Após o retorno presencial de parte da Educação Básica, as universidades gaúchas se movimentam para ampliar a presencialidade em seu currículo no próximo semestre. Em 7 de julho, o Conselho Nacional de Educação publicou um parecer com orientações para o retorno às aulas presenciais para todos os níveis de ensino no país e que enfatiza que, no Ensino Superior, a modalidade remota é possível e recomendada. Mas, dentro das possibilidades de cada cenário, também indica as atividades presenciais.
Uma instituição avançada nos projetos é a Universidade do Vale do Sinos (Unisinos), que muniu todas as salas de aula com câmeras, microfones e alto-falantes e oferecerá atividades híbridas em todos os cursos de graduação e pós-graduação. Outras instituições, como a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a UniRitter e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pretendem aumentar a quantidade de aulas presenciais, mas ainda não definiram detalhes.
Na Unisinos, a ampliação gradativa da presencialidade já foi ocorrendo ao longo de 2020 e 2021, com a oferta de espaços como laboratórios, ainda que com uma série de restrições. Para aumentar o leque de possibilidades, a instituição passou o primeiro semestre deste ano equipando as salas de aula e capacitando os professores para o novo modelo.
— O que teremos a partir do início do segundo semestre é parte das turmas estando na universidade tendo aula e, ao mesmo tempo, interagindo com colegas que estão em casa, enquanto o professor interage com ambos os grupos. Nossa premissa central é permitir aos alunos que precisam ou querem retornar, que tenham o ambiente universitário disponível — destaca o diretor adjunto de Graduação da Unisinos, Guilherme Trez.
O investimento em equipamentos tecnológicos para as aulas deve se manter após a pandemia. Segundo o diretor adjunto, as atividades deverão continuar sendo gravadas para que os estudantes consigam revê-las e qualificar sua aprendizagem.
O retorno presencial será opcional e deverá atingir todos os cursos da Unisinos, mas não todas as atividades. Cada graduação fez uma análise sobre quais atividades acadêmicas demandavam mais a presencialidade, e parte delas envolverá encontros presenciais esporádicos, às vezes a cada 15 dias ou a cada mês.
Outras particulares
A PUCRS preparou para o segundo semestre de 2021 um modelo que prevê a ampliação das atividades presenciais de maneira gradual e controlada, com a abertura de espaços e ambientes de suporte ao ensino, serviços e laboratórios. A instituição, porém, ainda não divulgou exatamente que modelo será esse. Ao longo dos próximos dias, o formato pensado para cada curso será compartilhado com as equipes e, depois, com os estudantes, mas os alunos já podem buscar os coordenadores de suas faculdades para tirar dúvidas.
A UniRitter decidirá sobre a retomada presencial no segundo semestre de acordo com o cenário pandêmico e as necessidades de cada curso. A instituição garante, entretanto, que comunicará seus alunos com antecedência por meio dos canais oficiais, com as orientações sobre os próximos passos, e que o retorno, quando houver, ocorrerá “de maneira gradual e em segurança”.
Na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), não há previsão de retomada presencial das aulas teóricas. Algumas atividades práticas, porém, já estão ocorrendo de forma presencial, dependendo da análise que os cursos fazem em relação às competências desenvolvidas nas disciplinas e aos recursos necessários. O formato seguirá o mesmo no segundo semestre.
A Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) já trabalha com atividades híbridas, em especial as práticas, com turmas divididas. Com relação às teóricas, a instituição está mapeando turmas que sejam menores e possam ter aulas presenciais, considerando, também, a capacidade de transmissão online.
— Com certeza teremos mais um semestre híbrido, esperando a melhoria das condições sanitárias para aumentar cada vez mais a presencialidade. Nos próximos dias, haverá o processamento de matrículas, quando poderemos definir o que é possível fazer de forma presencial e o que é possível e que seguirá sendo feito de forma remota — explica a diretora de Ensino de Graduação da Unisc, Giana Sebastiany.
Já a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) mescla desde o ano passado as aulas teóricas remotas com as atividades práticas presenciais em laboratórios e em estágios, sempre dependendo das autorizações das autoridades sanitárias. A previsão é de manter as atividades nesse modelo híbrido também no segundo semestre.
Retomada presencial é mais lenta nas instituições públicas
Ainda que muitas ofereçam algumas atividades de forma presencial, as instituições públicas de Ensino Superior caminham mais devagar para o ensino híbrido.
No Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), regulamentos internos já permitem um retorno escalonado, gradual e seguro ainda neste ano, e, hoje, algumas atividades presenciais são liberadas, como a entrega de materiais físicos, o uso de bibliotecas e laboratórios e a realização de projetos de ensino, pesquisa e extensão, como os trabalhos de conclusão de curso. A ampliação das liberações, porém, dependerá da melhoria das condições sanitárias em cada um dos 16 municípios onde a instituição atua.
— A previsão é de ter o corpo docente imunizado a partir de setembro, o que nos dá mais conforto para pensar em atividades presenciais — firma o pró-reitor de Ensino do IFRS, Lucas Coradini.
Um desafio, porém, é enfrentar as dificuldades orçamentárias em meio à pandemia, que serão agravadas caso o retorno presencial aconteça. O IFRS usou parte de seus recursos para adquirir e distribuir entre alunos mais vulneráveis chips com pacotes de dados e tablets. A instituição também entrega kits de alimentação nos domicílios dos estudantes, com o dinheiro da alimentação escolar.
