Passados 50 dias desde o apagão que gerou perdas estimadas por diretores em milhões de reais em pesquisas e equipamentos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a instituição ainda carece de um levantamento sobre o caso. Apesar de uma comissão ter sido criada já na época para averiguar os motivos que levaram à interrupção da energia no Campus do Vale e quantificar os danos, nenhum relatório foi divulgado até então.
Em 12 e 13 de fevereiro, uma interrupção de fornecimento foi registrada na linha de transmissão que atende o Campus do Vale, na Zona Leste de Porto Alegre. O motivo do problema foi a ruptura de dois cabos subterrâneos durante uma obra de escavação feita pela CPFL Energia dentro do pátio de uma subestação da empresa.
No dia 14, uma portaria assinada pelo reitor Carlos André Bulhões Mendes designou os integrantes de uma comissão que faria a apuração das causas e consequências do apagão. Foi estabelecido prazo de 30 dias para a apresentação de relatório “circunstanciado e conclusivo”, período que terminaria em meados de março. Até o momento, no entanto, nenhum resultado da investigação foi divulgado – nem à imprensa, nem aos diretores das unidades acadêmicas que formam a UFRGS.
Nesta terça-feira (2), por meio de nota, a UFRGS informou que passado o prazo de 30 dias estabelecido, "a maioria dos diretores" não havia relatado prejuízos à comissão técnica. "Assim, foi ampliado o prazo para manifestações, o qual se encerra em 14 de abril, para que a comissão tenha uma aferição completa dos efeitos e prejuízos da falta de energia no Campus do Vale", comunicou a instituição. Confira a nota na íntegra no final desta matéria.
Preocupados com a falta de informações, 43 integrantes do Conselho Universitário (Consun) apresentaram solicitação, na reunião mais recente do órgão deliberativo, de que a reitoria apresente formalmente esses dados e que seja criado um comitê para a condução de uma política de gestão de riscos e de crises em contextos emergenciais. O grupo, representado na sessão pela diretora da Faculdade de Educação, Liliane Ferrari Giordani, também demandou que uma comissão especial seja formada pelo Consun, para acompanhar as providências que foram tomadas.
— Todos sabem, muitos inclusive pela imprensa e não oficialmente pela comunicação da nossa administração central, que no dia 12 de fevereiro houve uma situação de um sinistro com 30 horas de ausência de luz por uma ruptura de cabos. A questão é: as informações da situação foram dadas pelas direções das unidades, delegadas pela administração central, o que deixou uma ausência de manifestação para a comunidade de forma centralizada. Temos aqui algumas questões importantes que foram negadas por esse reitor para essa plenária — disse Liliane durante a reunião, como parte da justificativa para inclusão do caso na pauta.
Antes de ingressar com o pedido, um grupo de diretores de unidades acadêmicas fez o requerimento diretamente à presidência do conselho, ocupada pelo reitor. Em despacho datado de 1º de março, Bulhões indeferiu a solicitação – respondeu que a investigação técnica está sendo conduzida por meio de processo administrativo sem caráter disciplinar e que todas as unidades serão ouvidas, “quando haverá a oportunidade para apresentação de informações e sugestões pelos Diretores das Unidades”.
A apresentação da demanda aos conselheiros na última reunião, em 8 de março, tinha o intuito de que o órgão analisasse o indeferimento. A inclusão dessas solicitações na pauta foi aprovada com 53 votos favoráveis e três abstenções. Os pedidos devem ser votados na próxima sessão do órgão, prevista para 12 de abril.
O apagão no Campus do Vale
No dia 12 de fevereiro – uma segunda-feira em meio ao feriado de Carnaval –, a interrupção do fornecimento na linha de transmissão que atende o Campus do Vale da UFRGS foi identificada pela CEEE Equatorial por volta das 14h30min. O motivo do problema foi a ruptura de dois cabos subterrâneos, ocorrida durante obra de escavação da CPFL Energia, dentro do pátio de subestação da empresa.
Um novo ponto de suprimento de luz foi viabilizado pela CEEE Equatorial durante a madrugada, enquanto a rede foi disponibilizada aos técnicos da universidade às 13h30min de terça-feira (13). O restabelecimento total da energia ocorreu às 19h. O conserto definitivo dos dois cabos subterrâneos aconteceu ainda em fevereiro, segundo a CPFL Energia.
A falta de luz provocou perdas de equipamentos, insumos e pesquisas com plantas e animais que exigiram alto investimento financeiro e meses de dedicação. O levantamento do impacto em cada setor ainda não foi apresentado, mas a estimativa dos diretores das unidades ouvidos pela reportagem na época era de que o prejuízo esteja na casa dos milhões de reais.
Confira a nota da UFRGS:
"NOTA DE ESCLARECIMENTO
Em relação à interrupção no fornecimento de energia no Campus do Vale, ocorrida em 12 de fevereiro, a Reitoria da UFRGS esclarece que criou uma comissão técnica para apurar as causas e consequências do incidente, especialmente o levantamento de prejuízos às unidades acadêmicas.
Foi dada vista a todos os diretores do Campus do Vale, os quais deveriam levantar, junto aos Programas de Pós-Graduação, laboratórios e outras estruturas, os impactos da interrupção do serviço em suas unidades. Passado o prazo de 30 dias estabelecido, a maioria dos diretores não relatou prejuízos, enquanto outras direções acrescentam documentos probatórios de prejuízos.
Assim, foi ampliado o prazo para manifestações, o qual se encerra em 14 de abril, para que a comissão tenha uma aferição completa dos efeitos e prejuízos da falta de energia no Campus do Vale.
Enfatizamos que, tão logo foi identificada a falta de luz, a UFRGS agiu imediatamente para evitar maiores prejuízos, atuando com suas equipes e ao lado das concessionárias de energia. O Campus do Vale conta com 43 geradores industriais, que foram acionados para manter os serviços em funcionamento.
Todo o processo segue os ritos administrativos estabelecidos pela Universidade e Serviço Público Federal, de forma coletiva e respeitando as particularidades de cada faculdade, bem como de cada pesquisa, muitas delas com registro de patente ou sob sigilo. Devido ao período pré-eleitoral, há necessidade de preservar o caráter técnico de todas as manifestações, sem cunhos personalistas ou políticos, de acordo com o Estatuto e Regimento Geral da Universidade no seu “Art. 4º - É vedado à Universidade tomar posição sobre questões político-partidárias, bem como adotar medidas baseadas em preconceitos de qualquer natureza.
Porto Alegre, 02 de abril de 2024."