Muito antes de as pessoas conseguirem olhar a Terra de longe, completando uma órbita ao redor do planeta a cada 90 minutos, os gregos e romanos da antiguidade já se esforçavam para compreender o tamanho e a forma do seu mundo. Eles se utilizavam de métodos diferentes: os filosóficos gregos, dizem, mediam o mundo pelas estrelas; os romanos, pragmáticos e habituados a construir estradas, por marcos de pedra.
Como o geógrafo grego Estrabão escreveu na época, "tanto com evidências percebidas por nossos sentidos quanto com as experiências, é possível aprender que o mundo habitado é uma ilha; o mar foi encontrado até os limites da terra já conhecidos pelos homens, e a esse mar chamamos de 'Oceanus'. E sempre que não fomos capazes de chegar a conclusões pelas evidências dos sentidos, a razão mostrou o caminho."
São as palavras de Estrabão que recebem os visitantes da exposição "Medição e Mapeamento do Espaço: Conhecimento geográfico na Antiguidade greco-romana", cuja abertura será na sexta-feira, no Instituto do Estudo do Mundo Antigo, em Nova York.
Roger S. Bagnall, diretor do instituto, disse que a exposição não só cruzaria fronteiras e culturas antigas, mas também disciplinas modernas. A mostra reúne mais de 40 objetos que fornecem uma visão geral do pensamento geográfico greco-romano - arte e cerâmica, bem como mapas baseados em textos clássicos. Poucos mapas originais sobreviveram; os que estão presentes na exposição foram criados na Idade Média e no Renascimento a partir de descrições gregas e romanas.
- A geografia não se resume aos mapas - diz a curadora, Roberta Casagrande-Kim, estudiosa dos conceitos clássicos do submundo, que remontam a bem antes de Dante travar sua jornada pelos nove círculos do inferno. - Um aspecto cognitivo também subjaz a cartografia - completa.
Compreender as dimensões do mundo deve ter sido difícil no começo. Sócrates, como podemos ler em Platão, dizia que o mundo é muito grande e os que habitam entre Gibraltar e o Cáucaso - em imagens memoráveis - vivem "em uma pequena parte dele, sobre o mar, como formigas ou rãs em uma lagoa, e que muitas outras pessoas vivem em muitas outras regiões semelhantes."
A descoberta de Aristóteles, na segunda metade do século IV a.C, de que o mundo era esférico, representou um dos primeiros avanços do pensamento grego sobre o assunto. Ele baseou essa teoria em observações de eclipses lunares, cascos de navios que desapareciam no horizonte, e na aparente mudança na posição das estrelas a partir do ponto de vista de um observador que viajava para o norte ou para o sul.
Foi então que no século III a.C., o bibliotecário Eratóstenes, de Alexandria, empregou a nova geometria para medir o tamanho do mundo, com ângulos da sombra do sol registrados simultaneamente em locais bastante distantes no Egito. Essa iniciativa proporcionou uma medida extremamente precisa da circunferência da Terra: ficou claro que o mundo que eles conheciam - os três continentes conectados da Ásia, Europa e África - era apenas uma parte de um conjunto de terras desconhecidas que não podiam ainda ser vistas, mas que já passariam a habitar o pensamento humano.
Outros artefatos da exposição ilustram antigos métodos de levantamento e medição de terras, e alguns dos primeiros esforços para medir a longitude e latitude e para dividir o mundo em zonas climáticas. De norte a sul, tanto gregos quanto romanos identificaram o gélido Círculo Ártico, o hemisfério norte temperado, o tórrido Trópico de Câncer, a zona temperada no sul e o polo sul. Acreditava-se que as duas zonas temperadas eram as únicas regiões habitáveis, mas o contato entre as duas era considerado improvável.
Uma das primeiras cópias do mapa do mundo surgiu no século 17 e pertenceu durante muitos anos a Konrad Peutinger, um diplomata de Habsburg que também colecionava mapas. Hoje ela está na Biblioteca Nacional da Áustria, em Viena.
O propósito do mapa, que provavelmente foi elaborado no início do século I.V. d.C., pode ter sido impressionar os súditos e convidados notáveis do Imperador, concluiu Talbert. Ele tinha em seu centro a capital, mostrando que todas as estradas de fato levavam a Roma.
A cartografia era uma ferramenta de propaganda política, assim como muitas moedas romanas que mostravam os imperadores Otávio Augusto ou Diocleciano segurando um globo, símbolo de todo o mundo sobre o qual tinham poder. Jennifer Y. Chi, diretora de exposições do instituto e especialista em escultura romana, disse que Augusto, em particular, "promovia o seu poder de forma sistemática através de muitos meios diferentes, e até mesmo os analfabetos entendiam o simbolismo do globo."
Em suma, fossem guiados pelas estrelas ou pelas estradas imperiais, gregos e romanos foram felizes em abrir caminho para o conhecimento geográfico de mundos conhecidos e desconhecidos, reais e imaginários. Eles anteciparam conceitos modernos de cartografia: qualquer coisa que pudesse ser espacialmente concebida poderia ser mapeada.
O mais influente dos gregos antigos foi Cláudio Ptolomeu, o estudioso mais importante da biblioteca de Alexandria no século II d.C. Dois de seus livros, um sobre astronomia, outro sobre geografia, vieram finalmente a ser traduzidos para o latim na Idade Média.
As notas que acompanham a exposição observam que "Geographia", de Ptolomeu, fornecia informações vastas sobre a localização de terras e cidades antigas, permitindo que cartógrafos renascentistas preparassem os primeiros mapas razoavelmente modernos do mundo, no estilo do "Mappa Mundi" que foi adotado durante os dois séculos seguintes. Os mapas eram decorados com os oito ventos clássicos; com símbolos tomados da concepção aristotélica dos principais elementos, fogo, terra, água e ar; e com os signos do zodíaco dispersos pelas extremidades.
Mesmo os erros de Ptolomeu foram influentes. Em vez de aderir à estimativa mais precisa do tamanho da Terra registrada por Eratóstenes, Ptolomeu optou por uma subestimação considerável que mais tarde, aparentemente, levou Cristóvão Colombo a pensar que poderia navegar para o oeste para ir à China ou ao Japão.
Em vez disso, ele chegou à terra firme naquelas que ficaram conhecidas como as Índias Ocidentais - cuja distância da Europa era aproximadamente aquela que Ptolomeu o tinha feito esperar, mas sem que houvesse "Grande Khan" nenhum à vista.
Dessa maneira, talvez não tenha sido por acaso que a redescoberta da geografia greco-romana tenha motivado a era da exploração ocidental. Depois de 1492, havia novos mundos para medir e mapear. Dentro de dois séculos, as notas da exposição nos lembram, "o primado do conhecimento geográfico e das convenções cartográficas da antiguidade chegaram ao fim."
As novas descobertas e tecnologias tornaram a geografia greco-romana obsoleta. No entanto, a maneira como nos influenciaram ajudou a moldar a forma como ainda olhamos para o mundo.