Geralmente, pesquisas de Física começam com um problema conhecido. Existem surpresas, é claro, mas elas não costumam vir de vídeos na internet, como aconteceu no caso da misteriosa fonte de corrente.
Tudo começou com Steve Mould, apresentador de um programa de Ciências na Inglaterra. Mould, que possui mestrado em Física pela Universidade de Oxford, parece ser o descobridor da fonte de corrente, que ele demonstrou em um vídeo espantoso publicado online. No clipe, ele puxa a ponta de uma comprida corrente de esferas de dentro de uma jarra de vidro. Quando solta a ponta, a corrente continua se derramando para fora do vidro por conta própria, como água ou gasolina sendo extraída de um tanque.
Somente isso já seria suficientemente interessante. Entretanto, a verdadeira surpresa é que a corrente não apenas escorre pela borda do vidro; enquanto cai, ela se ergue em uma curva, como uma fonte de água.
- Descobri isso por acidente. Eu estava procurando por um modelo físico de um polímero (uma molécula longa) - afirmou o apresentador durante uma entrevista.
Ele achou que uma corrente de esferas poderia funcionar, e no processo de investigar essa possibilidade, ele viu uma demonstração de contas de plástico jorrando para fora de um recipiente, caindo por cima da borda.
- Eu pensei, 'Quero reproduzir isso, mas acho que metal pode ter um visual melhor'.
Ele experimentou, e para sua surpresa, a corrente se ergueu como uma cobra encantada. O vídeo, publicado há cerca de um ano, tornou-se viral, e John Biggins, um físico de Cambridge, o assistiu.
Ele vinha conversando com outro físico de Cambridge, Mark Warner, sobre um projeto em que Warner estava trabalhando, um curso online para aprimorar o ensino de Física no ensino médio. Biggins mostrou o vídeo da fonte de corrente a Warner, e eles concordaram que aquele seria um problema ideal para apresentar a estudantes - porque envolvia física de Newton, e não alguma variante extrema de mecânica quântica ou teoria das cordas.
Veja o fenômeno:
Então, eles perceberam que na verdade não entendiam aquele conceito.
A fonte, disse Biggins, que ele nunca havia visto antes do vídeo, era "surpreendentemente complicada". A corrente estava se movendo mais rápido do que a gravidade permitiria, e eles perceberam que algo tinha de estar empurrando a corrente para cima, a partir do recipiente onde ela estava contida.
Uma chave para entender o fenômeno, segundo Biggins, é que, matematicamente, uma corrente pode ser compreendida como uma série de bastões conectados.
Quando você ergue a ponta de um bastão, explicou ele, duas coisas acontecem. Uma ponta sobe, e outra ponta desce - ou tenta descer. No entanto, se a força descendente for interrompida pela pilha de corrente abaixo dela, ocorre um tipo de contragolpe, e o bastão - ou elo - é empurrado para cima. É isso que faz a corrente se erguer.
Biggins contou que eles exploraram essa possibilidade em parte por descobertas anteriores de um pesquisador da Cornell, Andy Ruina, sobre um problema diferente - mas relacionado - na física da queda de correntes.
Encontrar um novo problema de Física em um vídeo da internet, segundo Biggins, foi incrível. Para um cientista, é "reconfortante" saber que novos problemas possam surgir dessa forma, disse ele.
Ele e Warner publicaram seu artigo em 15 de janeiro na revista "The Proceedings of the Royal Society A". E hoje, como esperava Warner, a fonte de corrente faz parte de um curso de Física para alunos do ensino médio.
Quanto a Mould, ele está atualmente em turnê com um espetáculo de comédia chamado "Festival of the Spoken Nerd", onde fala sobre a fonte de corrente.
Ele afirmou que uma das apresentações mais divertidas, mesmo para um formando de Oxford, foi no mês passado em Cambridge, pois Biggins e Warner, que haviam conversado com ele sobre sua pesquisa, compareceram ao show.
- Eles estavam na plateia, com o Departamento de Física completo - contou ele.