O secretário da estadual da Educação, Luís Antônio Alcoba de Freitas, afirmou nesta quinta-feira (8) que o governo está discutindo mudanças no currículo do ensino médio politécnico, criado no fim de 2011. A resposta se dá após a divulgação dos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), que mostram o ensino médio gaúcho com o pior indicador de qualidade desde 2005.
O Ideb leva em conta as taxas de aprovação e o desempenho dos alunos em uma prova de português e matemática aplicada pelo MEC a cada dois anos. No ensino médio a avaliação é amostral, feita em parte das escolas. Em 2015, as escolas estaduais alcançaram 3,3 no Ideb, em uma escala até 10. Onze anos antes, a média do ensino médio gaúcho era 3,4. Se levado em conta todas as redes de ensino (públicas e privada), a nota alcançada foi de 3,6 (veja na tabela).
Segundo Alcoba, a equipe do governo vai se reunir amanhã para discutir as mudanças no currículo. “Estamos fazendo realinhamento desses currículos porque existe aqui dentro da secretaria uma crítica muito grande há forma como isso foi implementado”, disse em entrevista ao Gaúcha Repórter.
Alcoba não adiantou quais pontos devem sofrer alterações, mas entre as medidas em discussão está a volta da nota numérica (de 0 a 10) e não mais por conceito. A organização das disciplinas também pode ter alteração.
O ensino médio politécnico foi proposto na gestão do então governador Tarso Genro, no fim de 2011. A ideia do projeto era de aproximar o currículo ao mercado de trabalho e tornar o ensino médio mais atrativo, aproximando a teoria da prática.
A professora da Faculdade de Educação da UFRGS Maria Beatriz Luce afirma que o problema do ensino médio no Rio Grande do Sul não está no modelo do ensino médio politécnico, uma proposta que considera positiva por estimular a formação cidadã dos adolescentes.
"Essa proposta do ensino médio politécnico começou a ser implementada em 2012 e ainda não está sendo completamente avaliada pelos dados. São coisas que vão dar efeito a longo prazo e que o Ideb não avalia plenamente porque são objetivos mais amplos do que questões de matemática e português. Até me preocupa propor reforma curricular em função dos resultados gerais do Ideb", diz ela.
Para a educadora, as dificuldades do Estado estão na estrutura precária das escolas, no elevado número de matrículas noturnas e na falta de formação adequada dos professores nas disciplinas para as quais precisam dar aula.
"É um conjunto de fatores. 2015 ainda foi um ano de turbulências nas escolas, com paralisações. Também foi um ano em que as famílias começaram a ter mais preocupação com emprego e renda. Isso tudo pode ter reflexo no desempenho", afirma.
Ela ainda defende que a grande mudança deve passar pela ampliação da carga horária das escolas de ensino médio, de preferência com turno integral.