Professores da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul aprovaram greve por tempo indeterminado, em assembleia do Cpers, sindicato dos professores do ensino público do Estado. A decisão foi tomada na tarde desta sexta-feira (13) em encontro no ginásio Gigantinho. A greve começa imediatamente, conforme a diretoria da entidade.
Leia mais
Estudantes ocupam quatro escolas na Capital
Alunos na Capital repetem movimento de São Paulo
Servidores protestam em reunião com ministro da Educação
Segundo a presidente do Cpers, Helenir Schurer, esta pode ser uma paralisação atípica devido ao engajamento de alunos.
– Não é uma greve igual a outras. Podemos ter, inclusive, alunos dentro das escolas, mas não tendo aula nem chamada e sem assinatura de ponto. A participação deles é um momento emocionante e de extremo orgulho.
Ela lembrou que, desde março, quando a pauta foi entregue à Secretaria de Educação, não houve negociações com o governo.
– Já empilhamos pedidos de audiência e o governo não responde a absolutamente nada. Em greve, agora, ele vai ter que nos enxergar e nos receber.
No final da tarde, os professores fizeram caminhada até o Palácio Piratini para entregar a carta de reivindicações a representantes do governo. Conforme o Cpers, após esperarem na saguão, manifestantes foram recebidos pelo governo, com quem foi marcada uma mesa de negociação para 9h da próxima terça-feira no Piratini, com secretaria de Educação, Secretaria da Fazenda e Casa Civil. Não está confirmada a presença do governador José Ivo Sartori.
Entre as reivindicações da categoria estão o fim do parcelamento de salários, reajuste de 13,1% nos vencimentos, cumprimento da lei do piso – que hoje estaria 69,44% defasado, de acordo com o sindicato –, IPE com pleno atendimento e sem aumento de descontos, o fim do fechamento de turmas e escolas e a disponibilidade de merenda para todos os alunos.
Estrutura nas escolas preocupa funcionários e estudantes
A professora Alessandra Bittencourt Ribeirro, 44 anos, 26 lecionando, do Instituto Estadual de Ensino Cônego Luiz Walter Hanquet, de Camaquã, afirma que nunca houve tamanho desrespeito com a categoria.
–É um momento único. O governador brinca com questões sérias, falta repasses dos recursos mínimos. O governo diz para buscarmos na Justiça direito a monitores em sala de recurso multifuncional, cuja lei determina um funcionário por estudante autista, reclama.
Na escola Andrey Marusiak, de Campina das Missões, a situação não está crítica devido à organização de funcionários e diretoria.
– Temos material didático e de limpeza porque guardamos de anos anteriores. Continuamos com merendas porque congelamos alguns alimentos, além de conseguirmos mantimentos com a comunidade. Falta pessoal e turmas ficam misturadas na mesma sala, constatou a professora Loiva Mombach, 54.
O governo do Estado emitiu uma nota na qual diz que "É fundamental que as aulas sejam mantidas regularmente, preservando o atendimento dos nossos estudantes, razão da existência de todo o sistema educacional", e se colocando disponível ao diálogo (leia a íntegra abaixo).
Em março, na última assembleia do Cpers, professores optaram por encerrar uma greve que durava 3 dias para construir uma mobilização maior contra o governo Sartori, ação deflagrada nesta sexta-feira. Os detalhes da pauta de demandas e o andamento da greve ainda serão discutidos em conselho a ser marcado.
Edson Garcia, 44, secretário-geral da direção do Cpers, considera que a greve foi deflagrada no momento necessário e acredita em boa adesão da classe:
– Pelo resultado da assembleia, com poucos contrários à paralisação, acreditamos que o movimento será forte no Interior. Agora os diretores de Núcleo vão fazer mobilização de escola em escola para fortalecer a greve, afirmou.
A situação das escolas estaduais tem como agravante a ocupação de alguns colégios por alunos que reclamam contra o sucateamento e problemas na estrutura das escolas. Nesta sexta-feira, quatro entidades foram tomadas pelos estudantes: Colégio Júlio de Castilhos, Colégio Emílio Massot, Escola Estadual Agrônomo Pedro Pereira e Escola Estadual de Ensino Médio Padre Reus. Entidades nacionais de alunos pretendem levar o movimento de ocupação ao Interior do Estado na próxima semana.
De acordo com Laura Helena Paz, 16, diretora de movimentos sociais da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e aluna do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, as ocupações têm o intuito de fortalecer a causa dos professores. Além do colégio em que estuda, ela afirma que também devem ser tomadas as instituições Cilon Rosa, Maria Rocha, Manoel Ribas e Tancredo Neves, todas na cidade da Região Central.
– Tomamos essa atitude extrema como última cartada, não tem mais o que se fazer. Acredito que há chance de dar certo, pois temos pautas pontuais, disse a jovem, referindo-se ao fim Projeto de Lei 44 do governo do Estado, ao debate de gênero no plano de ensino e ao sucateamento da educação.
Confira a cobertura ao vivo:
Nota oficial do governo sobre a greve dos professores e a ocupação de escolas
13/05/2016 às 17:43
1. Diante da anunciada greve do Cpers-Sindicato e das recentes ocupações de escolas, o Governo do Estado reitera que segue fazendo todos os esforços para recuperar o equilíbrio financeiro das contas públicas. Também espera que as condições socioeconômicas do país possam melhorar, repercutindo na arrecadação.
2. Esses passos são imprescindíveis para recuperar a qualidade do serviço público, mantendo em dia o pagamento do salário do funcionalismo e o repasse de verbas para as escolas.
3. Nessa quinta-feira (12), o Estado depositou R$ 5,7 milhões nas contas das escolas estaduais. O valor é parte da autonomia financeira do mês de março e se refere a recursos destinados à manutenção. Os depósitos já constavam na programação financeira da Secretaria da Fazenda e foram realizados logo após a quitação da folha do funcionalismo.
4. O Governo do Estado, em 2015, fez o maior investimento em educação da década, totalizando 33,7% da nossa receita líquida. Desde o início do atual governo, já foram repassados R$ 120 milhões relativos à verba de autonomia das escolas.
5. O Governo do Estado reconhece as dificuldades estruturais do serviço público, mas conclama a unidade dos gaúchos para superar esses problemas históricos, cuja solução não depende de mera vontade política.
6. É fundamental que as aulas sejam mantidas regularmente, preservando o atendimento dos nossos estudantes, razão da existência de todo o sistema educacional.
7. O acesso dos professores e alunos às escolas deve ser preservado. Caso isso não ocorra, as Coordenadorias Regionais de Educação devem ser imediatamente comunicadas, conforme regem as normativas em vigor.
8. Por fim, enfatizamos que a Secretaria Estadual de Educação permanecerá com a postura de diálogo transparente e respeitoso com toda a comunidade escolar gaúcha.