— Estamos enfrentando o pior ano orçamentário da última década. A instituição já tem dificuldade de pagar contratos básicos de insumos e limpezas, por exemplo, e só não tivemos um ano pior porque as atividades foram remotas, o que reduziu as despesas com luz, água, passagens e diárias, por exemplo. Mas, sem dúvida, o retorno presencial nos trará uma realidade orçamentária muito dura — avalia Coradini.
Fora da curva das universidades públicas, por ter em seu DNA justamente a tão necessária, hoje, formação de profissionais da área da saúde, a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) nunca parou e, na verdade, até triplicou o trabalho. Muitos de seus laboratórios se tornaram espaços para a realização de testes e a produção de equipamentos de proteção individual (EPIs), por exemplo.
Com a demanda, os estágios não pararam, e alunos participam de um projeto de telemonitoramento da pandemia que já atendeu 50 mil pessoas. As atividades práticas das aulas da graduação, porém, sofreram redução. No começo de 2021, foi feito um projeto-piloto para o retorno, que acabou sendo interrompido pelo pico de contaminações registrado em março.
Por enquanto, a previsão é de retorno de grupos pequenos, só com pessoas que querem voltar ao formato presencial, e exclusivamente em atividades práticas. As coordenações de cada curso estão definindo as disciplinas prioritárias, e a retomada será feita de trás para frente – os formandos já estão realizando as atividades práticas de modo presencial, e os próximos contemplados serão os alunos do penúltimo semestre, abrangendo, na sequência, os estudantes dos níveis anteriores.
— Temos dois grupos de alunos: os que querem muito voltar e os que estão com medo. A tendência é de um retorno gradual das atividades práticas. As teóricas não voltam tão cedo porque são mais substituíveis, principalmente para os adultos — relata a reitora da instituição, Lucia Pellanda.
Apesar dos cortes orçamentários sentidos pela UFCSPA, a reitora afirma que, mesmo que “com muita dificuldade e perda de qualidade”, é possível manter o semestre, caso ocorra o retorno presencial. Ela salienta, porém, que é necessária uma recomposição do orçamento.
UFRGS mantém modelo quase totalmente remoto
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alguns cursos da área da saúde seguiram com atividades práticas presenciais, inclusive de combate à covid-19 – os demais migraram para o formato remoto, mesmo nas aulas práticas e nos estágios. Outros cursos da área da saúde, como Odontologia, tinham atividades por meio de simulações e, agora, devem ter a retomada gradual da presencialidade. As restrições, no entanto, são severas: apenas alunos vacinados poderão comparecer.
De modo geral, porém, o próximo semestre na UFRGS será remoto, com a recomendação de que os estágios sigam sendo feitos a distância. Para o ano que vem, pode haver uma alteração para um modelo híbrido, desde que aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). A instituição aguarda uma regulamentação, por parte do Conselho Nacional de Educação, que oriente a rotina nas universidades. A falta de recursos para a adaptação ao modelo híbrido preocupa.
— Temos muitas salas sem o padrão novo que se exige. Também precisaríamos comprar muitos EPIs e fazer a testagem de nossos estudantes e servidores, que, somados, são em torno de 80 mil pessoas. Ainda não ficou claro como será feito o financiamento dessas adaptações — pontua o vice-pró-reitor de Graduação da UFRGS, Leandro Raizer.
A preocupação não é só com a comunidade universitária. Raizer ressalta que o retorno das aulas presenciais da UFRGS representaria uma circulação de pelo menos mais 80 mil pessoas em Porto Alegre todos os dias, o que pode contribuir com o aumento dos casos de covid-19.
Assim como a UFRGS, a UFSM só tem atividades práticas presenciais voltadas para os cursos da área da saúde. A tendência é que a oferta seja ampliada ao longo do semestre – até dezembro, a expectativa é de que outras faculdades elaborem planos de contingência para demonstrar como o espaço físico pode ser usado com segurança, para que os documentos sejam analisados e aprovados pelo Centro de Operações de Emergências da Saúde (COE) regional.
— O nosso segundo semestre começa em outubro e termina em fevereiro. Até fevereiro, teremos um modelo híbrido, com a parte teórica online e a parte prática gradualmente recuperando a presencialidade. Aí, em março, esperamos que a pandemia esteja controlada a ponto de pensar até no retorno da presencialidade das teóricas — relata o pró-reitor de Graduação da UFSM, Jeronimo Tybusch.
Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), está sendo avaliada uma indicação para o retorno de algumas atividades práticas a partir do final de setembro, mas depende da evolução da pandemia. Já existe desde junho um protocolo que estabelece normas para quando isso puder ocorrer, mas ainda não há datas definidas.
Já na Universidade Federal do Rio Grande (Furg) não há previsão de retomada presencial para o primeiro semestre, que começou em junho e vai até setembro. A instituição informou que segue acompanhando os indicadores da pandemia para avaliar possibilidades futuras para o segundo semestre, a ser iniciado em novembro.
Na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), há possibilidade de oferta de mais atividades presenciais. Atualmente, elas só são realizadas quando há necessidade, em aulas práticas em laboratórios, por exemplo. De modo geral, as atividades práticas seguirão suspensas enquanto durar a pandemia.