A praga chegou como uma maré, banhando o Cinturão do Milho de Minnesota até o "cabo da frigideira", no Texas, com uma doença que poucos agricultores haviam visto até cinco anos atrás.
Conhecida como "seca de Goss", a praga cortou pela metade a produção de alguns agricultores e continua se espalhando. No verão deste ano, ela chegou a Louisiana, atingindo o ponto mais distante ao sul. Alison Robertson, fitopatologista da Universidade do Estado de Iowa, estima que cerca de 10% da produção de milho deste ano tenham sido afetados pela seca de Goss.
A praga, que recebeu o nome de R.W. Goss, fitopatologista veterano de Nebraska, é causada por uma bactéria com o nome formidável de Clavibacter michiganensis subsp. nebraskensis. Quando as plantas são expostas ao granizo ou a outras condições climáticas extremas, o micróbio entra nos machucados e infecta seu sistema vascular, deixando marcas amareladas e marrons com manchas pretas nas folhas.
A infecção nem sempre mata a planta, dependendo de quando ocorre, mas quase sempre limita sua produção. Além disso, para agricultores que nunca haviam visto a praga, ela é extremamente desconcertante.
- Um agricultor me ligou após encontrar um círculo de milho com cerca de 15 metros de diâmetro com sintomas estranhos, talos quebrados e retorcidos, e descoloração em todo o perímetro - afirmou Clayton Hollier, fitopatologista da Universidade do Estado da Louisiana. -Nunca havia visto sintomas desse tipo desde que aprendi sobre a seca de Goss na faculdade.
Até 2008, a praga se limitava ao oeste de Nebraska e a um punhado de condados no leste de Colorado, mas, a partir daquele ano, ela passou a ser encontrada em Iowa, Illinois, Indiana e Wisconsin.
Em 2011, um ano especialmente problemático, a praga causou perdas de 60 alqueires de milho por acre em plantações de boa parte do estado de Illinois, ou quase um terço da produção habitual. O mesmo ocorreu em diversos condados de Indiana.
Embora não existam dados oficiais, os últimos dois anos parecem não ter sido tão ruins - graças, em parte, ao tempo seco e quente que parece deixar a praga sob controle. Entretanto, a propagação da doença preocupa agricultores e fitopatologistas em todo o Cinturão do Milho. Ninguém sabe ao certo por que a seca de Goss ganhou tanta força nos últimos anos, mas muitos fitopatologistas suspeitam que o principal fator sejam os híbridos criados por meio da modificação genética por grandes empresas como a Monsanto, a DuPont e a Syngenta.
- Minha teoria é que diversas variedades hibridas foram selecionadas porque tinham enorme potencial de produção - afirmou Robertson, cuja pesquisa é financiada pela Monsanto e pelo Ministério da Agricultura. - Essas variedades também são extremamente suscetíveis à seca de Goss.
Cerca de 90% do milho produzido nos Estados Unidos vêm de sementes geneticamente modificadas em laboratório, cujos DNAs foram modificados com materiais genéticos que geralmente não são encontrados em espécies de milho. Quase todo o milho dos Estados Unidos, por exemplo, passou a ser modificado para resistir ao poderoso herbicida glifosato (vendido nos Estados Unidos com o nome de Roundup), para que os agricultores possam matar as ervas daninhas, sem prejudicar o milho.
Os agricultores frequentemente se referem a essas plantas biotecnológicas que exigem a aprovação do Ministério da Fazenda como "tratadas", para distingui-las dos híbridos tradicionais.
Embora algumas sementes de milho sejam resistentes à seca de Goss, especialmente as vendidas no oeste do Nebraska e no leste do Colorado, a maioria não é. Dan Anderson, principal gerente de projetos envolvendo o milho na Monsanto, reconhece que variedades de grande capacidade produtiva feitas por sua empresa e por outras podem ser suscetíveis à praga, mas acrescentou que mudanças na forma como é feita a gestão das plantações também pode ser responsável pela propagação da praga. À medida que os agricultores plantam mais milho para satisfazer a demanda para o etanol, a rotação com outras culturas se tornou menos frequente.
- Uma das melhores técnicas de gestão para controlar a seca da Goss é a rotação de culturas (milho, soja e outra cultura) - afirmou Anderson.
Outro fator possível é o plantio direto, que deixa os talos de milho - onde as bactérias se reproduzem - para apodrecer no campo após a colheita, ao invés de realizar a limpeza do terreno.
Não foram desenvolvidos híbridos capazes de resistir à seca de Goss, mas as empresas aumentaram o número de sementes com maior resistência.
Ryan Forth e o pai cuidam de 1.800 hectares de terra ao norte de Ames, Iowa, dos quais dois terços são dedicados ao plantio de milho e o outro terço à soja. Forth também vende sementes da Monsanto. Algumas sementes da linha DeKalb foram identificadas como altamente suscetíveis à praga.
Depois de uma tempestade de vento em 2010, afirmou, "começamos a ver esses círculos estranhos na folhagem" dos campos onde as sementes DeKalb foram plantadas.
No começo ele pensou que as marcas haviam sido causadas pelos danos do vento ou pela falta de chuva, mas agora ele tem certeza de que foi a escolha do híbrido que causou o problema. No ano seguinte, eles plantaram o mesmo híbrido.
- Nós fomos os garotos propaganda da seca de Goss naquele ano - afirmou Forth. - O desastre foi completo, uma colheita desgraçada para mim.
No ano passado, ele plantou um híbrido diferente da Monsanto e não teve mais problemas com a praga desde então. Agora eles não vendem mais os híbridos DeKalb que contraíram a doença.