O primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exigiu mais raciocínio interpretativo dos estudantes e menos conteúdo, avaliaram professores do Universitário ouvidos por Zero Hora neste sábado. As 90 questões de ciências humanas e da natureza cobraram competências e habilidades dos alunos, deixando de lado a "decoreba".
– Foi uma prova mais exigente em termos de raciocínio interpretativo e menos conteudista do que nas últimas duas edições. Em geral, foi uma prova mais demorada de se fazer porque exigiu uma maior decifração de textos bases e enunciados. Não se pode dizer que foi uma prova mais complexa, mas mais trabalhosa. A prova se assemelhou mais às primeiras edições do novo formato do Enem – aponta Demétrius Ávila, professor de filosofia e sociologia do Universitário.
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No teste de ciências humanas, como esperava-se, apareceram temas recorrentes na atualidade. Dentre eles, a questão dos refugiados na Europa e o debate sobre igualdade de gênero. Para Davi Ruschel, professor de história do Universitário, o exame confirmou a tendência de inserção de problemáticas do cotidiano.
– O Enem aborda conteúdos clássicos e, em cima deles, cobra as competências e habilidades do estudante. Não se trata de uma prova especificamente de conteúdo, mas que, sabendo o contexto, dominando conceitos básicos e lendo com atenção, o aluno consiga decifrar para chegar à resposta correta. É uma tendência da prova de humanas do Enem vincular conteúdos com a realidade do país, abordando questões pertinentes da nossa sociedade em um contexto histórico. Não é que a prova esteja trabalhando política especificamente, mas quer que o aluno reflita e entenda o mundo em que está inserido – comenta.
Os professores consideraram o nível da prova de médio a difícil. Isso porque, segundo o professor de geografia do Universitário Fábio Costa, havia questões complexas que subiram o grau de dificuldade do teste neste sábado. Na opinião dele, chamou a atenção a ausência de conteúdos que costumam entrar no exame, como as questões de clima, geologia e vegetação.
As perguntas de Filosofia e Sociologia envolveram nomes como Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e Theodor Adorno, mas deixaram de fora autores brasileiros que apareceram nas edições anteriores. Em contrapartida, a prova de história cobrou mais a história brasileira do que a geral.
Os professores de ciências da natureza avaliaram o exame como grau de dificuldade médio. O professor de química do Universitário Paulo Silva comemorou a maior previsibilidade dos conteúdos:
– Há uma certa regularidade no exame e se consegue, mais ou menos, prever o que vai ser perguntando. Na química, ela começa a se aproximar um pouquinho do vestibular.
Na opinião do professor de biologia do Universitário Paulo Meira, a prova também exigiu que o candidato estivesse bem informado sobre assuntos da atualidade:
– Foi uma prova bem feita. Teve questões fáceis, médias e difíceis. Foram questões bem elaboradas, provando raciocínio do aluno e não tanto a decoreba.
Sobre o assunto da redação, prova que será aplicada no domingo, os professores arriscaram que o tema dos refugiados no continente europeu – abordado em uma questão no exame neste sábado – pode aparecer para que os estudantes debatam como se lida com o outro.
– Nesse sentido, o Enem é político. Ele quer que o aluno esteja integrado à sociedade em que vive, que a entenda e saiba se posicionar – acrescenta Davi.
– Mas os estudantes têm de saber que não estão sendo desafiados a montar um plano de governo, mas a se posicionar a respeito, entender a relevância do assunto e como ele afeta inclusive a própria vida para que, a partir daí, se aponte o que o aluno faria para melhorar isso – aconselha Demétrius.