Em mesas organizadas lado a lado, 30 participantes aguardavam concentrados o momento em que o único adversário se aproximava para movimentar mais uma peça do tabuleiro. Aos poucos, o número de lugares ocupados em sua maioria por crianças a partir de sete anos foi diminuindo. No final do jogo, o tricampeão brasileiro de xadrez Alexandr Fier colecionava todas as vitórias, mas a animação predominava inclusive entre aqueles que já haviam perdido, mas continuavam assistindo.
Promovida pelo Colégio Farroupilha, a partida de xadrez simultânea ocorreu na noite desta sexta-feira (20), na unidade Três Figueiras, em Porto Alegre. O enxadrista, que tem o título de Grande Mestre Internacional e é o atual vice-campeão brasileiro de xadrez, jogou contra 30 adversários ao mesmo tempo. Entre eles, estavam alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, educadores e também pais de estudantes da instituição.
Antes do início da partida, o clima era de empolgação entre os participantes, que não viam a hora de jogar com Fier. Mas, a partir do primeiro movimento de peças do enxadrista, o silêncio e as expressões de concentração tomaram conta do ambiente.
O xadrez é uma das atividades extracurriculares oferecidas pelo Colégio Farroupilha, desde 2020, para estudantes do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Atualmente, 18 alunos participam das aulas ministradas por Cesar Viegas, membro da Federação Gaúcha de Xadrez.
Para Fier, a iniciativa de ensinar o esporte às crianças e oportunizar esse tipo de encontro é algo muito importante:
— Quando eu era pequeno, tive um grande mestre jogando contra mim em uma simultânea parecida. Então, eu já estive do outro lado e fico muito feliz de agora poder ajudar e inspirar as crianças a chegarem até o topo.
O enxadrista relata que participar do evento foi uma ótima experiência, porque pode ver que o nível das crianças nesse esporte está crescendo. Ele também destaca que o xadrez é um jogo que não tem idade mínima e que é um passatempo melhor do que qualquer outro, por isso, deve ser apoiado.
Eliminados na metade da partida, Mendeli Vainstein, 44 anos, e o filho, Pedro Vainstein, de oito, adoraram poder jogar com o tricampeão. O professor de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) conta que começou a jogar xadrez quando tinha a idade de Pedro e que sempre gostou pela diversão, já tendo inclusive participado de um clube de xadrez e de um campeonato.
— Acho uma ótima iniciativa para incentivar os alunos a pensarem de uma maneira divertida. É importante pelo lado lógico e é lúdico também, por isso ensinei para ele. Tenho uma filha de cinco anos que também já está aprendendo a mexer as peças — diz Vainstein.
Na visão de Pedro, a experiência foi boa, apesar da derrota:
— Foi muito bom, eu até ganhei a rainha dele (do Fier). Mas eu tive que colocar a minha de isca, daí ele comeu a minha e eu comi a dele, foi uma troca. Eu gostei, mas ele deu xeque mate no meu pai e em mim.
Quando restou somente um tabuleiro com jogo em andamento, os participantes já eliminados se reuniram em volta para conferir o desfecho. Apesar do empenho, Alexandre Andrade, 44 anos, não conseguiu ganhar de Fier. Mas a chegada ao final da partida surpreendeu o servidor público, que também joga desde criança é pai de Arthur Andrade, sete anos.
— Foi fabuloso, realmente não imaginava. Temos jogado muito em casa, tenho estimulado bastante todos meus filhos. É um esporte muito saudável, que estimula o raciocínio e ajuda nas outras matérias, então é fantástico. Tem que ter mais eventos para podermos colocar essa garotada para jogar — ressalta, animado.
Prática do esporte ajuda os alunos
De acordo com a instituição, a prática do xadrez trabalha o desenvolvimento de raciocínio lógico, estratégia, criatividade e tomadas de decisões. Na modalidade, os participantes aprendem regras, noções táticas, estratégia, aberturas e defesas, xeque-mates elementares e acesso às ferramentas tecnológicas voltadas ao jogo.
Andressa Generosi, gerente de serviços educacionais do Colégio Farroupilha, afirma que a instituição sempre busca oportunizar novas experiências aos estudantes e que esse evento deveria ter ocorrido em 2020, mas, com a pandemia, precisou ser adiado. Na época, a intenção era promover a atividade extracurricular de xadrez, que estava iniciando.
Agora, o objetivo é aproximar os estudantes e a comunidade, que são apreciadores e jogadores de xadrez, de atletas, para que possam conhecer suas trajetórias: o trabalho desenvolvido, a disciplina, o estudo e o conhecimento necessários, e as dificuldades que passaram até chegar ao esporte profissional. Além disso, segundo Andressa, a prática do esporte gera reflexo em sala de aula.
— Estamos criando a cultura do xadrez na escola, porque entendemos que o xadrez desenvolve o raciocínio lógico e o nível de concentração dos estudantes. O Colégio Farroupilha tem os esportes como ponto forte, mas está ampliando para xadrez, arte e tecnologia, tentando trazer outras oportunidades e experiências para os alunos — aponta.