Por Cleber Prodanov
Reitor da Universidade Feevale
Nem sempre as reflexões pessoais podem ser transpostas ou aplicadas a outras pessoas ou grupos delas, entretanto, em nenhum momento tive dúvidas se estudar e ter educação formal valeria a pena para a vida. Também não tenho dúvidas de que a educação é um bem precioso e algo que não perdemos com nenhuma intempérie que possa acometer a nossa vida. Durante muito tempo utilizamos algumas estratégias para motivar as pessoas a estudarem, com possibilidade de ascensão social, de construção de uma família e de um patrimônio material, status ou uma vida mais confortável.
Alguns estudos internacionais também contribuem para essa ideia de que a educação possibilita a melhoria da vida das pessoas. Neste ano, pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vem colocar luz nessa questão, ao mostrar, com dados internacionais, quão importante é a educação para o desenvolvimento das pessoas.
A OCDE é formada por 38 países, especialmente aqueles com maior desenvolvimento econômico e humano, sendo que a pesquisa envolveu, ainda, mais oito nações: China, Rússia, Índia, África do Sul, Arábia Saudita, Indonésia, Argentina e Brasil. O estudo procurou analisar o impacto da educação na vida das pessoas, especialmente no que se refere à renda e à empregabilidade.
No Brasil, quem consegue concluir seu curso superior tem uma remuneração em média 144% acima daqueles indivíduos que terminaram apenas o Ensino Médio. A situação fica mais discrepante com a comparação feita entre aqueles que não chegaram ao fim do Ensino Médio e graduados. Nesse caso, a remuneração dos diplomados em cursos superiores é maior ainda, chegando a 258%. Dentro desse grupo, o Brasil é o país com a maior diferença salarial por nível de escolaridade e aquele onde o diploma superior possibilita a maior vantagem salarial. Quem não continua os estudos perde salário e empregabilidade. Como curiosidade, a Finlândia é o país que tem a menor diferença nesse item da pesquisa.
A vantagem dos brasileiros que possuem um diploma superior está muito acima do que acontece nos demais países que integram a OCDE. No caso da empregabilidade, isso também se expressa positivo para os graduados, que atingem 83% entre os mais jovens e 90% entre os mais maduros.
Outra análise trazida pela OCDE, no seu recente relatório Education at a Glance 2022, revela que o Brasil é o segundo país pesquisado com maior proporção de jovens sem trabalhar e sem estudar. Um dado aterrador que, certamente, trará sérias dificuldades ao país e um grande prejuízo às pessoas fora da educação e do mundo do trabalho. No Brasil, 35,9% dos jovens entre 18 e 24 anos não estão no mercado de trabalho nem continuam a estudar. Em alguns círculos aparece a expressão “geração nem nem”, fazendo alusão ao fato de que nem trabalham e nem estudam. Nas pontas do estudo aparecem a África do Sul, com 46,2%, o mais alto índice, e a Holanda, com 4,6%, na extremidade oposta.
A situação educacional está bem precarizada no Brasil. O país patina, especialmente nessa etapa de transição entre a educação e o mundo do trabalho, e isso aponta para o risco de as pessoas se distanciarem cada vez mais do mercado que exige algum tipo de formação. Também indica um possível acirramento do desemprego e das desigualdades sociais de uma parcela expressiva da população que tem uma expectativa de vida alta.
Esses são apenas alguns estudos que apontam as diferenças do Brasil em relação ao mundo. Trago essa reflexão para que, mesmo diante dessa cruel realidade, esses dados possam incentivar as pessoas a continuar seus estudos. Muitas vezes, esse ato traz um sacrifício pessoal e das famílias e tem um grande poder transformador para o cidadão e o país. Infelizmente, as diferenças internas são brutais, mas, mesmo diante dessa diversidade, surge mais um argumento para incentivar e motivar as pessoas, que não é reforçar a desigualdade, mas chamar a atenção para o fato de que estudar é um bom negócio.
Não se trata apenas de ter um esforço individual. Existe a necessidade de garantir o acesso e a permanência nas escolas técnicas e nas universidades e facilitar a troca de experiências e oportunidades junto ao mundo do trabalho. É preciso, urgentemente, romper esse ciclo de inanição e agir para que os jovens possam ter condições de estudar, trabalhar e pleitear um futuro melhor para eles e para o país.