As provas do vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estão sendo aplicadas neste final de semana. Na primeira parte, realizada neste sábado (14), os estudantes encararam os exames de história, língua portuguesa, literatura em língua portuguesa, matemática e redação.
GZH conversou com professores do cursinho preparatório Fleming para avaliar o que surpreendeu e o que já era esperado das questões do primeiro dia de vestibular. No domingo (15), ocorrerá o segundo e último dia de provas, que contemplarão as disciplinas de biologia, física, geografia, língua estrangeira moderna e química.
Confira a avaliação das provas:
História
A prova de história "fugiu um pouco da normalidade", opina o professor Max Dantas. Característica por trazer questões bem técnicas e conteudistas, neste ano a prova apresentou textos grandes que exigiram bastante atenção e aplicação de interdisciplinaridade. Para ele, o grande diferencial deste ano foi a conexão entre tópicos da atualidade com pontos históricos.
— No ano de 2022, marcamos os 100 anos da descoberta da tuba de Tutancâmon, e foi um tema contemplado na questão de abertura da prova. Também, com a morte da rainha Elizabeth II, teve uma questão sobre a Inglaterra. Senti falta de questões muito presentes em outros vestibulares, como guerras mundiais, nazifascismo, crise de 1929, revoluções do séculos 19 — acrescenta.
— Como tivemos um ano de eleições, muitas questões de história do Brasil versaram sobre Constituição, democracia, cidadania, o que exigiu do estudante que ele buscasse um tópico de atualidade em um ponto da história passada do Brasil ou do próprio Brasil recente. Senti falta de um tópico de atualidade mais presente, como guerra na Ucrânia e os conflitos na região do Oriente Médio — conclui.
Língua portuguesa
Para o professor de língua portuguesa Francis Madeira, a prova deste ano foi "bem tradicional", com conteúdos que historicamente são cobrados pela instituição.
— Particularidades ortográficas, referencialidade de pronomes, classes de palavras, fonologia, relações de temporalidade de textos. Teve alguma coisa de crase, de pontuação. Não trouxe surpresas, achei a prova bem condizente com o que já vinha sido cobrado nos últimos anos.
Outro ponto destacado por ele foi a cobrança de dois textos interpretativos, que já havia sido feita nos anos anteriores.
— Antigamente, quando eram 25 questões (na prova), eram três textos. Agora, com 15 questões, colocam dois textos de assuntos que são bastante cobrados — aponta.
Literatura em língua portuguesa
Com 13 questões sobre as leituras obrigatórias, a prova de literatura em língua portuguesa também estava "muito dentro do esperado", avalia o professor Marcio Souza:
— Tivemos todas as leituras obrigatórias contempladas, como é de praxe da UFRGS. O que foge dos livros e foi cobrado foram questões que prestigiaram interpretação de texto, com dois autores bem canônicos do Rio Grande do Sul, o Mário Quintana e o Érico Veríssimo. Uma prova basicamente de leitura obrigatória com um ou outro toque sobre a história da literatura brasileira. No geral, me pareceu uma prova bastante acessível, para não dizer praticamente fácil.
Para ele, o ponto de destaque foi o aspecto "engajado" das questões.
— A UFRGS já teve provas engajadas, mas talvez não tanto. Daria para dizer que os temas de engajamento foram, como as próprias leituras já davam a entender de maneira muito clara, a situação da mulher na sociedade. Não só atual, mas com um viés mais histórico, com Lisístrata; com a situação da mulher negra, com Ponciá Vicêncio; e de forma mais elaborada com abandono paternal, com Construção.
As questões também abordaram os enredos dos livros em um nível detalhista, diz Max, mas o que também não configura novidade.
— A prova estava no exato formato que a gente esperava, tanto em relação ao número de questões de leituras obrigatórias, tanto na aparição de autores canônicos.
Matemática
Na mesma linha, a prova de matemática da UFRGS não teve nenhuma surpresa, conclui o professor Ricardo Petry.
— Seis questões de geometria, mais de um terço da prova. As questões iniciais de matemática básica, tradicionais, com o mesmo padrão dos anos anteriores. As questões envolvendo gráficos de funções, que sempre esperamos. Nada assustador, com o mesmo nível médio de dificuldade, que o estudante bem preparado vai fazer uma boa pontuação. Prova muito boa e equilibrada, como sempre — examina.
Redação
A prova de redação trouxe como tema O apagamento das mulheres na história e o direito à memória, título de artigo da juíza do Trabalho Daniela Valle R. Muller, apresentado no caderno de prova. O professor de redação Leonardo Jaskulski acredita que a universidade tenha seguido uma tendência, inaugurada em 2018, de "estabelecer interlocução a partir da leitura de um texto com o qual o candidato deve dialogar".
— A partir da leitura, o candidato deveria imaginar-se na situação de porta-voz de um grupo de estudantes que pensassem como ele e dirigir-se aos membros do grupo de estudos no qual o texto fora lido e discutido. A complexidade desse tipo de proposta está em, além de argumentar sobre o assunto, estabelecer conexões com o texto base e manter o diálogo com um público leitor. Neste ano com uma novidade: um texto que representaria hipoteticamente o ponto de vista de um grupo, o que sugere o uso da primeira pessoa do plural — destaca.
O gabarito oficial das provas deste sábado poderá ser consultado no domingo, a partir das 9h, no site do Vestibular.