Com muros coloridos e um pátio central, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Porto Alegre (EPA) tem todas as características de um ambiente escolar no começo de uma manhã: professores e funcionários chegando, salas de aula sendo preparadas para logo serem ocupadas por estudantes em busca de novos aprendizados. No entanto, a instituição de 27 anos tem um elemento que a torna bastante especial: os alunos em grande maioria estão em situação de rua e estão em busca de uma mudança de realidade.
A acolhida vem desde o portão de entrada, na Rua Washington Luiz, no Centro Histórico. Alguns alunos abraçam as funcionárias e cumprimentam os colegas. Antes de irem para a sala, o grupo conta com espaço para banho, higiene pessoal e local para lavar as roupas. Há ainda alimentação e orientação para que quem precisa regularizar os documentos e ter acesso a programas sociais.
— São apenas duas escolas no Brasil que têm esse trabalho exclusivo para moradores de rua, a nossa e uma em Brasília — ressalta a diretora da escola, Milena Teixeira Pereira.
Além das aulas na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), os estudantes ainda realizam oficinas de artesanato, jardinagem, cerâmica e informática. Para alguns, são oportunidades únicas de acessar um computador pela primeira vez, como no caso de Adalcir Oliveira dos Santos, 43 anos.
— Agora é que eu estou aprendendo a mexer, então vou pedindo ajuda da professora — relata.
Adalcir conta que está há oito meses na escola. Ele chegou à instituição por incentivo de uma outra aluna. Foi parar na rua em 2006, após o falecimento da mãe, que era cozinheira de um hotel tradicional de Porto Alegre.
— Meu sonho é trabalhar em um restaurante e ser auxiliar de cozinha — revela o estudante, que também é fã de geografia e matemática.
A história de Adalcir mudou muito nos últimos meses e veio com vários obstáculos. Ele mesmo confessa que nos primeiros dias demorou para prestar atenção nas aulas, fazendo com que recebesse alguns "puxões de orelha".
— Os professores me ajudam muito, têm um carinho imenso por nós, ajudam a nos coordenar. Quando a gente está fazendo algo de errado, eles vêm e tentam explicar antes. Eu gosto de vir para o colégio. É melhor estar aqui no que na rua — comenta o aluno.
Para a orientadora educacional Jacqueline Junker Fuques, que atua na escola há 21 anos, o trabalho dos docentes exige um desdobramento diário para entender a melhor forma de ajudar cada estudante a não desistir dos estudos e a persistir, mesmo nos dias de desânimo.
— Todo o dia é uma aventura, mas uma boa aventura. Estamos trabalhando com as pessoas que estão no último grau da vulnerabilidade e que têm as suas esperanças todas bloqueadas. Vir para uma escola é se abraçar de novo nessa esperança, e se abraçar em algo que a gente acha até complicado, que é voltar a estudar, para voltar a ter um projeto de vida que não esteja mais tão envolvido com a rua — defende.
Durante o meses mais frios do ano, a escola recebe doações de roupas (principalmente masculinas) e cobertores. Quem quiser ajudar, pode entrar deixar as peças na Rua Washington Luiz, número 203, bairro Centro Histórico, de Porto Alegre.