o alemão Louis Brickman, 19 anos.
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Gaúcho é o primeiro brasileiro na "universidade dos sonhos"
Todos são estudantes da primeira turma da Universidade Minerva, instituição dos EUA conhecida como "universidade dos sonhos" porque, entre as inovações, propõe um campus itinerante, em que os alunos têm aulas online e passam semestres em países diferentes. Depois de uma temporada em Berlim, na Alemanha, agora a turma amplia seus conhecimentos em Buenos Aires, na Argentina, onde fica até abril, antes de partir para Seul, na Coréia do Sul.
No final de semana de Carnaval, os estudantes deram um pulo no Brasil para conhecer a terra natal da colega porto-alegrense. Lara, ex-aluna no Colégio Rosário, fez questão de mostrar os pontos turísticos mais populares da Capital, esticou o passeio até o Litoral e conseguiu garantir uma lição aos amigos: o Brasil é mais do que Rio de Janeiro e São Paulo.
– Achei tudo muito autêntico, feito do jeito como as pessoas vivem aqui. Eu aprendi até a fazer "negrinho"! – brincou a americana Natalie, que descobriu por aqui a alcunha gaúcha do brigadeiro.
Com Lara como anfitriã, o grupo perambulou pelas casas de flora e outras bancas do Mercado, fez selfies e poses nas ruas do Centro Histórico, passou pela Praça da Alfândega, descobriu a importância de Mario Quintana para a literatura local e se surpreendeu com a casa de cultura que presta honras ao poeta alegretense.
– A dinâmica do RS, tendo uma cultura diferente da do resto do Brasil, é algo muito autêntico. Curti discutir política brasileira com as pessoas que conheci. Foi interessante ver problemas parecidos e diferentes com a atual política americana – disse Louis.
Antes do passeio na Capital, Lara levou os amigos à praia. Nada de Santa Catarina. Ficaram entre Xangri-lá e Atlântida. O mar limpinho e o tempo bom foram tão convidativos que os visitantes não pouparam elogios ao litoral que por muitos é desprezado como destino de veraneio.
– Nossa, as praias são lindas aqui – enaltecia Kah Yee.
Alheia ao bairrismo que volta e meia serve para distinguir o comportamento dos gaúchos, a malaia sem querer alimentou esse orgulho: apaixonou-se pelo churrasco (tão bom quanto a parrilla argentina, segundo ela), adorou a hospitalidade e já reconhecia até o símbolo do Banrisul como algo familiar: "É um banco local, né?", adiantou-se à explicação.
– O mais bacana é que a gente se sente incluído. As pessoas são muito carinhosas, tentam, de alguma forma, conversar em inglês para que a gente se sinta incluído. Tenho cara de estrangeira, e as pessoas notam isso e tentam me fazer ficar o mais confortável possível – comentou.
A visita de Lara com os amigos a Porto Alegre antecede mais um período em Buenos Aires antes de os universitários entrarem em férias. Na capital argentina, eles têm uma rotina de atividades que vai desde ações ligadas a parcerias com órgãos públicos até experiências culturais, como aulas de tango.
O calendário escolar é o americano, então, maio, junho e julho são os meses dedicados ao descanso. Depois disso, Lara e os colegas partem para Seul.
A universidade itinerante, em que os conhecimentos são multidisciplinares e a imersão em culturas e economias do mundo fazem parte do programa acadêmico, foi uma opção que Lara encontrou diante do que considerou mesmice nas universidades brasileiras. Ela foi aprovada em três vestibulares no Brasil e chegou a cursar por um tempo Relações Internacionais na UFRGS:
– Tive a impressão de que eu estava numa extensão do Ensino Médio, vendo as mesmas coisas, encontrando as mesmas pessoas. Eu estava numa bolha e não me sentia motivada. A Minerva tá sendo muito puxada e eu estou aprendendo como nunca aprendi antes. Também me divertindo como nunca. Mas o legal é que estou usando minha educação não só para meu proveito, mas também para ajudar a construir um modelo que está revolucionando e aprimorando o ensino, algo maior do que eu.
A Universidade Minerva está recebendo inscrições até 15 de março para estudantes que queiram começar os estudos em setembro. O cadastro pode ser feito aqui.