Uma das mostras da Bienal C - evento cultural organizado pela Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa que ocorre concomitantemente à Bienal do Mercosul -, a exposição Descartáveis: Consciência, Civilidade e Criatividade, aberta até o dia 27 deste mês no Memorial do Ministério Público, reúne 51 obras que representam o consumo de álcool por adolescentes. Os trabalhos foram produzidos por mais de 800 alunos de escolas públicas e particulares do Estado.
Instigadas pelo Fórum do Álcool (entidade que organiza fiscalizações e encontros mensais abertos ao público sobre o tema), todas as instituições de ensino do Rio Grande do Sul foram convidadas a participar da ação, por meio de um edital lançado em março. Dezesseis aceitaram o desafio.
- São painéis medindo um metro por um metro. Dentro das propostas, tivemos desenho, colagem, fotografia - relatou Kátia Costa, presidente da Associação Chico Lisboa.
Cada obra foi realizada por uma turma. Uma das instituições participantes foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental de Surdos Bilíngue Salomão Watnick. A professora de Artes e Educação, Rossana Sastre Sacco, conta que os dois grupos que participaram do projeto se engajaram bastante:
- Eles convivem muito com essa realidade, então foi bem interessante. Na criação, trabalhamos com a questão da construção de formas, uso das cores, sempre usando material descartado.
Para Maria Regina Fay de Azambuja, coordenadora do Fórum do Álcool, a exposição proporciona que as crianças e adolescentes se expressem. Além disso, a iniciativa também incita o público a refletir sobre o assunto:
- É uma forma de poder ouvir os adolescentes e as crianças por meio da arte e descobrir como eles veem essa questão do álcool.
Aluna do Ensino Médio no Colégio Anchieta, Isabella Bomfiglio, 15 anos, comenta:
- Quando se faz um trabalho de conscientização sobre prevenção ao uso e abuso de álcool por crianças e adolescentes, aprofundamos nossas ideias, pensamos e geramos nossa opinião sobre o assunto. Não seremos nós a mudar a ideia das pessoas de que beber é bom, mas elas poderão saber, de forma mais clara, o que pode acontecer, tendo mais esclarecimentos sobre o assunto.
A voz dos artistas: duas alunas explicam as obras criadas por suas turmas
"A ideia do nosso trabalho veio da percepção de que o álcool pode "manipular" as pessoas, podendo causar até a morte. Utilizamos recortes de revistas, cujas figuras tiveram os olhos vendados por tarjas pretas, mostrando momentos deixados para trás por pessoas que fizeram uso do álcool. Tentamos representar as pessoas do jeito mais mórbido possível. Por isso, utilizamos botões nos olhos, como se elas já não enxergassem mais, empregamos as cores preto e vermelho, com o objetivo de causar um impacto visual."
Isabella Bomfiglio, 15 anos, da 1ª Série do Ensino Médio do Colégio Anchieta
"Cada um foi dando uma ideia, então o resultado foi pensado em conjunto. Tivemos várias aulas de debate e pesquisamos bastante. Todo mundo interagiu, participou. Nós usamos tampinhas de garrafa e de cerveja, lacre de latinha, papel e tinta. Fizemos uma garrafa de álcool indo diretamente para o cérebro, para representar os malefícios da bebida. Acho que o trabalho motivou a turma, deu um ânimo, e o pessoal se dedicou mais. Até porque temos familiares e amigos que tiveram problemas com o álcool."
Glhenda Amaral, 15 anos, do 9º ano da Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu
A exposição Descartáveis: Consciência, Civilidade e Criatividade fica em cartaz até 27 de novembro no Memorial do Ministério Público do Rio Grande do Sul (Praça Marechal Deodoro, 110, em Porto Alegre). Visitação de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h. Entrada franca.
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