Na prova de redação do vestibular 2016 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os candidatos tiveram de refletir sobre a leitura em meio ao atual processo de digitalização de livros. Unindo tecnologia e literatura, o tema "O livro na era da digitalização do escrito e da adoção de novas ferramentas de leitura" convidou os vestibulandos a pensar, entre outras implicações, sobre se o formato – físico ou virtual – tem impacto na leitura de uma obra.
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Entre os textos de apoio, um era uma charge de Marco Aurélio (confira abaixo) que mostrava a convivência entre um livreiro e pessoas com seus dispositivos digitais na Feira do Livro de Porto Alegre – sugerindo certa redução do protagonismo do livro. Outro texto citava o livro "Não Contem com o Fim do Livro", de Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, que versa sobre a história e o futuro da literatura. A Amazon, desenvolvedora do leitor de livros digitais Kindle, foi lembrada em uma coluna de Nilson Souza, também de Zero Hora, que mencionava a inauguração da primeira loja física da livraria online Amazon Books.
O futuro do livro no mundo contemporâneo foi considerado um tema inusitado, mas pertinente, pela professora do Universitário Maria Tereza Faria.
– A UFRGS pegou bem o espírito da atualidade, levando o aluno a de fato que perceber que essa se trata apenas de uma mudança de mídia, e não de conteúdo. A leitura digital é uma questão de adaptação, muito pertinente à juventude que convive com essa nova realidade.
A proposta de redação neste ano traz alguma semelhança com o tema de 2015, que também levava à reflexão sobre o impacto da tecnologia ao perguntar "o que é amizade nos dias de hoje?".
– Parece um pouco batido, de novo a questão virtual. Mas acho que a garotada, sempre que toca nessa questão, consegue se posicionar. O mais importante dessa discussão é enfatizar a importância da leitura, independente do instrumento – avalia a professora do Unificado Luísa Canella.
Alunos consideram tema bastante atual
Na saída do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, muitos candidatos consideraram o tema "fácil" por tratar de um assunto com o qual eles convivem cotidianamente. Disputando uma vaga no curso de Teatro, Daniel Merello, 17 anos, disse que não teve dificuldades para escrever a redação.
– Foi tranquilo porque é algo que faz parte da nossa realidade. Eu acho que o livro é o mesmo, independente do formato.
O vestibulando Jonatas Burger Flach, 16 anos, que se inscreveu para uma vaga em Engenharia Mecânica, defendeu que a digitalização representa a evolução dos livros. Ele próprio adquire obras nos diferentes formatos.
– Cada um tem seu apelo, e eu mantenho tanto uma biblioteca física quanto virtual. Acho que esse é um tema bastante atual, com que todo mundo pode se identificar.
A redação é avaliada em duas etapas, analítica e holística, por dois examinadores. Caso haja discrepância entre as notas, o texto é analisado por um terceiro examinador, que irá ponderar e equilibrar as duas avaliações anteriores.
Além da redação, os candidatos tiveram de responder a 25 questões de Língua Portuguesa na prova desta segunda-feira. O vestibular continua na terça com Biologia, Química e Geografia. Na quarta-feira, última dia do processo seletivo, é a vez de História e Matemática.
* Colaborou Júlia Burg