Com o crescimento na oferta de instituições de Ensino Superior (IES) nos últimos anos, a escolha de onde cursar uma graduação se tornou mais desafiadora. As opções, embora numerosas, têm muitas diferenças entre si – há possibilidades públicas e privadas, caras, baratas e gratuitas, presenciais, remotas e até híbridas.
A diversidade de possibilidades demanda que a decisão sobre onde estudar venha de uma análise aprofundada de elementos que passam por questões pessoais, como o perfil do interessado, suas condições financeiras e a localização da instituição; e aspectos qualitativos, como a nota que aquele estabelecimento recebeu em avaliações externas. Para ajudar nessa escolha, a reportagem de GZH ouviu especialistas, que explicam como analisar todos esses pontos.
Indicadores de qualidade
O órgão responsável por fiscalizar e avaliar a qualidade das IES é o Ministério da Educação (MEC), que possui indicadores divulgados por meio do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Os conceitos vão de 1 a 5, sendo 5 a nota mais alta. Os três principais índices são o Índice Geral de Cursos (IGC), que avalia a qualidade de ensino das instituições; o Conceito Preliminar de Curso (CPC), focado em cada curso individualmente; e o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), que mede o desempenho dos estudantes e é incorporado aos outros dois.
Todos esses indicadores podem ser conferidos no portal e-Mec. A busca pode ser por instituição, por curso de graduação e por curso de especialização.
Quando a procura é por instituição, aparecem as notas do IGC e do Conceito Institucional (CI), que é definido em análise in loco por especialistas do MEC. Em Porto Alegre, apenas duas IES têm conceito máximo no IGC – as universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e das Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Já quando a busca no e-Mec é por curso de graduação, o usuário pode procurar pelo nome do curso, definir a localização que lhe interessa e ter acesso aos resultados do CPC, do Enade, do Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD) e do Conceito de Curso (CC). Neste caso, todas as avaliações referem-se especificamente ao curso, considerando, por exemplo, corpo docente, infraestrutura e nota no Enade.
Segundo a coordenadora pedagógica do pré-vestibular Método Medicina, Angelita Dal Piva, notas abaixo de 3 são consideradas insatisfatórias. Averiguando o IGC e o CPC da instituição e do curso pretendidos, o candidato já tem um panorama melhor da qualidade do ensino e das condições oferecidas.
— São notas complementares, que dão ideia da qualidade. Com essas duas notas, se pode ter uma ideia melhor do que esperar — explica Angelita.
Currículos
Além dos indicadores do MEC, é importante pesquisar sobre o curso em si, a carga horária exigida em cada instituição de ensino e quais são as disciplinas oferecidas. Angelita alerta que, dependendo do curso, a diferença entre currículos pode ser grande:
— Na Psicologia, por exemplo, há cursos mais freudianos e outros menos, e já se percebe essa diferença pelo currículo. Para quem já pesquisou mais sobre o curso e tem uma clareza maior sobre qual ênfase prefere, tem uma diferença importante.
Diretor do Colégio Fleming, Anderson Barcelos pontua que também é fundamental olhar os sites das instituições de ensino, para entender qual a proposta pedagógica e a infraestrutura disponíveis.
— No site, conseguimos identificar se a instituição tem uma preparação boa para os processos acadêmicos e para a preparação para o mercado de trabalho. Também podemos perceber se há ações de impacto social, que, hoje, são de grande importância para a gurizada — observa Anderson.
EaD ou presencial?
Muitas das instituições de ensino que abriram as portas nos últimos anos oferecem cursos em educação a distância (EaD). Angelita ressalta que a escolha entre esta modalidade ou a presencial é pessoal – vai depender do perfil do estudante e do próprio curso.
— Claro, tem cursos com disciplinas que não podem ser remotas, mas não há garantia de que o curso seja melhor ou pior se é EaD ou presencial. Há, inclusive, cursos que eram presenciais e agora são híbridos, porque descobrimos, na pandemia, que tem atividades que não precisam ser presenciais. O desempenho do aluno vai depender de questões pessoais — analisa a coordenadora pedagógica.
Para Anderson, nesta escolha, o estudante precisa ser sincero consigo mesmo.
— Eu preciso me perguntar: o ensino online funciona para mim? É parte do projeto de vida do estudante saber o que funciona para ele ou não. Somado a isso, tem que se avaliar as propostas pedagógicas, as avaliações do MEC destes cursos e analisar se o mercado está absorvendo os egressos daquela graduação — sugere o diretor.
Aspectos pessoais
Para além das questões técnicas envolvidas na escolha da graduação, os especialistas também ressaltam a importância de analisar a sua própria vida e suas expectativas profissionais na hora de tomar a decisão. Anderson cita como pontos relevantes o projeto de vida do candidato, que definirá qual caminho faz sentido para ele trilhar, suas questões econômicas, que sinalizarão se é possível busca uma instituição privada, por exemplo, e a localização dos estabelecimentos de ensino.
— A escolha pela graduação nunca é fácil, porque é uma aposta no nosso futuro. Mas a gente se conhece e sabe o que funciona ou não pra gente e quais os meios que temos para alcançar nossos objetivos — salienta o diretor do Fleming.
Anderson alerta, ainda, que é necessário calma nesse momento é saber que se está fazendo a melhor escolha possível para aquele momento:
— O projeto de vida que eu tenho hoje não será o mesmo daqui a cinco anos, porque ele vai mudando. A dica é se conhecer e fazer uma reflexão profunda sobre si mesmo, para fazer a escolha mais real possível, ainda que sabendo que ela vai mudando.
Quando a dúvida é muito grande, Angelita indica que se busque um psicólogo que faça uma orientação vocacional. O método consiste em testes vocacionais e sessões de conversa, para entender as vocações e interesses da pessoa. A coordenadora pedagógica também recomenda que se converse com profissionais daquela área e, se possível, visite seus locais de trabalho, para “desromantizar” eventuais impressões sobre um segmento que às vezes, no dia a dia, é muito diferente do que o estudante imaginava.