A UFRGS decidiu manter o vestibular específico para estudantes indígenas mesmo com a criação da lei de cotas, em que os índios concorrem a vagas no Ensino Superior com candidatos que se declaram pretos ou pardos. Esse acesso diferenciado e mais fácil - os alunos prestam provas somente de português e redação e têm de apresentar certidão de nascimento indígena - tornou a instituição gaúcha atrativa para estudantes dessas etnias de todo o país.
O diretor do Departamento dos Programas de Acesso e Permanência e vice-coordenador de Ações Afirmativas da universidade, Edilson Nabarro, diz que, neste ano, notou-se um aumento na procura de indígenas de outros Estados pelo vestibular específico - entre eles Goiás, Mato Grosso do Sul e Pernambuco.
Indígenas encaram desafios para obter o diploma nas universidades
UFSM projeta moradias para estudantes indígenas
- Com a lei de cotas, muitas universidades eliminaram as seleções específicas. Como há autonomia entre as instituições, a UFRGS manteve e ainda oferece medidas compensatórias para que o aluno permaneça - diz.
Outras federais também têm se destacado em suas ações afirmativas voltadas às comunidades indígenas. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) comemorou nesta semana a formatura da primeira turma de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, curso criado em 2011 e fundamentado nas questões ambientais e territoriais que envolvem os índios. Entre os formandos, estudantes guaranis, caingangues e laklãnõ/xokleng, de aldeias de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
No oeste catarinense, em Chapecó, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) começou, em 2013, a tratar da criação de um campus indígena da instituição. A reitoria se reuniu com lideranças dos índios do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul e com órgãos como a Fundação Nacional do Índio (Funai) para definir as bases do projeto.
Foram definidos critérios para que as aldeias abrigassem o campus e uma equipe especializada para avaliar as terras pré-selecionadas para receber a estrutura. Segundo o diretor de Políticas de Graduação da UFFS, Elsio José Corá, sete terras foram consideradas aptas para receber os avaliadores. Cinco ficam no RS: Ligeiro, Inhacorá, Guarita, Nonoai e Serrinha.
Em nome da cultura e da biodiversidade
A equipe está analisando os dados para apresentar à reitoria e às lideranças indígenas o resultado das visitas técnicas. Os primeiros cursos já foram escolhidos, caso o Ministério da Educação acene positivamente para criação do campus: Agronomia (ênfase em agroecologia), Ciências Biológicas, Enfermagem, Administração, Pedagogia e Licenciatura Indígena.
- Acreditamos que a criação valorizará a cultura, o conhecimento tradicional e a biodiversidade das terras e dos povos indígenas - destaca Corá, ressaltando que a UFFS tem, desde 2013, uma política de ingresso e permanência específicos para os índios, que já são 148 nas graduações da universidade.
Em vídeo, alunos indígenas falam dos desafios para obter o diploma