Do lado de lá do globo, um mundo novo é pouco a pouco descoberto por estudantes brasileiros. Reconhecidas pelas belas paisagens e pelo alto índice de qualidade de vida, Austrália e Nova Zelândia estão cada vez mais entrando na rota de quem planeja realizar um intercâmbio para aprender inglês, cursar pós-graduações ou qualificar-se profissionalmente.
Somente em 2016, 9,6 mil estudantes do Brasil embarcaram para a Austrália. Já somos o nono país com mais alunos por lá, atrás de China, Índia, Vietnã, Malásia, Coreia do Sul, Tailândia, Nepal e Indonésia. Já na Nova Zelândia, onde os números não são detalhados pelo governo, sabe-se que a quantidade de brasileiros com visto de estudante cresceu 23% em 2015 em relação ao ano anterior.
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Uma das explicações para os destinos terem se tornado mais atraentes, principalmente para quem quer aprender inglês, é a estabilidade das moedas dos dois países em relação ao real, desvalorizado nos últimos anos. Enquanto o dólar americano e o euro passeiam bem acima dos R$ 3, o dólar australiano para turistas varia entre R$ 2,8 e R$ 3. O dólar neozelandês sai ainda mais em conta: entre R$ 2,6 e R$ 2,8.
Para cursos rápidos, de até três meses, os países não exigem visto dos brasileiros. Quem faz atividades mais longas, acima de 14 semanas, precisa de um visto de estudante. E ganha permissão para trabalhar até 20 horas por semana.
– Tempos atrás, a Irlanda ficou conhecida por essas facilidades. São os únicos três países onde brasileiros podem estudar e trabalhar legalmente, mas hoje tem muitos brasileiros em Dublin, o que acaba proporcionando menos trocas. Já na Austrália e na Nova Zelândia há estudantes de todo o mundo – diz Débora Machado, diretora da LAE Educação Internacional em Porto Alegre.
Os tipos de trabalho disponíveis aos estudantes estrangeiros variam conforme o nível de inglês. Quem tem conhecimentos mais básicos do idioma acaba exercendo funções mais "braçais", como trabalhar na cozinha de restaurantes. O inglês mais avançado abre portas para atividades que lidam com o público, como garçom, recepcionista de hotel ou mesmo gerente de restaurantes e cafés.
A boa notícia é que mesmo trabalhos não tão prestigiados costumam pagar o suficiente para que o estudante se mantenha. As agências especializadas estimam que os custos mensais com aluguel, transporte e alimentação fiquem em torno de 1,5 mil dólares locais, tanto na Austrália quanto na Nova Zelândia.
– Os empregos vão melhorando conforme o nível de inglês melhora, o que também é um estímulo ao estudo. E o povo desses países é muito hospitaleiro, está acostumado a receber estudantes internacionais – conta a consultora Gisele Piletti, especializada em intercâmbios para o Novíssimo Mundo.
Um caminho para a faculdade
Se o Novíssimo Mundo já é destino consolidado para quem quer aprender inglês, nos últimos anos, a região tem atraído também estudantes em busca de cursos profissionalizantes ou qualificações de nível superior, como pós-graduações, mestrados e doutorados. Investimento em pesquisa e facilidades de trabalho para estrangeiros são alguns dos principais atrativos.
– Para a Austrália, há uma procura grande de masters para negócios, mas esse universo está se expandindo. Hoje, muita gente busca programas nas áreas das engenharias, de física e até da saúde – diz Débora Machado.
A terra dos cangurus também oferece boas opções de ensino nas áreas de oceanografia, mineração, agricultura e vinicultura. Das 40 universidades do país, apenas duas são privadas. O ensino é pago em todas – e mais caro para estrangeiros –, mas é possível obter bolsas de estudos.
Já na Nova Zelândia, as opções são mais reduzidas. Há oito universidades no país, todas elas públicas e pagas. Cada uma focada em uma área do conhecimento. Alunos com excelência acadêmica no Brasil também podem conseguir bolsas para programas de pós-graduação.
Vantagens no caminho
Os dois países contam com bom investimento e pesquisa. O assunto é tão importante por lá que estudantes de algumas pós-graduações ganham benefício até para a escola dos filhos acima de cinco anos, que pode ser bancada pelo governo.
