No Rio Grande do Sul, os estudantes matriculados no Ensino Superior estão concentrados na educação a distância (EAD): são 55% dos alunos de graduação, cerca de 316,4 mil estudantes. É o que mostra o 14º Mapa do Ensino Superior, lançado nesta quarta-feira (8).
O RS é um dos Estados com maior contingente na modalidade a distância, atrás somente de Santa Catarina, que tem 58% das matrículas na categoria, e do Pará, com 56,4%. Na pesquisa de 2023, o presencial ainda predominava no RS, com 50,5%. Agora, a chave virou – somente 45% dos discentes estão em cursos presenciais, total de 259,4 mil.
Os dados são do Instituto Semesp, entidade que representa faculdades particulares. Com informações das redes pública e privada, o relatório aponta que o cenário é de crescimento nos cursos presenciais no Brasil, como um todo. Isso porque voltou a subir o número de ingressantes na modalidade, que vinha caindo há anos, especialmente com a pandemia.
De 2021 para 2022, pela primeira vez, aumentou em 12,9% o número de ingressantes na modalidade presencial no país. Somado a isso, observa-se a desaceleração no ritmo de crescimento da EAD, o que aponta para um possível quadro de crescimento do presencial nos próximos anos. Enquanto o salto das matrículas na EAD foi de 26,8% e 19,7% em 2020 e 2021, respectivamente; em 2022, o crescimento foi de 16,5%.
— Pela primeira vez, estamos começando a reverter a situação do ensino presencial. O número total de alunos continuou caindo, ou seja, as matrículas, mas em um ritmo menor. E o número de calouros parou de cair e voltou a crescer expressivamente, cresceu 17,8% no país entre 2021 e 2022. Se esse movimento continuar, nos próximos anos, vamos ver o número de matrículas crescendo também — explica o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato.
Percebe-se o mesmo fenômeno no RS. O número de matrículas na EAD cresceu 20% entre 2020 e 2021, sendo que aumentou apenas 13,2% entre 2021 e 2022, conforme o levantamento. Ou seja, o ritmo de crescimento da modalidade diminuiu também no Estado. As instituições particulares ainda concentram boa parte das matrículas EAD no RS – cerca de 92,8%.
— No RS, o número de matrículas na EAD ultrapassou o presencial. Isso também aconteceu nem outros Estados, mas no RS foi mais intenso. Uma das questões que pode explicar isso é a presença da universidade pública, que é mais forte em outras regiões. As instituições públicas sustentam o ensino presencial e elevam os percentuais de presencialidade. Então, pode ser um dos fatores — afirma Capelato.
Também abriram menos polos e cursos a distância no país. Entre 2023 e 2024, o aumento no número de polos EAD foi de 10,8%, contra 46,6% do período anterior. No ano passado, o Censo da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC) havia apontado que o número de cursos EAD ofertados no Brasil saltou de 1,1 mil em 2012 para 9,1 mil em 2022, aumento de cerca de 700%. Ou seja, os novos dados do Semesp indicam uma mudança de cenário, após dois anos de explosão dos cursos à distância.
Para os próximos anos, Capelato estima que a relação EAD e presencial deve se manter estável ou até haver algum nível de reversão:
— Mas muito provavelmente diminui esse ritmo de queda da participação do presencial em relação à educação a distância.
Recuperação lenta
Além do otimismo em relação à situação dos cursos presenciais, os dados indicam uma recuperação no número total de matrículas no país. Depois de aumento de 3,5% de 2020 para 2021, o número de matrículas aumentou 5,1% entre 2021 e 2022. A pesquisa registrou 9,4 milhões de alunos matriculados em 2022. Em 2021, eram 8,9 milhões.
Após dois anos consecutivos de dificuldade para o setor da educação, em razão da pandemia de covid-19, os números indicam que o Ensino Superior pode ter um crescimento ainda maior em 2023 e 2024, considerando a possibilidade de recuperação das matrículas nos cursos presenciais. O Ensino Superior também cresceu no RS. Foram contabilizados 575,8 mil alunos no total, em 2022, sendo que eram 565,2 mil em 2021 – aumento de 1,8%.
Mesmo assim, esse crescimento não foi suficiente para atingir os objetivos do Plano Nacional de Educação (PNE). Somente 20% dos jovens de 18 a 24 anos no Brasil estão matriculados no Ensino Superior. A meta 12 do plano federal previa chegar, em 2024, a, pelo menos, 33% de matrículas dos jovens em instituições de Educação Superior. Embora o Ensino Superior esteja crescendo, esse salto é alavancado pela EAD, que atrai estudantes mais velhos. Cerca de 60% dos que estudam a distância têm mais de 30 anos.
Outra preocupação é em relação à evasão. Considerando somente cursos presenciais, cerca de 52,6% dos estudantes interromperam os estudos, levando em consideração aqueles que entraram na graduação em 2018 e chegariam ao final em 2022. O Semesp calcula a taxa de desistência utilizando dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), considerando o percentual de ingressantes que desistiram do curso ou faleceram até o ano de referência.
Licenciaturas EAD e o risco de apagão
O levantamento do Semesp também traz dados relevantes sobre as Licenciaturas. Conforme a pesquisa, entre as regiões, o Sul é a que mais tem matrículas em Licenciaturas a distância, com 74,1% dos alunos em cursos EAD. No país, o índice é mais baixo: cerca de 64,2% das matrículas em cursos de formação de professores são em cursos remotos.
Dos 1,6 milhões de estudantes na região Sul, 17,3% estão em Licenciaturas. No total, são aproximadamente 288,9 mil alunos matriculados. O estudo mostra que o RS é o terceiro Estado com mais alunos em Licenciaturas da rede privada, com um total de 76,1% – atrás de Santa Catarina (90,7%) e São Paulo (79%).
Especialistas manifestaram preocupação com a qualidade dos cursos de Licenciatura a distância, que muitas vezes priorizam a teoria e deixam de lado atividades práticas, como projetos de extensão e experiência em sala de aula, importantes para a formação. Conforme o Semesp, outro problema é que as matrículas estão concentradas em cursos de Pedagogia, e faltam alunos nas áreas específicas. Essa lacuna pode gerar um apagão de professores no país, como diversos pesquisadores vêm alertando.
Mesmo nos cursos a distância, estão matriculados em cursos de Física somente 0,6% dos alunos de Licenciaturas no Brasil, por exemplo. Considerando os cursos presenciais, 3,5% dos estudantes estão em cursos de formação de professor de Física, uma das áreas mais afetadas. Já na Pedagogia, estão concentradas 60,7% das matrículas EAD e 28,7% dos cursos presenciais. O baixo índice de jovens que nos cursos também acende um alerta. Cerca de 48% dos alunos de cursos de formação de professores no Brasil têm mais de 29 anos.
A pesquisa aponta ainda o aumento no desinteresse pelos cursos de formação de professores. Em 10 anos, houve queda de 74,8% no número de ingressantes em Licenciaturas presenciais, entre 2012 e 2022. Ao entrevistar docentes, o estudo constatou que 79,4% dos professores já pensaram em desistir da profissão. Em relação ao futuro profissional, 67,6% se sentem inseguros, desanimados e frustrados.
Os dados fazem parte da pesquisa Perfil e Desafios dos Professores da Educação Básica no Brasil, parte do Mapa do Ensino Superior. O levantamento foi realizado em março de 2024, com participação de 444 docentes dos ensinos Infantil ao Médio, das redes privada e pública (municipal, estadual e federal), de todas as regiões do país.