Sete horas da manhã de um dia cinza de inverno, é o dia mais frio do ano, daqueles de raspar o para-brisas para poder sair com o carro. Carlos chega para socorrer seu cliente em apuros e é recebido com uma linda carranca e palavras de motivação como imprestável, incompetente e burro. Ele não pode mudar as circunstâncias, mas o que ele carrega consigo, em sua mente, fará toda a diferença para ambos.
Todos nós trabalhamos para atender clientes, seja cliente externo ou interno, todos têm algo muito peculiar em comum: problemas. De certa forma, somos a solução para esta amargura, ainda que esteja longe do ideal, ao menos somos o suficiente. Em compensação, temos uma única contrapartida: dinheiro. Assim se perpetua o capitalismo, não há como nadar contra a maré, mas se escolher a prancha certa pode pegar algumas boas ondas.
A escolha de Carlos neste dia foi acalmar o cliente e fazer o seu trabalho. Talvez seja esta a rotina dele. Como alguém pode aguentar uma rotina destas e ser feliz? O velho Bukowski deve estar rindo em seu caixão. Costuma-se dar muito crédito ao indivíduo. Carlos é um super funcionário, ele é resiliente, aguenta qualquer parada, é o orgulho do chefe, até pedir demissão dois dias depois por não aceitar mais ser o bode expiatório da incompetência velada da empresa.
Certamente, independentemente da próxima empresa a contratar Carlos, ele continuará a atender bem seus clientes e evoluir profissionalmente. Carlos sabe que seu bom desempenho é algo individual, quer se superar acima de tudo, ele cresce. Sua trajetória profissional é exemplar, tem muito a ensinar, mas até quando? Suas qualidades serão só boas histórias quando ele sair do mercado ou deixar suas empresas. Tudo o que profissionais como Carlos sonham é ter uma empresa que ratifique sua qualidade e lhe dê o suporte. Não estou falando de ambiente perfeito, orçamento ilimitado e benefícios de rei, mas coisas mais simples como reconhecer – e direcionar – os problemas, alinhar os objetivos e dar autonomia para que se crie um legado. Assim, a evolução acontece, pois não se trata de um indivíduo explorado, mas uma construção coletiva de profissionais que desejam verdadeiramente cumprir um objetivo em comum: servir.
Todos somos líderes ou liderados. Até certo ponto, a responsabilidade da empresa é dar condições para que possamos desempenhar um bom trabalho, mas como indivíduos, devemos buscar muito mais que isso. Você só buscará a verdadeira excelência no que faz quando entender que você não trabalha para a empresa, trabalha para você. As empresas que entendem essa verdade e servem a este propósito têm sucesso em qualquer época, pois evoluem como resultado do crescimento de seus indivíduos.
Em nossa vida em sociedade existem tantas amarras tentando nos manipular diariamente, que a melhor opção não é continuar a cortar as cordas, mas assumir o posto do ventríloquo. Procurar o melhor palco para sua atuação pode lhe trazer dinheiro e fama, resta saber se isso é importante para você. Ainda que o teatro não seja dos melhores, você ainda pode dar o seu melhor show.