Como e por que Vênus e a Terra, planetas vizinhos e falsos gêmeos, tiveram uma evolução tão diferente? Uma equipe de astrônomos do projeto EuroVenus vai estudar a atmosfera e os ventos do planeta conhecido como 'Estrela D'alva'.
- Provavelmente, Vênus ainda tem muitos segredos para revelar - diz Thomas Widemann, do Observatório de Paris, que coordena este projeto, financiado pela Comissão Europeia com 2,2 milhões de euros.
Os seis laboratórios envolvidos, em França, Bélgica, Alemanha, Portugal e Reino Unido pretendem prolongar a missão Venus Express, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), que coletou uma imensa quantidade de dados e faz observações com telescópios terrestres, como o ALMA, no Chile.
Lançado em novembro de 2005, o Venus Express é o único satélite na órbita de Vênus, tendo proporcionado uma imensa quantidade de informação que ainda precisa de análise. Em junho passado, sua missão foi prorrogada até 2015.
O projeto EuroVenus permitirá à Europa afirmar sua "liderança" no estudo deste planeta, segundo Widemann. Uma sonda japonesa poderia ser colocada na órbita de Vênus em 2015, disse Colin Wilson, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Identificada equivocadamente com uma estrela, Vênus se formou na mesma época e na mesma região da Terra, provavelmente a partir de materiais similares. Tem um tamanho similar ao do nosso planeta, com 95% de seu diâmetro e 80% de sua massa.
No entanto, enquanto a Terra tem vida, Vênus atualmente é um planeta inóspito. É seco como uma pedra, e sua atmosfera, composta majoritariamente por gás carbônico, apresenta um intenso efeito estufa que eleva sua temperatura a mais de 450º C.
Para os astrônomos, a compreensão da evolução a longo prazo destes planetas irmãos constitui uma "grande chave" para os novos planetas que serão descobertos fora do nosso sistema solar, estas "exoterras" potencialmente favoráveis ao desenvolvimento de alguma forma de vida. Seriam possíveis novas Terras ou, ao contrário, novos Vênus?
O EuroVenus tentará compreender melhor a atmosfera venusiana, que apresenta variações "que não correspondem às leis físicas" estabelecidas pelos cientistas.
O programa estudará em particular um fenômeno que continua intrigando a comunidade científica: os ventos de Vênus. Enquanto o planeta faz um giro sobre si mesmo em 243 dias, a atmosfera gira ao seu redor a uma velocidade 50 vezes mais rápida, fazendo uma volta completa no planeta em apenas 4 a 5 dias.
Conhecido como "super-rotação", este fenômeno, cujos mecanismos continuam um mistério, "também poderia ser similar ao das atmosferas de exoplanetas de tipo terrestre em rotação muito lenta", segundo o Observatório de Paris.
O EuroVenus reúne pesquisadores do Observatório de Paris, do Observatório da Costa Azul (sul da França), do Instituto de Astronomia Espacial da Bélgica, da Universidade Alemã de Colônia, da Universidade de Lisboa e da Universidade de Oxford.