Um grupo de cientistas gaúchos tenta prever, na cidade de Lajeado, os efeitos das mudanças climáticas pelas quais a Terra passará nas próximas décadas. Em parceria com institutos de Alemanha, Índia, África do Sul e Brasil, os pesquisadores analisam fragmentos de carvão vegetal com mais de 250 milhões de anos para desvendar o que aconteceu em uma época em que também houve grande aquecimento global, o período Permiano.
- Para entender as mudanças climáticas, queremos utilizar como modelo o que já ocorreu milhões de anos atrás. Em um cenário de elevação da temperatura global, temos de entender como o planeta reagiu diante de situação semelhante anteriormente - explica o coordenador do projeto e professor da Univates, André Jasper.
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A fonte para entender como a Terra enfrentou variações tão bruscas de temperatura está em rochas encontradas na bacia geológica do Paraná - que se distribui pelos Estados do Sul do país, São Paulo e Mato Grosso, além de países como Argentina, Uruguai e Paraguai.
O período analisado, segundo Jasper, durou cerca de 50 milhões de anos e teve uma elevação da temperatura média global de aproximadamente 12ºC - o que ocasionou diversos incêndios. Até o final do período, estima-se que 90% das espécies tenham sido extintas do planeta.
Conforme o pesquisador, desde que começaram as medições, em 1880, a temperatura da Terra subiu 0,6ºC, número considerado normal por Jasper. Ele explica que, nesse período, as aferições passaram do método analógico para o digital, e as alterações podem ser somente fruto de uma margem de erro.
Descoberta de fragmentos é recente
Somente em 2006 é que foram descobertos carvões vegetais no Estado para elucidar o passado de boa parte do Hemisfério Sul. O território rio-grandense era tomado por calotas polares no início da época estudada. Ao seu final, não havia mais sequer neve por aqui. A chave do estudo está em saber como os humanos podem enfrentar as bruscas variações climáticas.
Conheça os procedimentos do estudo:
- Os pesquisadores saem a campo nas cidades de Encruzilhada do Sul ou Minas do Leão. Locais de Santa Catarina e do Paraná também são visitados pelo grupo. É colhido material de rochas sedimentares
-Em laboratório, os fragmentos são analisados em um microscópio que amplia de 10 a 40 vezes o tamanho da amostra
-Com a ajuda de pinças, espátulas e outros instrumentos, o carvão vegetal é extraído da rocha
-O carvão vegetal é explorado em um microscópio eletrônico - mais moderno e de ampliação de mil a 3 mil vezes em relação ao tamanho original
-As características do fragmento são definidas. Detalhes como a vegetação que foi atingida e a intensidade do fogo são verificados
-Os resultados são discutidos entre os integrantes da pesquisa e comparados a dados de outras partes do planeta