Um dos inventores dos nanosatélites - satélites de pequeno porte - está no Brasil para avaliar cinco projetos em desenvolvimento e que devem ser mandados ao espaço neste ano. Jordi Puig-Suari, professor de engenharia aeroespacial da Universidade Politécnica da Califórnia, vai fazer a revisão crítica dos trabalhos.
Dos nanosatélites que estão sendo desenvolvidos por aqui, o primeiro a ser colocado na órbita este ano será o NanosatBR1, em 1° de julho, por um foguete russo. Ele testará o comportamento de placas e circuitos em ambiente espacial e fará experimentos científicos de medição da ionosfera para auxiliar estudos sobre meteorologia e telecomunicações.
Os demais satélites serão colocados em órbita em setembro, por meio de uma parceria com o Japão, a partir da Estação Espacial Internacional (ISS). Todos estão em fase de produção em diversas universidades e institutos brasileiros - como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), de Santa Maria (UFSM), a UnB, a Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Com peso entre 1 e 5 quilos, os nanosatélites têm diversos tipos de aplicações. Em geral, são usados para sensoriamento remoto da superfície terrestre, por meio de fotografias de alta resolução, para a coleta de dados meteorológicos e hidrográficos, na medição do desmatamento, das irradiações atmosféricas e outros tipos de experiências científicas.
Ao desembarcar no país, Puig-Suari falou das vantagens da tecnologia em relação aos satélites normais.
- Antes de tudo, eles têm menor custo e, pela menor dimensão, é mais barato, fácil e rápido colocá-los em órbita. São mais fáceis de serem operados e o mais importante: têm uma engenharia de sistema mais integrada - comentou.
Apesar de pequenos, os nanosatélites têm todas as partes dos grandes satélites: antenas, comunicação por rádio, sistema de controle de energia, painel solar, estrutura (uma espécie de esqueleto do satélite), computador de bordo, sistemas de posicionamento e de propulsão. A diferença é que todas elas estão em apenas um compartimento.
Geralmente, os nanosatélites são mais baratos também por não usarem equipamentos específicos para satélites, e sim aqueles que são encontrados com mais facilidade no mercado. Eles não são feitos para durar muito mais tempo do que os satélites de maior porte, mas têm melhor custo-benefício.
Um dos nanosatélites brasileiros é o Projeto Serpens, que está sendo construído na AEB e custará R$ 3 milhões - valor que inclui os gastos com o satélite, quatro estações em terra (postos de comando), 20 sensores que enviarão dados e se comunicarão com o satélite a partir de diversos pontos espalhados pelo país, além da instalação de um laboratório na AEB.
- Esses satélites tornam o acesso ao espaço mais simples. Com isso, o projeto avança mais rapidamente e, no caso do Serpens [Sistema Espacial para Realização de Pesquisas em Experimentos com Nanossatélites], isso ajudará na preparação de estudantes - acrescentou o pesquisador.
É esse estímulo o que mais empolga o coordenador de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Agência Espacial Brasileira (AEB), Jean Robert Batana.
- O Projeto Serpens vai desmistificar a cultura espacial das universidades que têm o curso de engenharia aeroespacial. Os resultados e conhecimentos estimularão mais universidades e escolas, fazendo com que o Brasil entre em um novo patamar da atividade espacial - diz Batana.
A velocidade com a qual as tecnologias são desenvolvidas é outro ponto que favorece os nanosatélites, podendo, inclusive, diminuir as diferenças com outros países já que, com elas, novos pontos de partida surgem a todo momento.
- Vislumbramos, em um futuro próximo, vários jovens criando pequenas empresas para fornecer componentes e estruturas ao mercado. E vamos recuperar um pouco da inteligência perdida em Alcântara - acrescentou Batana.
Segundo ele, esse projeto envolve mais de 100 estudantes de diversas universidades federais brasileiras.