Taquara, no Vale do Paranhana, foi mais uma cidade do interior do Rio Grande do Sul a retomar as aulas presenciais do Ensino Médio nesta semana. Na manhã desta terça-feira (29), 20 alunos do 3º ano da escola particular Dorothea Schäfke foram recepcionados pelo professor de música com a canção Vira, Virou, de Kleiton e Kledir. A letra traduzia o espírito geral: Vou voltar na primavera/E era tudo que eu queria.
As aulas presenciais do Rio Grande do Sul estão sendo retomadas primeiramente pelas escolas particulares mais tradicionais de cada cidade, onde há menos estudantes e maior poder aquisitivo para implementar regras sanitárias.
Desde 21 de setembro, podem voltar Ensino Superior, Ensino Médio e Ensino Técnico, se a cidade tiver bandeira laranja por duas semanas consecutivas – antes, a Educação Infantil já estava autorizada (veja o calendário ao fim do texto).
Já houve retorno de instituições particulares em cidades como Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Santa Cruz do Sul, Lajeado, Teutônia, Horizontina, Guaporé e Estrela, segundo o Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS).
Nesta semana, foi a vez de Ijuí na segunda-feira (28) e, nesta terça, de Taquara e Nova Prata.
Os cuidados adotados no Dorothea Schäfke, em Taquara, são os mesmos de escolas do mundo inteiro, como máscaras obrigatórias, uso de álcool em gel, medição de temperatura e distanciamento. As classes têm marcado o nome de cada aluno. Na semana passada, a Educação Infantil já havia voltado.
Como particularidade, não há revezamento entre grupos de alunos nas aulas presenciais – a turma é pequena e os estudantes não quiseram ser divididos. A instituição, então, mediu o auditório e constatou que o local tinha tamanho exigido por lei para abrigar a todos com a distância necessária.
Após sete meses sem encontros ao vivo, a volta foi uma mistura de ansiedade e alegria, segundo Simone Weber, diretora do Dorothea Schäfke.
— Foi uma volta pontuada pela ansiedade de como será e pela alegria de poder voltar. Houve um estranhamento com a entrada, mas seguiram todos os protocolos. Passamos sete meses longe. Agora, eles podem voltar e vai depender de uma ação conjunta ter sucesso. Eles entenderam e estão muito abertos e receptivos. Eu disse para eles: a vida anda pra frente, tem uma hora que temos que colocar o pé para fora, com todos os cuidados.
A volta foi emocionante para Sophia Jacobus, 17 anos, que mora em Igrejinha e prestará vestibular para Medicina. Ela descreve uma certa melancolia ao contar da decepção em ver a suspensão das aulas presenciais justamente no último ano da escola, quando a turma previa viagem, gincana e outros eventos marcantes de despedida do ensino básico.
— Eu estudo há 10 anos nessa escola. Nossos colegas são muito mais do que colegas, são amigos e irmãos. Não vi eles por meses. Para nós, pesou: a gente tinha vários planos que foram adiados. Fico é feliz de estar de volta — conta.
Resto do Estado
Com o modelo de distanciamento controlado, o Piratini permitiu a volta do Ensino Médio nesta semana nas seguintes regiões: Bagé, Cachoeira do Sul, Canoas, Capão da Canoa, Caxias do Sul, Erechim, Guaíba, Ijuí, Lajeado, Palmeira das Missões, Passo Fundo, Pelotas, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santa Rosa, Taquara e Uruguaiana.
A volta, contudo, depende de aval das prefeituras, e nem todas as cidades liberaram as aulas presenciais. Na maior parte do Estado, creches e escolas seguirão fechadas nas próximas semanas.
O argumento principal de prefeitos é de que os números de casos de contaminação por coronavírus e de mortes associadas à covid-19 ainda preocupam. Nos bastidores, muitos temem que uma piora da epidemia atrapalhe as eleições municipais.
As associações dos municípios das áreas de Santa Rosa, Litoral Norte, do Vale do Rio Pardo e da Zona Sul afirmaram que não há previsão de retorno até meados de outubro. Já a do Norte informou que não deve voltar nem mesmo no próximo mês.
As 15 cidades da associação do Vale do Rio dos Sinos (Amvars) decidiram que não terão aulas presenciais nas escolas municipais em 2020. São mais de 100 mil alunos do Ensino Fundamental que só voltarão a frequentar as salas de aula em 2021. A exceção fica para quem está cursando o 9° ano do Ensino Fundamental — para esses casos, cada prefeitura decidirá sobre o retorno.
Em Porto Alegre, a prefeitura divulgou que as atividades presenciais de ensino serão retomadas a partir da próxima segunda-feira (5). "Estarão autorizadas a reiniciar as aulas a Educação Infantil, o terceiro ano do Ensino Médio, o ensino profissionalizante e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A oferta de EJA na rede municipal, ainda que autorizada, deverá ocorrer a partir do dia 19 de outubro", diz o texto da prefeitura. No entanto, o governo do Estado afirmou a GZH que o retorno depende de critérios que serão debatidos ao longo da semana.
Em Canoas, a previsão é de que a Educação Infantil da rede privada tenha autorização para receber crianças novamente a partir de quinta-feira (1º).
A prefeitura de Pelotas anunciou na manhã de sexta-feira (25) um decreto permitindo o funcionamento das escolas da Educação Infantil privada a partir de outubro.
A intenção, em Erechim, conforme o prefeito Luiz Francisco Schimidt, é de que escolas da rede privada voltem às aulas a partir de 5 de outubro.
Como está o calendário de volta às aulas*
- Educação Infantil: ocorreu em 8 de setembro
- Ensino Médio privado e Ensino Superior: ocorreu em 21 de setembro
- Ensino Médio em escolas estaduais: 13 de outubro
- Ensino Fundamental (anos finais), incluindo rede estadual: 28 de outubro
- Ensino Fundamental (anos iniciais), incluindo rede estadual: 12 de novembro
*Região precisa estar em bandeira laranja há duas semanas e prefeitura deve autorizar a retomada
*Colaboraram Guilherme Justino e Iarema Soares