Ofertados há mais de 20 anos em Montenegro, na Região Metropolitana, os cursos de Artes da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) serão transferidos para Porto Alegre a partir de 2023. A mudança será gradual – alunos que iniciaram suas licenciaturas em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro em Montenegro concluirão seus cursos lá, mas os ingressantes já farão suas matrículas na Capital.
A troca vai ao encontro de uma demanda da comunidade acadêmica dos cursos de Artes por mais espaço, o que não é possível na estrutura atual. Por isso, após decisão do Conselho Superior da Uergs (Consun), ficou estabelecido que as quatro graduações fariam parte do rol que ocupará o campus localizado na Rua Washington Luiz, Centro de Porto Alegre, onde funcionava a sede da Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec) até o início de seu processo de extinção, em 2018, e, neste semestre, passou a ser instalado o campus central da universidade estadual.
Por enquanto, o espaço ainda não está adaptado para as necessidades específicas dos cursos de Artes, que precisam, por exemplo, de salas com piso de madeira, espelhos, locais adequados para a instalação de instrumentos musicais e ambientes que sirvam como ateliês. Mas, se há essa lacuna, há também uma solução – por meio de convênio assinado junto à Secretaria Estadual da Cultura (Sedac), alunos e professores da Uergs poderão usar espaços em locais como a Casa de Cultura Mario Quintana, o Teatro de Arena, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (Macrs). O convênio tem validade de cinco anos, prorrogáveis por tempo indeterminado.
— Esse convênio permite que usemos esses espaços para aulas normais, mas também para atividades de extensão e pesquisa. Paulatinamente, vamos nos instalando no campus central, mas esse convênio também traz a vantagem de usarmos esses equipamentos culturais não só para atividades envolvendo alunos, mas a própria comunidade — relata Marcelo Ádams, professor e coordenador do curso de Licenciatura em Teatro, citando como exemplos de atividades cursos livres e apresentações artísticas.
O ingresso nos cursos de Artes da Uergs acontece por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que utiliza as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Por ano, são 25 vagas para cada uma das quatro graduações. Não há provas específicas para cada graduação.
Para além da demanda por mais espaço para as atividades dos cursos de Artes, Ádams relata que os estudantes enfrentam problemas de logística e infraestrutura em sua rotina em Montenegro. O principal é a falta de um ônibus de linha que faça o transporte de alunos da Capital para o município da Região Metropolitana.
— Já tivemos uma linha que fizesse o transporte de Porto Alegre a Montenegro, mas, desde que a pandemia iniciou, não temos mais. Somado a isso, é uma cidade com uma infraestrutura não tão boa para trazer alunos de outras cidades e Estados: nos preocupava onde esses alunos iam trabalhar, onde iam morar. Isso fazia com que tivéssemos dificuldade para preencher as vagas — pontua o coordenador.
Na Capital, há mais espaços com atividades culturais, o que abra um leque maior de possibilidades de estágios para os estudantes, conforme Ádams. Para o docente, a mudança demonstra um movimento de valorização de duas áreas prejudicadas nos últimos anos: as artes e a educação, uma vez que as quatro graduações contempladas são licenciaturas e especialistas têm apontado para os próximos anos um “apagão” de professores nas escolas.
— Quando se traz cursos de Artes para a Capital, com uma estrutura maior e um espectro de possibilidades muito diversificado, estamos fazendo o que precisa ser feito para valorizar o que de melhor temos para humanizar a sociedade. É a ponta de lança para o projeto de futuro que queremos — observa Ádams.
A transferência das atividades para o campus central de Porto Alegre também representa economia para os cofres públicos – desde 2001, a Uergs empenha cerca de R$ 600 mil ao ano para alugar espaços no prédio da Fundação Municipal de Artes de Montenegro (Fundarte). Em razão disso, a instituição tem sido alvo de apontamentos pela Contadoria e pela Auditoria-Geral do Estado (Cage).