A Floresta Amazônica poderá sofrer uma redução de 70% da extensão da sua área ao fim do século, se houver um aumento da estação seca. A projeção consta do relatório completo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que foi divulgado nesta segunda-feira, na sequência do sumário para formuladores de políticas, anunciado na sexta passada.
O material, com mais de mil páginas, detalha as bases físicas da ciência do clima e traz uma abordagem regional com projeções sobre como cada parte do planeta poderá ser afetada no futuro. O relatório lembra que, no clima atual, o crescimento intenso da floresta ocorre justamente durante a estação seca, quando a insolação é maior e há bastante água do período chuvoso armazenada nos aquíferos subterrâneos.
Há muitas incertezas ainda sobre como a mudança climática vai afetar a seca na região, mas simulações que consideram um cenário de aumento do período sem chuva observam essa redução dramática na vegetação. O painel de cientistas alerta que o cenário poderá ficar ainda pior diante de um quadro de aumento do desmatamento, que tende a prolongar a estação seca.
- Condições assim aumentam a probabilidade de incêndios naturais que, combinados com queimadas provocadas por atividades humanas, pode minar a resiliência da florestas às mudanças climáticas - escrevem os autores.
O relatório afirma que é muito provável (mais de 90% de chance) que a temperatura suba em toda a América do Sul, com o maior aquecimento projetado para o sul da Amazônia. A projeção é de um aumento da temperatura média de 0,5°C (centro-sul) a 1,5°C (Norte, Nordeste e Centro-Oeste) no país até o fim do século no cenário mais otimista; e de 3°C (sul e litoral do Nordeste) a 7°C (Amazônia) no pior cenário.
Chuva
Em relação às chuvas, porém, há incertezas, com diferentes estudos mostrando diferentes tendências para algumas regiões, explica a pesquisadora Iracema Cavalcanti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), uma das autoras do capítulo que mostra as projeções regionais futuras.
- Mas temos grande confiabilidade para algumas. Os resultados são muito robustos de que na Região Sul do País e na bacia do Prata as chuvas vão aumentar. E no inverno, há mais confiança de que haverá excesso de chuvas no oeste da Amazônia e menos no leste e no sul - diz.