Pode estar próximo do fim o processo, iniciado há nove anos, de restauro de uma capela de 58,8 metros quadrados. Nesta terça-feira (4), foi publicado no Portal de Compras do governo federal um aviso de licitação para contratar uma empresa para a obra. O prédio, construído em 1893, fica em Eldorado do Sul, dentro da Estação Experimental Agronômica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Edifício mais antigo da instituição de ensino, com 130 anos completados em 2023, a Capela de São Pedro foi feita quando aquela área ainda era uma fazenda de propriedade da família Ferreira Porto. No século 19, era comum que grandes habitações rurais edificassem pequenos espaços religiosos, onde padres, que eventualmente visitavam as moradias, rezavam missas. Uma das paredes ainda conta com o brasão dos antigos donos.
A UFRGS adquiriu o terreno de 1,6 mil hectares em 1959 e o ocupou em 1961, sob a promessa de não demolir a capela. Trato feito – não só o espaço foi mantido, como é parte da memória afetiva de servidores e comunidade da região.
— Lembro de jogar bola aqui na frente quando era criança, porque meu pai era mecânico aqui na estação. Nessa capela já teve missa, casamento — conta Paulo do Couto Freitas, hoje servidor da universidade.
Entre as décadas de 1960 e 1970, serviu para cerimônias como missas no Dia de São Pedro, na Páscoa e no Natal. Há registros de que pelo menos três professores da UFRGS tenham se casado no local.
Com o tempo, porém, o espaço foi se deteriorando. Atualmente, apresenta fissuras nas paredes e pintura envelhecida. As aberturas e o teto de madeira estão com as tábuas empenadas, o que gera problemas de infiltração. Por isso, apesar de não estar interditada, a capela parou de ser usada.
— Até agora há pouco estava tudo vazio, sem os móveis. Ficou quase um ano assim. Só agora, com a perspectiva de reforma, colocaram de volta — relata Rafael Gomes Dionello, diretor da Estação Experimental Agronômica.
Junto à capela, há um cômodo anexo, onde fica a sacristia. O projeto de restauro contempla ambos os espaços. Além da recuperação, será instalada uma rampa para o acesso de cadeirantes ao prédio. A obra também prevê um tratamento paisagístico envolvendo 12 palmeiras localizadas no caminho de acesso ao edifício, que representam os 12 apóstolos de Jesus. O próprio calçamento em torno do templo passará por reparos.
— Na nave principal, teremos uma reforma mais conservadora, sem alterar muito. Vamos restaurar o piso, que tem desníveis e partes quebradas, corrigir as fissuras nas paredes e substituir telhado e forro. Também vamos colocar uma camada a mais de proteção no telhado, que se chama subtelhado, para que, em caso de quebra de telhas, a água não danifique o forro — relata a arquiteta e chefe do Setor de Patrimônio Histórico da UFRGS, Renata Manara Tonioli.
A entrega das propostas das empresas interessadas está prevista para o dia 9 de agosto. A obra é estimada em cerca de R$ 455 mil, mas pode sair mais barata, uma vez que o critério de julgamento será o menor preço proposto. Quando iniciada, a intervenção tem previsão de duração de 120 dias.
Imbróglio na licitação
Apesar de não ser tombada, a edificação é considerada com valor histórico-cultural atestado pela prefeitura de Eldorado do Sul e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Por isso, a reforma da Capela de São Pedro foi aprovada dentro de um edital do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), do governo federal, em 2014.
A instituição foi, então, atrás de doações de empresas, que, aderindo ao projeto, teriam isenções de impostos, captação concluída em 2016. A partir daí, em tese, era só licitar a empresa a fazer a obra. No entanto, uma sucessão de entraves foi surgindo – a primeira licitação não teve interessados, a segunda teve, mas, na hora de iniciar os trabalhos, não os executou.
Com isso, o tempo passou e os valores da obra, orçada na época em R$ 225 mil, aumentaram, e foi necessário pedir a aprovação de um novo processo licitatório junto ao Pronac, que demorou a ocorrer. Uma nova empresa foi contratada, mas a mudança de gestão do governo federal, em 2019, e o início da pandemia, em 2020, travou o andamento da licitação. Quando ocorreu a autorização para o trabalho ser retomado, a licitada desistiu, devido ao aumento nos custos desde então.
Ao longo desse tempo, os R$ 225 mil captados ficaram em caixa rendendo, e se tornaram cerca de R$ 340 mil. A UFRGS, então, resolveu pagar o restante do valor, para que a obra fosse, finalmente, viabilizada. Um novo capítulo dessa novela acontece agora, com nova licitação.