Ministro da Educação no governo Dilma Rousseff, o professor Renato Janine Ribeiro acompanhou em sua gestão as discussões sobre a mudança do Ensino Médio. Favorável à flexibilização do currículo, ele prega uma educação mais conectada com a realidade.
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Nesta quinta-feira, o governo federal deve anunciar mudanças nesta etapa escolar. As medidas serão objeto de uma medida provisória. Na quarta-feira, o ex-ministro conversou com a reportagem sobre o tema.
As mudanças no Ensino Médio já eram discutidas no governo Dilma?
As medidas já estavam em discussão. As mudanças viriam pelo projeto e não eram um ponto de divergência. Só considero a MP um caminho péssimo. É um assunto delicado para você resolver mediante um instrumento que pula a discussão do Congresso.
O senhor concorda com a flexibilização do currículo?
É um ponto essencial. Atualmente, você tem um nível de especialização em certas matérias que é desnecessário para o aluno que não pretende segui-las. Você tem de ensinar aquilo que é útil para ele. E nossa educação continua teimando em não ser assim.
Cinco ênfases para a parte aberta do currículo agrada?
Você não pode dar no Ensino Médio uma introdução a uma faculdade que o aluno não fará. Você tem de pensar numa formação que traga o que de física, química e filosofia ele poderá usar na vida, fazendo ou não faculdade nessas áreas. O ponto controverso é decidir quais são as matérias em que não é preciso entrar no detalhe.
Os Estados, que respondem pela maior parte do Ensino Médio público, terão condições de criar currículos eficientes?
O primeiro problema é garantir as ofertas aos alunos. Esse ponto é fundamental e vai necessitar de mais dinheiro. Exceto escolas grandes, haverá alguma ênfase que terá classes pequenas. Em vez de ter um projeto que dá mais liberdade para o aluno, você pode acabar tendo um que exclui, que obriga alunos a fazerem o que eles não querem.
As mudanças podem melhorar os índices?
Na educação, você precisa acompanhar tudo de perto, e os resultados não são rápidos. O Ideb não examina todas as matérias. Ele é um indicador poderoso, mas temos de levar em conta que a educação tem outras facetas. Tenho particular preocupação com o fato de que filosofia e sociologia, se forem bem conceituadas, dão uma formação humana importante.
Uma ideia é dividir o Ensino Médio em módulos, permitindo ao aluno trancar e retomar os estudos. Isso era discutido na sua gestão?
Tinha muita discussão, mas você tem recursos para garantir isso a todos? Se uma pessoa tranca a matrícula e o sistema educacional não previu isso, uma vaga fica ociosa. Se essa pessoa voltar, estará previsto o retorno? Haverá orçamento? Ou você estará oferecendo algo que não vai entregar depois?