Alunos da rede estadual do Rio Grande do Sul tiveram desempenho acima da média nacional em leitura, matemática e ciências na prova do Pisa para Escolas, exame aplicado em novembro do ano passado e que replica a metodologia do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).
A performance, contudo, fica distante da média de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), clube de nações desenvolvidas ao qual o Brasil almeja entrar.
Os resultados foram apresentados na tarde desta sexta-feira (14) no evento Pisa para Escolas Road Show, organizado pela Fundação Cesgranrio e pela OCDE no Hotel Hilton, no bairro Copacabana, Rio de Janeiro, no qual GZH esteve presente.
O Pisa é uma prova aplicada a cada três anos em estudantes de 15 anos do mundo inteiro pela OCDE. Os resultados culminam em um ranking internacional que classifica o aprendizado de jovens de cada nação.
Os últimos resultados do Pisa, de 2018, mostram que o Brasil tem um dos 10 piores desempenhos em matemática do mundo. Em leitura, ficou atrás de mais de 55 países e, em ciências, abaixo de 65 nações. Uma nova prova foi aplicada em abril e maio de 2022, ainda sem resultados divulgados.
No ano passado, a Secretaria Estadual da Educação do Rio Grande do Sul (Seduc) passou a aplicar a prova do Pisa em escolas estaduais, para identificar falhas de aprendizagem de alunos, em meio à desigualdade educacional acentuada pela pandemia. Não há relação com o ranking internacional — instituições replicam a avaliação com seis alunos para saber onde é preciso reforçar o ensino.
Mesmo que as estatísticas apontem que alunos da rede estadual gaúcha estejam mais preparados do que a média nacional, os índices estão distantes da educação recebida por jovens de países ricos. A melhor nota nas escolas estaduais gaúchas foi em leitura, 433. Em 2018, o Brasil tirou 412, a França recebeu 492 e o Chile, 452.
A pior nota de alunos de escolas estaduais do Rio Grande do Sul foi em matemática, de 392. No Brasil, a média nacional foi de 384, na França de 495 e no Chile, 417.
As escolas estaduais gaúchas, todavia, pontuaram acima das instituições públicas de São Paulo, em comparação a dados apresentados pelo secretário da Educação paulista, Hubert Alquerés.
No Rio Grande do Sul, os resultados refletem a realidade de 103 escolas estaduais gaúchas de novembro do ano passado. Em maio deste ano, mais 300 instituições participaram do Pisa para Escolas, cujos resultados ficarão prontos em novembro.
As duas provas examinaram 25 mil alunos, que responderam a 141 perguntas de múltipla escolha e um questionário socioeconômico para analisar o ambiente escolar e psicossocial.
Em Porto Alegre, participam escolas como Protásio Alves, Parobé, Tubino Sampaio, Paula Soares e Emílio Massot.
— A escola recebe a devolutiva dos resultados e estuda o que está fraco para melhorar a aprendizagem. O objetivo é sempre melhorar — afirmou para GZH a secretária de Educação do Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira.
Além do Rio Grande do Sul, os governos de São Paulo e Bahia aplicam em suas redes estaduais o Pisa para Escolas, promovido pela OCDE e pela Fundação Cesgranrio, entidade sediada no Rio de Janeiro que organiza concursos e vestibulares. Espanha, Portugal, Estados Unidos, Austrália e China também aplicam o exame.
Além de avaliar capacidades em leitura, matemática e ciências, o Pisa para Escolas examina habilidades socioemocionais, como criatividade, liderança e capacidade crítica. Alunos também respondem sobre o ambiente escolar: dizem se presenciam bullying em sala de aula e se gostam dos docentes.
A prova faz parte de uma iniciativa da Seduc, sob a gestão de Raquel Teixeira, de trazer a ciência de dados para dentro de escolas públicas. Ela diz que o Rio Grande do Sul tem preconceito com avaliações e que é preciso produzir estatísticas transparentes para tomar decisões baseadas em evidências.
— Muita gente ainda acha que o Rio Grande do Sul tem a terceira melhor educação do Brasil. Mas fomos caindo ao longo dos anos. Se não tivermos avaliação para descobrir o nível educacional, não saberemos onde estamos e o que precisamos melhorar — diz Raquel Teixeira.
O governo gaúcho aplicou ao menos cinco provas desde o ano passado para identificar o nível de aprendizagem estudantil. Para além de duas edições do Pisa para Escolas, alunos gaúchos também realizaram o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers) e duas provas da Avaliar é Tri, que buscou ver os prejuízos da pandemia.
A secretária da Educação diz que o governo vem investindo em soluções para os gargalos na educação. Um programa oferece bolsas de formação para professores, nas áreas de português e matemática, com incentivo financeiro que varia de R$ 200 a R$ 600.
Ela ainda cita as bolsas de pós-graduação em Gestão Escolar na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), também com incentivo financeiro. Teixeira também observa que o governo aumentou a carga horária de português e matemática e contratou 4 mil professores para dar conta da nova demanda.