O Rio Grande do Sul tem, até agora, dois representantes na universidade Minerva, instituição americana que recebe inscrições até esta terça-feira. O primeiro a ser aprovado foi Guilherme Nazareth de Souza, então com 19 anos, que ingressou na primeira turma da instituição em setembro de 2014.
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Desde setembro do ano passado, a porto-alegrense Lara Bach, 18 anos, também faz parte desse seleto grupo de estudantes. Por e-mail, direto da Califórnia, Lara conversou com Zero Hora e relatou um pouco de sua experiência na chamada universidade dos sonhos.
Por que a escolha por uma universidade fora dos padrões das convencionais?
Nossa educação continua a mesma de séculos atrás, mesmo com tanta coisa mudando no mundo, nas nossas vidas, e no mercado de trabalho. A universidade tradicional permite que o professor lecione de maneira confortável para ele, através de palestras e provas. Isso não quer dizer que seja mais confortável para o aluno. A minha geração perde o foco muito rápido, uma aula de 4 horas em formato de palestra não engaja o estudante, e uma prova múltipla escolha não consegue captar o que ele realmente aprendeu. Na sala de aula ao inverso, a proposta da Minerva, o aluno faz todo o estudo antes da aula, e chega preparado para debater e discutir sobre o que aprendeu. O professor acrescenta mais conhecimento para a discussão e media o debate entre alunos, o que gera muito mais aprendizado para nós, pois conseguimos aplicar o que aprendemos em diversas situações. Eu vi que esse ensino é muito eficiente quando comecei a aplicar o conteúdo aprendido fora de sala de aula, até mesmo no meu estágio! Também há muito espaço para o professor dar feedback individual para cada aluno, o que gera ainda mais conhecimento.
O que você estuda na Minerva? Qual a sua rotina?
Ainda estou no primeiro ano, temos quatro cadeiras que misturam assuntos de matemática, estatística, filosofia, sociologia, ciências naturais e comunicação. São oito aulas por semana que vão das 9h às 12h30min. No próximo ano, eu vou decidir meu Major (curso). Podemos escolher até dois Majors: Ciências Naturais, Ciências Sociais, Ciências da Computação, Negócios e Artes e Humanidades. Nos últimos dois anos, focamos em assuntos (concentrations) que queremos estudar dentro de cada Major. Geralmente, eu acordo para a aula, passo a tarde engajada no meu estágio (eu trabalho para a Minerva como Outreach, conversando com pessoas interessadas na universidade) e em atividades na cidade, como trabalho voluntário, exposições, museus etc. Vou à academia, e de noite eu estudo para as aulas do dia seguinte. Acho que a nossa rotina exige bastante organização, temos uma carga grande de leituras e atividades para aulas, mas sempre sobra tempo para passear por San Francisco e socializar com o pessoal do dormitório.
Os semestres são divididos em disciplinas (da forma como ocorre no Brasil)? Você tem aula todos os dias?
Professores e colegas mudam a cada semestre, mas as aulas continuam as mesmas em cada ano. Por exemplo: agora no meu primeiro ano, fiz quatro cadeiras no primeiro semestre e as mesmas no segundo, mas exploramos outros conteúdos, e mudamos de professor e colegas (como as aulas dependem de peer-learning, ou seja, aprender com os colegas por meio do debate, é importante variar as turmas a cada semestre). São duas aulas por dia, de uma hora e meia cada, de segunda à quinta.
Os estudantes são incentivados a desenvolver atividades extracurriculares?
Muito. Não temos aulas nas sextas justamente para desenvolvermos projetos na cidade. Tenho colegas que fundaram clube de artes, clube de empreendedorismo, clube de engenharia, e conseguiram parcerias em San Francisco que oferecem recursos e apoio. A Minerva também oferece co-curriculars nas sextas, que são atividades opcionais onde o aluno pode aplicar o que aprendeu fora de sala de aula: eles convidam pessoas, empresas, organizações etc para conversarem e fazerem workshops com os alunos. Um dia, fomos na Ópera de San Francisco aprender sobre música, um conteúdo que estudamos na nossa aula de comunicação multimídia, e criamos nossas próprias letras e melodias com cantores de ópera de San Francisco. Foi muito bacana.
Em algum momento você sentiu/sente falta da sala de aula?
Não, acho a plataforma online muito simples de usar e funcional. Consigo ver o rosto dos meus colegas e as reações deles ao vivo, não tem gente conversando e atrapalhando a aula, eu consigo me focar melhor na aula em si. Sempre podemos assistir às aulas de cafés, offices, outros lugares na cidade com wi-fi. Bom, então, quem curte um agito pode ter aulas de lugares diferentes todo dia. E sempre podemos sentar um do lado do outro para termos aula juntos. Como moramos juntos, eu nunca sinto que estou distante das pessoas, sempre vejo o pessoal pelos corredores ou no refeitório. Acho que não se perde muita coisa com aulas online, como a maioria das pessoas pensam. É importante lembrar que nossas aulas são ao vivo com câmera e áudio. Muita gente pensa que o conteúdo está no site e é só acessar a qualquer momento, mas não é como um curso online comum. Nós todos estamos online ao mesmo tempo. Sem contar que a plataforma online permite aulas pequenas, o que faz o professor ter um contato muito maior com o aluno do que aulas presenciais com 60 alunos.
Os alunos da Minerva moram todos juntos? Como funcionam viagens?
Sim, a Minerva oferece dormitórios em cada uma das cidades, já incluso no preço da universidade. Moramos juntos em cada uma delas, mas não precisamos viajar juntos. Não vamos diretamente de uma cidade a outra, temos sempre um período de férias entre cada semestre. Então, podemos decidir se voltamos para casa, se vamos direto para a próxima cidade, fica a critério do aluno.
De que maneira você acredita que a Minerva pode fazer diferença na sua vida?
O currículo da Minerva ensina habilidades que poderei usar e aprimorar em qualquer área que eu decida trabalhar no futuro, além dos professores e funcionários da Minerva serem bem conectados com o mercado e terem vários contatos bacanas que eles dividem com os alunos. Morar com pessoas de mais de 30 países diferentes é uma experiência muito bacana que mudou minha vida também, pois aprendi diferenças culturais e valores que eu não teria como absorver se ficasse morando só em Porto Alegre. Morar em sete países diferentes vai permitir que eu entenda situações e conflitos com novas perspectivas, e vai me ajudar a crescer, ganhar meu próprio dinheiro, organizar minhas coisas. Além de tudo, a Minerva vai permitir que eu me forme não só como profissional, mas como aluna do mundo. Nós nunca paramos de aprender.
O que você pretende fazer após essa experiência? Quer voltar para o Brasil?
Ainda não sei, e acho que isso reflete muito os alunos da Minerva. Somos curiosos em diversas áreas, não temos como dizer com certeza no que queremos atuar para o resto da vida, ou em que país queremos morar para sempre. Quero voltar ao Brasil para tentar aplicar aí tudo que aprenderei ao redor do mundo, acho que o país se beneficiaria muito com os profissionais que a Minerva forma, por isso quero muitos brasileiros sendo aceitos nos próximos anos.