Determinado pelo governo do Estado, o retorno obrigatório dos estudantes da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) às aulas presenciais acontece faltando menos de 40 dias letivos para o encerramento das atividades deste ano nas escolas gaúchas. Ainda que não haja tempo para recuperar eventuais perdas de aprendizagem, o momento pode ser útil para “tirar a febre” sobre como estão os conhecimentos dos estudantes e ajudar as escolas organizarem para 2022, apontam especialistas em educação.
Coordenadora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unilasalle, Hildegard Jung destaca a função da escola enquanto lugar para aprendizagem, socialização e proteção contra violência, mas também da necessidade de preservar vidas. Nesse contexto, a docente destaca que grande parte das escolas já retomou algum tipo de atendimento presencial.
O papel do educador será alcançar todas essas crianças, para que todas consigam aprender
HILDEGARD JUNG
Coordenadora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unilasalle
— Precisamos ter as crianças na escola para fazer uma avaliação diagnóstica e entender como a escola vai lidar com a grande diversidade de alunos que terá. Há crianças que retornaram às aulas presenciais e outras que não retornaram, crianças que tiveram o acompanhamento dos pais durante as aulas remotas e outras que não tiveram, crianças que tiveram acesso às atividades e outras que não tiveram. O papel do educador será alcançar todas essas crianças, para que todas consigam aprender — conclui a educadora.
A coordenadora da Unilasalle salienta ainda a importância do retorno obrigatório das aulas para que se tenha uma real dimensão da proporção da evasão escolar ocorrida ao longo da pandemia. Ela alerta que o trabalho de busca ativa daqueles que não voltarem à escola será fundamental, a fim de entender a realidade das famílias desses estudantes.
O professor de Educação Roberto Rafael Dias da Silva, da Universidade do Vale do Sinos (Unisinos), considera que, antes de se pensar se a política é adequada ou não, é preciso analisar as condições sanitárias de segurança de produzir esse tipo de medida — se há protocolos sanitários rígidos, com distanciamento adequado, uso de máscaras e planos alternativos se houver aumento de casos. Também defende que haja programas de acompanhamento pedagógico.
— Esses adolescentes ficaram muito tempo fora da escola. Isso requer mudanças na cultura da instituição, para ajustar as novas demandas, e também projetos de socialização, porque os adolescentes precisam encontrar sentido novamente em ir para a escola — avalia o docente.
Professor titular do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fernando Becker celebrou a decisão e defende que as crianças voltem o quanto antes às salas de aula.
— Quanto mais se desce na faixa etária, tanto mais é importante a aula presencial, porque a criança tem dificuldade de imaginar e representar essa comunicação à distância, sem ter os colegas perto. A criança tem que entrar em contato com outras crianças, sentir o que querem, impõem, brigam, porque a vida é assim, cheia de desafios que, em casa, são minimizados — ressalta Becker.
Para o educador, a queda nos índices de mortes por covid-19 no RS oferece um panorama animador que autoriza o retorno da aula presencial sem maiores preocupações, sempre com o acompanhamento de profissionais da área da saúde. Ele defende, ainda, que o retorno presencial ainda em 2021 representará um “ótimo preparo” para que 2022 já comece presencialmente.