O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mobiliza todos os anos milhões de estudantes brasileiros, interessados na nota que poderá influenciar a continuidade dos estudos após a conclusão da educação básica, e também as instituições onde eles estão matriculados. A partir desta segunda-feira, devem ser divulgados, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), os resultados finais do Enem por escolas, que demonstram o desempenho médio dos alunos nas provas realizadas em novembro de 2014. Gestores podem observar em que áreas há deficiências e melhora ou piora na performance em relação a anos anteriores.
Nos exames de 2013 e 2012, o Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) conquistou o primeiro lugar geral no Rio Grande do Sul, entre estabelecimentos públicos e privados. Jaime Peixoto Stecca, vice-diretor do Politécnico, afirma que o feito é consequência do trabalho realizado na instituição. Os aspirantes à matrícula enfrentam um competitivo processo de seleção - no ano passado, foram 20 candidatos por vaga -, e os professores, estimulados a cursar mestrado e doutorado, trabalham em regime de dedicação exclusiva.
- O nosso aluno é altamente qualificado. Ele projeta a sua escola como de elite. Isso demonstra que a escola pública também é de qualidade - destaca Stecca. - A nota positiva no Enem é uma publicidade muito grande, mas não é o norte das nossas ações. Estamos sempre avaliando o que é bem feito, o que pode ser melhorado - completa o vice-diretor.
Melhor resultado do Sinodal Barão do Rio Branco na história da prova, o 10º lugar obtido entre todas as escolas gaúchas na prova de 2013 foi comemorado pelo colégio de Cachoeira do Sul com a confecção de faixa e destaque na imprensa local. Ex-alunos, incluindo radicados no Exterior, telefonaram para cumprimentar a equipe. A diretora, Leatriz Voigt, ressalta a importância dada à leitura em todas as séries e o incentivo para pesquisas na biblioteca de 15 mil volumes.
- Leitura e interpretação são fundamentais para entender todas as disciplinas. Nossos alunos leem muito. O livro nunca vai perder o seu valor - diz Leatriz.
Escolas que verificam declínio nos números procuram localizar os problemas e pensar em medidas capazes de retomar as colocações perdidas. Depois do segundo lugar estadual em 2011, o Colégio Leonardo da Vinci - Alfa, de Porto Alegre, caiu para o terceiro em 2012 e para o 14º em 2013, o que motivou reflexões. Margareth Galant, diretora, prefere não revelar o plano de recuperação adotado, alegando que a competição é grande entre as concorrentes, mas garante que a média no exame de 2014 foi melhor (os gestores tiveram acesso às notas preliminares de suas instituições no início do mês).
- É muito difícil ser o primeiro todos os anos. Os alunos variam, e não fazemos nenhuma prova de seleção. Depois que eles entram é que vem o trabalho de homogeneização do grupo - explica Margareth. - Neste ano, existe grande chance de ficarmos entre os primeiros de novo. É isso que queremos. Nossos pais são muitos exigentes, cobram muito, querem que o filho seja aprovado na UFRGS - acrescenta a diretora, que na semana passada estava no Rio de Janeiro visitando colégios bem colocados no ranking nacional do Enem.
Exame pode apontar áreas deficientes no currículo
Especialistas divergem quanto à aplicabilidade e à relevância dos resultados do Enem por escola. Enquanto alguns desencorajam a competição e a elaboração de rankings, outros acreditam que os números podem auxiliar a localizar áreas deficientes no currículo das instituições.
Bruno Eizerik, presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS), diz que a entidade não observa com lupa as médias finais da prova, tampouco organiza uma listagem classificatória para identificar melhores e piores. Para Eizerik, o Enem é só mais um indicador, que deve ser considerado em conjunto com outros tantos, como proposta pedagógica e instalações.
- Não é porque a escola está bem ranqueada que vai ser uma boa escola para o filho de determinada família. Claro que não podemos fechar os olhos e dizer que o Enem não existe, mas não é a única coisa que o pai deve levar em conta na matrícula. Sempre temos que olhar essas informações com um filtro - recomenda o presidente.
