Texto a giz no quadro, cópia no caderno e resolução de exercícios. A fórmula clássica adotada pelas escolas está em transformação: a folha de papel pode dar lugar ao tablet, e a explicação do professor ganha ares de cinema com projeções em 3D. A aposta nesse tipo de recurso ocorre em qualquer etapa, mas, no Ensino Médio, costuma facilitar a gestão do professor.
- O bônus em utilizar a tecnologia é maior que o ônus. No Ensino Médio, os estudantes está mais maduros, dá para ser mais direto e indicar os momentos corretos de usar o smartphone - afirma Cíntia Inês Boll, professora da Faculdade de Educação da UFRGS e coordenadora da área de Tecnologia em Educação do Departamento de Estudos Especializados.
O uso de aplicativos de interatividade, redes sociais e aparelhos de alta resolução estão dentro das salas mais modernas.
- A transição do modelo de educação está acontecendo, mas deveria ser mais rápida. Os estudantes aprendem de forma mais dinâmica que antigamente - opina Carlos Leandro de Oliveira, professor de física do La Salle Santo Antônio.
Dados do TIC Educação 2013, pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras feita pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostram que o uso de recursos digitais para o preparo de aulas ou em atividades com os alunos já é comum entre docentes (96%). Entre os conteúdos mais acessados pelos educadores, estão ilustrações, fotos, textos, questões de provas, vídeos, filmes e animações. Em menor medida, foram mencionados jogos e softwares.
- Colocar um vídeo do Youtube ou power point já é de uso comum. É o básico. Trabalhando com as ferramentas certas, dá para fazer imersão na tecnologia com a turma. O mundo deles é mais rápido do que a sala de aula - diz Miguel Beck, professor do Colégio Americano.
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Um dos maiores desafios é o uso dos aparelhos móveis, segundo Cíntia. Para a pesquisadora, é preciso deixar de lado preconceitos:
- Aprendizagem e ensino estão ligados ao compartilhamento e à colaboração. Se há uso da tecnologia móvel na educação, as chances de evasão escolar, por exemplo, diminuem. Integrar e captar a atenção do aluno faz toda diferença.
Atraindo o foco dos alunos
Aluna da segunda série do Ensino Médio do Colégio Farroupilha, Victória Machado Scheibe, 16 anos, sente-se ainda mais atraída pelo conteúdo quando pode ter acesso em seu smartphone:
- Tenho mais facilidade para focar a atenção. A aula fica diferente e mais dinâmica, foge do comum.
Já o colega Bernardo Costa de Avila, 15 anos, acredita que a tecnologia é uma forma de ir além no conteúdo, por meio da pesquisa.
- É inovador e, ainda, economiza papel. Curto usar o celular para responder questões nos aplicativos. Quando o professor libera, costumo consultar o Google para me aprofundar - conta.
Caso não seja usada para o estudo, a tecnologia pode atrapalhar a classe. O professor de biologia Maurício Marczwski, do Colégio Anchieta, aponta o uso indevido do celular durante a aula como um dos principais problemas.
- Quando a tecnologia é bem usada, ela enriquece, principalmente se os alunos a utilizam. Quando não é, atrapalha - diz.
- Falta mais planejamento específico e prático sobre o uso da tecnologia em aula. Pode ser que, no futuro, se tenha mais digital e menos impresso. Mas hoje, o problema é inserir esses elementos. É o primeiro passo - pondera Cíntia.
3D para aprender
Na escola Mario Quintana, em Pelotas, as imagens que ajudam o aluno a fixar o conteúdo não se limitam a desenhos no quadro ou a animações em vídeo. A instituição conta com uma sala específica para projeções em 3D.
- É como se fossem filmes curtos sobre a matéria que podem ser usados em diferentes disciplinas - afirma o professor de física Rogério Albandes.
Todos os alunos colocam os óculos especiais e acompanham as produções. De origem indiana, essa tecnologia não pretende substituir a presença do professor. Albandes, por exemplo, ensinou o ciclo de carnot (termodinâmica) a partir desse recurso.
- É uma forma de economizar tempo e gerar mais discussão. Vendo em três dimensões, é mais fácil de compreender - destaca.
Visão ampliada
O que é quase invisível pode ficar gigante durante as aulas do Colégio Marista Rosário. Esse ano, a escola começou a usar em sala de aula a Câmera de Documentos. No formato de uma super webcam com zoom, o dispositivo permite ampliar e projetar a imagem de algo pequeno, como uma joaninha, por exemplo.
