Claudia Chiquitelli
Especial
O mercado de trabalho brasileiro registra mais de 12 milhões de desempregados. A reforma da Previdência está vindo aí com mudanças e a previsão é do brasileiro trabalhar por mais anos e se aposentar com mais idade. Nesse cenário, profissionais com mais de 50 anos precisam investir em dobro em qualificação, rede de contatos e avaliação do mercado no qual são qualificados, para conseguir trabalho. O site MaturiJobs (www.maturijobs.com) surgiu com foco nesse grupo.
– A ideia começou com o trabalho voluntário que fiz em um asilo em 2011 até a morte da minha avó paterna, Keila Litvak, em 2013, que era super ativa e, quando parou de trabalhar, aos 80 anos, sua saúde decaiu rapidamente – conta o criador do site, Mórris Litvak, que começou a estudar, pesquisar e entender o envelhecimento no Brasil.
Atualmente, são mais de 5 mil pessoas no país cadastradas na plataforma, que começa a testar o Freela 50+ para que as pessoas possam, além de buscar trabalho no site, oferecer serviços pontuais para empresas e pessoas físicas. O empreendedor percebeu que o grande problema era a questão da falta de oportunidade para a idade e viu nisso um negócio, apesar de saber da enorme dificuldade de quebrar barreiras.
– O chamado "etarismo", que é o preconceito em função da idade, é sem dúvida o maior desafio. Hoje há uma "juniorização" das empresas de todos os portes, causada por uma sensação de que o jovem é mais barato e mais produtivo, o que nem sempre é verdade – diz o empresário.
Falta cultura
Para Litvak, o empresário brasileiro é bastante preconceituoso em relação à idade. Ele diz que encontra muita resistência em falar com empresas que só buscam jovens, já que no país não há cultura que valorize a experiência e sabedoria. Entretanto, o empreendedor alerta para muitos itens que devem ser levados em consideração na contratação de um trabalhador com mais bagagem.
– O comprometimento é um dos fatores mais importantes, pois pode reduzir custos de alto turnover (rotatividade) encontrados em equipes jovens. Além disso, a responsabilidade, sabedoria em lidar com problemas, mentoria aos mais jovens e capacidade de atender bem aos clientes e fornecedores, com mais atenção e paciência, são grandes diferenciais. Outro ponto importante é que os 50+ já têm filhos criados e, portanto, trabalham para fazer algo que gostam, não buscam mais um trabalho somente pelo dinheiro – exemplifica.
Conforme Litvak, a diversidade, entre elas a etária, faz com que a organização tenha equipes pensando "fora da caixa" e cria um ambiente propício à inovação.
– E o diálogo intergeracional dentro das equipes é fundamental, podendo trazer resultados realmente incríveis – acredita.
Mito da resistência
Entre os pontos que elevam a dificuldade de contratação para essa faixa etária está o mito de que os mais experientes têm mais resistência a mudanças. Entretanto, para quem estuda esse segmento, não é bem assim.
– Não se pode generalizar, mas é fato que os mais velhos foram educados para trabalhar em um mundo muito diferente do que estamos vendo. Mesmo assim, os 50+ estão entrando cada vez mais nessa nova economia e na tecnologia, deixando preconceitos e resistências de lado, até porque já perceberam que se não mudarem eles ficam para trás mesmo e não conseguem oportunidades. Por isso, estão buscando cada vez mais atualização – comenta.
Nações como Estados Unidos e Japão e a Europa se prepararam para o envelhecimento da população. No Brasil, ainda não há estrutura para que esse grupo tenha oportunidade e qualidade de vida.
– Nesses países, é normal idosos trabalharem em todo o tipo de empresa, valorizados e integrados. E há muitas iniciativas, do governo, de ONGs e de empresas, para recolocação de profissionais mais velhos no mercado de trabalho – revela.
Nível de conhecimento mudou
O nível de conhecimento mudou, e a maneira de adquiri-lo também. Enquanto muitos encontram em livros de grandes escritores a base para a sua cultura, outros têm seu conhecimento baseado em conteúdos de internet que não são literatura ou publicações técnicas. Essa situação também provoca a diferença no ambiente corporativo. Nesse universo, é possível uma gestão sem preconceitos e com empatia, escutando o funcionário e compreendendo que cada um tem seu tempo e modo de trabalhar e aprender, mas que contribuem à sua maneira.
– É preciso entender que a experiência de vida, não só a profissional, é algo que o mais velho possui e que o jovem não tem e deve ser valorizada. A empresa precisa investir nessa integração intergeracional, para evitar constrangimentos e colher os frutos dessa troca riquíssima de experiências e, assim, sair da mesmice – define Litvak.
Cinco dicas para ser contratado
1. Se abra para as novas possibilidades. Pense no que você gosta e tem vontade de fazer, nas suas habilidades, e não somente na sua experiência profissional, para buscar um trabalho que você realmente ame;
2. Abrace a tecnologia. Veja a inovação e as novas ferramentas tecnológicas como aliadas e não como inimigas. Explore as infinitas oportunidades que esse mundo digital abre;
3. Deixe os preconceitos de lado e entenda que você pode aprender muito com os mais jovens também, além de ensinar, e que há muitos deles dispostos a isso;
4. Saia de casa e vá conhecer pessoas e lugares novos. Participe de eventos, workshops e faça cursos para aprender coisas novas. Aumente sua rede de contatos;
5. Não se deprima pela dificuldade de encontrar oportunidades. Se esse for o caso, peça ajuda e busque o autoconhecimento.
Fonte: MaturiJobs