A Shell Eco-marathon termina sua sexta edição no Brasil com direito a recorde de eficiência energética no protótipo automotivo desenvolvido por alunos do campus de Erechim do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). A equipe Drop Team ficou em primeiro lugar na categoria ICE, de motores a combustão, alcançando 716 km/l de gasolina. O resultado tornou o grupo, que já havia vencido nas edições de 2018 e 2019, tricampeão no campeonato.
Diferentemente de outras competições automotivas, nesta, o que importa não é chegar mais rápido: o vencedor é quem conseguir rodar uma distância maior com o menor gasto de energia possível. Para isso, estudantes de cursos técnicos e graduações como Automação, Engenharia Mecânica e Engenharia Mecatrônica se dedicam ao longo de um ano inteiro para encontrar soluções para desenvolver o veículo mais leve e aerodinâmico que conseguirem. Mas também garantem aspectos relativos à segurança, motor, embreagem, sistemas de rolagem e de freio, por exemplo, que são pré-requisitos estabelecidos pela Shell para que a equipe vá para a pista.
O resultado é um protótipo que lembra um carro de corrida no tamanho diminuto da cabine, onde o piloto costuma ser a menor pessoa da equipe. Esse é um dos motivos para que 70% das pessoas que guiam na pista sejam mulheres, mesmo elas não sendo maioria dentro de muitos grupos.
No caso da Drop Team, o primeiro piloto é Izequiel Balsanelo, 26 anos, estudante de Engenharia Mecânica do IFRS Erechim, no norte do RS. Veterano na Shell Eco-marathon, o jovem participa desde 2017 da competição. Agora quase formado, prepara Felipe Salini, também acadêmico da Engenharia Mecânica, para ser seu sucessor.
— Não é tão fácil de pegar o jeito. É muita gente em pista, o carro é complexo. Apesar de ele ser automático e a gente só ter que ligar e frear, tem outras pessoas, tem que cuidar o tempo, ver se o carro liga, se desliga. Não dá para deixar o carro autônomo na pista — explica Izequiel.
Cada equipe tem quatro chances de realizar o percurso, que contempla 10 voltas na pista (840 metros), em, no máximo, 25 minutos. Como a velocidade que os protótipos alcançam não é muito alta, cada segundo conta.
Apesar do trabalhão que a equipe tem ao longo do ano para deixar tudo pronto, Izequiel considera que vale a pena para quem é curioso:
— Eu, desde criança, quando estragava qualquer coisa eletrônica, já ia lá desmontar, para entender como funcionava. Esse projeto possibilita que eu aprenda muito mais do que em sala de aula, porque, na sala de aula, se você tem um problema, o professor te dá os dados e pronto. Na vida real, tu não consegue ter nada pronto. É uma loucura, tem que buscar informação de tudo. Tem dados, como umidade de ar, que parecem ser só da área da meteorologia e, para nós, fazem muita diferença na queima do combustível. Tudo influencia — comenta o jovem.
Ele comenta, ainda, sobre o sentimento de missão cumprida trazido pela vitória, em especial devido ao segundo lugar alcançado no ano passado, que "foi um ano de muito trabalho":
— São muitas horas de dedicação. Dá pra dizer que todo dia a gente tá lá de quatro a oito horas (por dia) trabalhando no carro.
Conceitos vistos na prática
Coordenador do projeto e professor do IFRS Erechim, Airton Campanhola Bortoluzzi implementou em 2015 a proposta de ter uma equipe no campus que competisse na Shell Eco-marathon, justamente para aplicar conceitos que são vistos de forma teórica em sala de aula.
— É uma oportunidade de ver na prática conceitos que trabalhamos muito no dia a dia. Também permite que os alunos vivam esse ambiente de trabalho em equipe, que, em sala de aula, a gente não consegue ter. Além disso, participar de uma competição estimula a querer crescer, se desenvolver. É sempre buscar o melhor. Se não for melhor do que o dos outros, tudo bem: a gente vai aprender mais e buscar melhorar ainda mais — descreve o docente.
A sexta edição da Shell Eco-marathon ocorreu no Rio de Janeiro, entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro, e reuniu mais de 500 estudantes de 39 equipes nacionais e internacionais. Além de competidores brasileiros, houve participantes do México, da Bolívia, da Colômbia e do Peru. Quatro categorias foram disputadas: ICE, hidrogênio (inédita), bateria elétrica e bateria elétrica - conceito urbano.
Confira os vencedores
Bateria elétrica
1° - Armac Milhagem - UFMG - 367 km/kWh
2° - Eifchar - IFSul Charqueadas - 364 km/kWh
3° - Eficem Joinville - UFSC Joinville - 344 km/kWh
Combustão interna
1° - Drop Team - IFRS Erechim - 716 km/l
2° - Pato à Jato - UTFPR Pato Branco - 647 km/l
Repórter viajou a convite da Shell.