O tigre e outros grandes felinos são predadores desde antes do nascimento, pois a força muscular desses animais e sua dieta carnívora estão inscritas em seus genes, indica um estudo divulgado nesta terça-feira, o primeiro a decodificar o genoma de um tigre.
O Panthera tigris é o maior felino existente e, em todas as regiões, estima-se que existam apenas de 3.000 a 4.000 espécimes ainda vivendo em estado selvagem. Das nove subespécies identificadas, de três a quatro foram extintas durante o século 20, daí a necessidade urgente de se estudar melhor os poucos sobreviventes, todos ameaçados de extinção.
Uma equipe internacional, composta principalmente de pesquisadores asiáticos e liderada pelo geneticista sul-coreano Jong bhak, decifrou pela primeira vez o genoma de um tigre siberiano (Panthera tigris altaica), o maior de todos. Seus genes foram comparados ao do gato doméstico e com certas sequências genéticas de outros grandes felinos, como o tigre de Bengala (Panthera tigris tigris), o leopardo (Panthera uncia) e o leão (Panthera leo).
Sem surpresa, o tigre siberiano tem uma similaridade genética muito alta com o gato (95,6%), de quem diverge em 10,8 milhões de anos. Para efeitos de comparação, os seres humanos e gorilas divergem cerca de dois milhões de anos, e os seus genomas são idênticos em 94,8%.
O tigre compartilha com o gato e outros felinos um grande número de genes relacionados ao olfato, à percepção sensorial em geral. No entanto, os pesquisadores identificaram mais do 3.600 genes próprios aos grandes felinos, dos quais cerca de 1.400 associados com a assimilação de proteínas e de gorduras, típicos de dietas estritamente carnívoras.
Mais especificamente, o genoma do tigre siberiano é o retrato de uma fera temível: genes relacionados à força muscular, uso de energia e processamento sensorial (percepção, reflexos) estão todos "super-representados".
Publicado na revista Nature Communications, o estudo também identificou um gene que desempenha um papel crucial na adaptação do leopardo da neve para a vida em grandes altitudes e que permite que ele lide com um teor reduzido de oxigênio.
Ele também destaca um gene mutante responsável pela cor branca de alguns leões africanos. Estes dados sobre o tigre Siberiano e outros felinos podem ser utilizados para fins de conservação e repovoamento de espécies.
- Eles permitem refletir melhor a base genética da adaptação a um determinado ambiente e melhorar possíveis cruzamentos entre espécimes selvagens e indivíduos mantidos em cativeiro - conclui o estudo.