Viver por quase um ano no espaço definitivamente não é uma missão simples. A diferença da vida que se leva sem a gravidade é enorme. O portal da emissora britânica BBC relatou parte do que pode acontecer a partir da vivência do astronauta norte-americano Scott Kelly, 52 anos, que passou 340 dias sobrevoando o planeta Terra, acompanhado do cosmonauta russo Mikhail Kornienko, 55 anos.
– Estou surpreendido pela diferença entre como me sinto agora, fisicamente, em comparação com a primeira missão em que estive – disse Kelly, em entrevista poucos dias depois de voltar à superfície.
Ele já havia ficado 159 dias no espaço em outra oportunidade, mas, desta vez, garante que as dores nos músculos e articulações do corpo são bem maiores. Apesar de já estar ciente que passaria por isso, se surpreendeu com a hipersensibilidade da pele.
– É uma sensação de ardência sempre que sento, deito ou ando – afirmou o astronauta.
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Isso ocorre em razão da ausência de gravidade no espaço, que fez com que Kelly e Kornienko tenham passado quase um ano sem encostar em nada que gerasse um atrito como o que existe aqui na Terra.
Ele também afirmou que sofre com pequenos problemas de visão, algo normal pela microgravidade, que aumenta o líquido cefalorraquidiano ao redor do nervo óptico. A ausência de microgravidade também reduz a massa muscular e a densidade óssea, o que obriga os astronautas a fazer exercícios com mais frequência no espaço.
Além das dores e sensibilidade, outra modificação no corpo de Kelly chamou a atenção: sua altura. Ele tem um irmão gêmeo, Mark Kelly, cuja altura era a mesma que a dele. Quando voltou, gabou-se dos 3,81 centímetros a mais que o irmão.
– A gravidade se encarregou de colocá-lo no lugar dele – brincou.
No entanto, pôde curtir o tamanho a mais por pouco tempo. Dias depois, sua altura já havia se igualado ao do irmão. Mais uma vez, a explicação para isso está na gravidade, que espichou a pele de Kelly.
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Outra alteração significativa foi na pontaria. Talvez essa seja a mudança mais fácil de ser explicada. No espaço, os astronautas não precisam se preocupar em segurar firme um objeto. É comum que eles soltem as coisas e elas flutuem. Afinal, não há gravidade.
– Fracassei com a primeira coisa que tentei jogar em uma mesa. Tentei jogar basquete e não fiz cesta nenhuma vez. Mas eu já não era um bom jogador – disse o bem-humorado astronauta.
Agora, Scott e Mark Kelly servirão de "cobaia" para pesquisas. Afinal, essa era a intenção da missão: estudar os efeitos biológicos e psicológicos de longas permanências no espaço, com o objetivo de preparar missões habitadas a Marte a partir de 2030.
Antes da viagem à Estação Espacial Internacional ambos já haviam sido submetidos a exames psicológicos e físicos. Isso permitirá a comparação entre o antes e o depois, assim como as diferenças entre seres parecidos – como é o caso dos irmãos gêmeos Kelly.
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* Diário Gaúcho