A Secretaria Estadual da Educação (Seduc) tem a intenção de compilar todos os resultados do Enem a partir de 2010 para fazer um diagnóstico e, então, elaborar políticas que contemplem as necessidades de cada região. Para Salete Dossa Albuquerque, coordenadora de avaliação externa do Departamento de Planejamento da Seduc, é preciso construir algo positivo a partir dos resultados ruins, que acabam representando um peso para os alunos que frequentam as instituições mal cotadas.
- Não podemos dar tiro no escuro. Temos que analisar também o fator socioeconômico. Sabemos das oportunidades que alguns alunos têm e outros não têm. Vamos procurar ações que ajudem a melhorar os indicadores - diz Salete.
Doutor em Educação e professor da Universidade de Brasília (UnB), Remi Castioni ressalta que o Enem é um recorte - trata-se da análise do desempenho de um conjunto de alunos que frequentava a instituição em determinado momento. Em um país como o Brasil, onde ainda é curta a trajetória dos mecanismos de avaliação da educação, trata-se de um indicador importante sobre o nível médio de conhecimento, mas o economista destaca que o processo de ensino e aprendizagem envolve outros fatores e personagens, não sendo uma responsabilidade exclusiva do aluno. Feitas as devidas ressalvas quanto ao valor da prova, Castioni recomenda que direção, professores, pais e alunos se debrucem sobre as notas para tentar identificar possíveis problemas e criar alternativas:
- O Ensino Médio concentra um conjunto enorme de conteúdos. Os estudantes às vezes não sabem por que estudam tantos conteúdos, e os professores não sabem como tornar esses conteúdos atraentes. Se a escola puder trabalhar a aplicação prática desses ensinamentos, isso pode atrair o desejo dos estudantes, e eles podem gostar mais das disciplinas.
Como a escola pode aproveitar as notas
- Ao ter acesso à média dos resultados obtidos por seus alunos nas cinco provas do Enem (ciências humanas, ciências da natureza, linguagens e códigos, matemática, redação), as escolas podem identificar onde há deficiências e melhora ou queda no desempenho em relação a edições anteriores.
- A partir daí, direção, equipe pedagógica e professores, com o auxílio de pais e estudantes, têm condições de fazer uma análise e estabelecer um plano de ação. Oficinas, palestras, saídas a campo e capacitação da equipe docente podem estar entre as medidas adotadas.
- O Ensino Médio concentra grande número de disciplinas e conteúdos, e os tópicos de mais difícil assimilação por parte dos alunos merecem tratamento especial. O exame pode ser um bom termômetro.
- É importante lembrar que a prova reflete não só as habilidades e o conhecimento dos estudantes. Trata-se de um retrato do cenário onde esses jovens estão inseridos. O processo de ensino e aprendizagem sofre interferências de diversos personagens e também do contexto socioconômico. Um adolescente que cursa uma das melhores escolas privadas da cidade não pode ser comparado ao estudante da mesma série matriculado na instituição de um dos bairros mais pobres.
- As notas do Enem são divulgadas no ano seguinte, meses após o teste. A escola deve estar preparada para verificar a médio e longo prazo o impacto das mudanças implementadas em busca de melhores resultados.
O que avaliar antes de fazer a matrícula dos filhos
- Cuidado para não fazer simplificações. Rankings e resultados de avaliações são apenas um dos aspectos a serem considerados na hora de escolher o colégio onde matricular seus filhos.
- Os valores da instituição de ensino devem estar de acordo com aqueles priorizados pela família.
- Avalie a proposta pedagógica oferecida. Faça comparações entre escolas.
- Solicite uma visita para conhecer salas de aula, biblioteca, pátio e laboratórios.
- Busque referências com pessoas de confiança.
Em vídeo, confira algumas dicas bacanas para as provas do Enem: