Pesquisadores brasileiros desenvolveram um modelo mais preciso para determinar a origem da água e da vida na Terra. Em vez de ter vindo de cometas, hipótese mais aceita até agora, a maior parte da água no planeta teria vindo de asteroides. Assinam o trabalho cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá, em colaboração com colegas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e do Instituto de Astrobiologia da agência espacial norte-americana (Nasa).
De acordo com Othon Cabo Winter (Unesp), coordenador do estudo, até recentemente se acreditava que os cometas, ao colidir com a Terra durante a formação do Sistema Solar, haviam trazido a maior parte da água existente hoje no planeta. Simulações computacionais da quantidade de água que esses objetos celestes de gelo podem ter fornecido para a Terra - baseadas no índice de deutério (o hidrogênio mais pesado) na água deles - negam essa hipótese.
- Pelas simulações, a contribuição dos cometas no fornecimento de água para a Terra seria de, no máximo, 30%. Mais do que isso é pouco provável - disse o pesquisador.
No início dos anos 2000, estudos internacionais sugeriram que, além dos cometas, outros objetos planetesimais (que deram origem aos planetas), como asteroides carbonáceos - o tipo mais abundante de asteroides no Sistema Solar -, também poderiam ter água e fornecê-la para a Terra por meio da interação com planetas e embriões planetários durante a formação do Sistema Solar. A hipótese foi confirmada nos últimos anos por observações de asteroides feitas a partir da Terra e de meteoritos (pedaços de asteroides) que entraram na atmosfera terrestre.
Outras possíveis fontes de água da Terra, também propostas nos últimos anos, são grãos de silicato (poeira) da nebulosa solar (nuvem de gás e poeira), que encapsularam moléculas de água durante o estágio inicial de formação do Sistema Solar. Essa "nova" fonte, no entanto, ainda não tinha sido validada e incluída nos modelos de distribuição de água por meio de corpos celestes primordiais, como os asteroides e os cometas.
- Incluímos esses grãos de silicato da nebulosa solar, com os cometas e asteroides, no modelo que desenvolvemos e avaliamos qual a contribuição de cada uma dessas fontes para a quantidade de água que chegou à Terra - detalhou Winter.
O pesquisador e seus colaboradores conseguiram estimar a contribuição de cada um desses objetos celestes com base nesse "certificado de origem", o índice de deutério da água encontrada na Terra. Além disso, conseguiram determinar qual o volume de água que cada uma dessas fontes forneceu e em que momento fizeram isso durante a formação do planeta.
- A maior parte veio dos asteroides, que deram uma contribuição de mais de 50%. Uma pequena parcela veio da nebulosa solar, com 20% de participação, e os 30% restantes dos cometas - detalhou Winter.
As simulações também sugeriram que o modelo desenvolvido parece mais eficiente para determinar a quantidade e o momento da entrega de água para a Terra por esses corpos planetários do que modelos que indicam que a água foi transferida meramente por meio de colisões entre corpos celestes em início de formação (protoplanetários).
Winter destacou a importância da exploração de corpos menores, como asteroides e cometas, pelas missões espaciais. A última missão espacial para a exploração de asteroides, realizada pela agência espacial japonesa (Jaxa, na sigla em inglês) com a sonda Hayabusa para tirar amostras do asteroide Itokawa, resultou em diversos artigos em revistas como a Science e a Nature.
O país oriental planeja lançar este ano a sonda espacial Hayabusa-2, para extrair amostras do subsolo do asteroide "1999JU3" em 2018 e trazê-las para a Terra em 2020. Por sua vez a agência espacial europeia (ESA) mantém no espaço a sonda Rosetta, que deve ser o primeiro objeto a pousar em um cometa, o 67P/Churyumov-Gerasimenko. E a Nasa também pretende realizar uma missão para captura de asteroide próximo da Terra.
Já o Brasil pretende desenvolver e lançar em 2017 a sonda espacial Áster, para orbitar em 2019 um asteroide triplo, o 2001-SN263, formado por um objeto central, com 2,8 quilômetros de diâmetro, e outros dois menores com 1,1 quilômetro e 400 metros de diâmetro.
Realizado no âmbito do projeto de pesquisa Dinâmica orbital de pequenos objetos, o modelo foi descrito em um artigo publicado no The Astrophysical Journal, da Sociedade Americana de Astronomia, e apresentado na segunda-feira no UK-Brazil-Chile Frontiers of Science. O evento ocorre até quarta-feira em uma propriedade da Royal Society em Chicheley, vilarejo do condado de Buckinghamshire, no sul da Inglaterra.