- Há a possibilidade de gravar áudio e vídeo para disponibilizar depois para os alunos. Dá para ver as estruturas do objeto bem de perto - conta Fabricio
Scheffer, professor de física do Rosário e responsável pelo canal youtube.com/Fabrisfisica.
O docente costuma utilizar o instrumento quando quer mostrar para a turma algo que, a olho nu, não seria visto com facilidade por todos ao mesmo tempo. Para ensinar a mexer em um aplicativo sobre o gasto de energia em casa, usou o recurso.
- Facilita o trabalho do professor e ajuda os alunos. É uma ótima opção - diz.
Mais populares, as lousas interativas também são utilizadas na escola. Entre as principais facilidades, estão a função touch e a caneta marcadora para destacar o que for mais importante.
Turma em rede
Carlos Leandro de Oliveira, professor de física do La Salle Santo Antônio, aposta em grupos no Facebook para criar um canal direto com os alunos. Em cada turma na qual leciona, o educador tenta manter um contato extraclasse com os estudantes.
- Foi uma iniciativa minha porque os alunos não entravam em sites específicos com conteúdos alternativos. Usar o Facebook é um recurso que dialoga mais com o dia a dia deles - afirma Oliveira, que também mantém um canal no YouTube com resolução de exercícios.
A página serve para avisos diários, como não esquecer o tema da próxima aula. Ali, o professor também posta materiais complementares das matérias trabalhadas em aula.
- O acesso aos smartphones é feito a partir de combinações. Quando tem aula expositiva, não é legal. Se for o momento de fazer uma pesquisa, é bem-vindo. É preciso ter diálogo - ressalta.
Aula de cliques
No laboratório, o professor de biologia Maurício Marczwski, do Colégio Anchieta, desafia os alunos a fazerem fotos por meio da lente de um microscópio com seu próprios smartphones. O envolvimento do grupo com a atividade é imediato.
- As fotos servem para compor trabalhos, ajudar no estudo e, ainda, podem ser compartilhadas entre os alunos - diz Marczwski.
Por ser uma área que utiliza muitas figuras, o professor também incentiva a pesquisa por conteúdos visuais nas aulas.
- É uma forma de estimular a curiosidade e gerar discussão sobre o tema - opina.
Confira 10 aplicativos para estudar
Outro hábito cada vez mais comum é tirar fotos de slides, textos e imagens reproduzidas pelos professores. A prática é aceita por muitos docentes, como Carlos Leandro de Oliveira, do La Salle Santo Antônio:
- Não me incomoda tirar fotos ou gravar vídeos na minha aula. Às vezes, os desenhos feitos pelo professor no quadro demoram para serem reproduzidos. Eu incentivo essa mudança de perspectiva.
Estudo interativo
O uso de aplicativos de celular para criar um ambiente mais interativo e dinâmico tem sido uma das principais apostas dos professores mais conectados. Nas aulas de biologia de Christian Sperb, do Farroupilha, o recurso mais usado é o Nearpod. Os alunos podem acompanhar a apresentação de slides preparada pelo professor em seus próprios smartphones e, ainda, responder a perguntas instantaneamente. Logo após, o educador tem um quadro completo com o número de acertos e erros dos alunos.
- Já trabalhei zoologia, botânica e vegetais, entre outros temas. É uma forma mais dinâmica de passar a matéria - conta Sperb.
Fabricio Scheffer, professor de física do Rosário, escolheu trabalhar com o Socrative. Por meio do app, ele cria perguntas para serem respondidas pelos alunos em seus celulares. O meio é muito utilizado para fixar conteúdo.
- A interação dos alunos é o mais importante. Eu desenvolvo a matéria de forma tradicional e, depois, testo os conceitos. Também é uma maneira de os mais tímidos participarem - avalia.
Outras opções são os aplicativos Khan Academy e Showme, utilizados pelo professor de matemática Miguel Beck, do Americano. O primeiro traz videoaulas, exercícios e dicas no estilo de um jogo. Já o segundo funciona como um quadro para a resolução de exercícios, que, depois, vira uma animação - Beck resolve a questão e faz gravação de áudio e vídeo na sala de aula para depois disponibilizar aos alunos:
- Funciona como estimulo para eles usarem os aplicativos e seguirem estudando fora da sala.