– São países novos, que precisam de pessoas qualificadas. Há bastante investimento em inovação e uma preocupação grande com a qualidade do ensino – conta a diretora da LAE Educação Internacional, empresa de intercâmbios focada em Ensino Superior que atua em 13 países.
Por ser parecido com o brasileiro, o calendário acadêmico nesses países facilita a vida dos alunos que planejam fazer mobilidade acadêmica – quando o estudante passa parte do curso em uma universidade do Exterior. Mas há vantagens para quem quer ou pode ficar um pouco mais. Alunos que fazem o chamado full degree na Austrália (cursos de bacharelado, mestrado ou doutorado com duração mínima de dois anos), ou obtêm um diploma a partir do nível 7 (que equivale a especializações com duração de um ano) na Nova Zelândia, podem conseguir um visto mais longo e entrar no mercado de trabalho.
O mesmo curso em outros ares
Vinícius Naumczyk, 29 anos, sequer cogitava estudar no Exterior quando soube que poderia fazer uma parte da faculdade de Arquitetura fora do Brasil sem gastar quase nada. Embarcou no Ciências Sem Fronteiras, programa do governo federal que possibilita a alunos de cursos superiores estudarem em universidades estrangeiras por um período.
– À época, muita gente buscava bolsas em Portugal, porque não exigia falar inglês. Como eu tinha esse conhecimento, fiquei em dúvida entre Canadá a Austrália – conta o estudante da UFRGS.
Ele foi aprovado na Universidade de Nova Gales do Sul, em Sidney. Começou em janeiro de 2014.
O auxílio do governo federal garantiu um período de estudos quase sem gastos do próprio bolso, e a vida universitária no país não exigiu, em termos de conteúdo, mais do que estava acostumado e ainda aperfeiçoou o inglês.
Aprimoramento profissional
Perder o emprego é desanimador, mas para Gustavo Soares da Silva, 32 anos, foi o empurrão para a realização de um sonho. Depois de sair de uma empresa de cosméticos em 2015, ele se viu livre para planejar o intercâmbio que almejava desde a faculdade.
Com a namorada, Amanda, embarcou para a Nova Zelândia em novembro para um período inicial de seis meses. Em agosto, Gustavo deve iniciar especialização em Business and Inovation, com duração de um ano.
A adaptação à nova cultura corre sem dificuldades – o que não o exime de surpresas. A limpeza, a sensação de segurança ao andar na rua e a eficiência dos serviços públicos impressionam o relações públicas que viveu em Porto Alegre por quase 15 anos:
– Ônibus não tem cobrador, dá para entrar por qualquer porta. Nas paradas têm tabelas com os horários. E tudo é respeitado.
VISTO
Quem tem passaporte brasileiro não precisa de visto para entrar na Nova Zelândia e pode permanecer lá como turista ou estudando, por até três meses. Esse visto não permite trabalhar, sob pena de deportação. Já para a Austrália,é possível pedir visto de turista em border.gov.au
VISTO DE ESTUDANTE (para cursos acima de três meses)
A validade do visto de estudante para mais de três meses é proporcional ao período pago do curso, nos dois países, e pode ser renovado. Entre os documentos exigidos estão comprovante de pagamento do curso, garantia de acomodação com endereço e extratos bancários, entre (vários) outros. É possível fazer o procedimento por meio de agências de viagem.
PERMISSÃO PARA TRABALHO
O visto de estudante permite que brasileiros trabalhem durante o tempo que estiverem nesses países. Na Nova Zelândia,podem trabalhar até 20 horas por semana durante o curso.A regra é a mesma na Austrália, com exceção dos alunos de pós que envolvam pesquisa, como mestrados e doutorados.Nesses casos,têm permissão ilimitada para trabalhar no período do visto.
CUSTOS
Os preços são parecidos para os dois países
Cursos de inglês: passagem + visto +curso de seis meses + acomodação para quatro semanas, a partir de R$ 18 mil
Semestre acadêmico: em torno de 22 mil dólares locais,tanto para graduação quanto para mestrado e doutorado.