Correção: Miami não é a capital da Flórida, como publicado entre as 16h12min de 20 de agosto e as 13h25min de 22 de agosto. A capital da Flórida é Tallahassee. O texto já foi corrigido.
Distanciamento, lotação pela metade, máscaras em sala de aula e escalonamento por idade são regras adotadas por escolas do mundo inteiro que retornaram às aulas neste ano. Ao contrário do Brasil, países europeus e a maior parte dos Estados Unidos controlaram a epidemia de coronavírus antes da retomada.
Depois de o governador Eduardo Leite (PSDB) prever a volta das classes presenciais — a Educação Infantil retornaria em 31 de agosto —, GaúchaZH conversou com brasileiros que residem em regiões onde as escolas vivem o "novo normal".
Certos protocolos são comuns em qualquer lugar, como o enxugamento das turmas, a abundância de álcool gel, o uso de termômetros na entrada e horários distintos para entrada na instituição e intervalo. No Brasil, apenas Maranhão e Amazonas já voltaram às aulas. Veja a seguir os relatos:
Amazonas registrou aglomeração
- Aulas suspensas: 16 de março
- Retomada: 6 de julho na rede particular, 10 de agosto na rede estadual
![Tácio Melo / Secretaria de Educação do Amazonas Tácio Melo / Secretaria de Educação do Amazonas](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/25991389.jpg?w=300)
Após viver o pico do coronavírus entre abril e maio, o Amazonas retomou as aulas da rede estadual em 10 de agosto, começando por mais de 100 mil alunos do Ensino Médio. As turmas foram divididas nos blocos A, com aulas presenciais às segundas e quartas, e B, com encontros às terças e quintas. Quem fica em casa segue com atividades remotas.
A rede privada já havia retornado em julho — a Secretaria Estadual da Educação justificou que a rede pública é maior e necessitava de mais tempo para preparar-se. Apesar de haver horários tabelados para entrar nas instituições, foram registradas aglomerações ao longo da semana.
Professor de inglês em duas escolas da rede estadual de Manaus, Antonio Lisboa afirma que o distanciamento é respeitado por parte dos alunos — outros dão menor importância. Nesta primeira semana, os docentes revisaram os conteúdos dados remotamente.
— Tem horários diferentes para os intervalos e evitar aglomeração nos corredores, mas sempre tem aluno junto e a gente tem que ficar avisando para não se encostarem. É inevitável o contato social. Ficou puxado para os professores porque agora atendo a alunos da manhã e da tarde e ainda preciso providenciar um horário extra para os alunos que não vierem à escola — diz Lisboa, que dá aulas para mais de 600 alunos.
Uruguai retomou aulas em abril
- Aulas suspensas: 13 de março
- Retomada: 22 de abril
O Uruguai não decretou isolamento obrigatório para os 3,5 milhões de habitantes, mas determinou medidas de restrição como fechamento de lojas, restaurantes, cinemas e teatros, além de suspensão das aulas. Para assegurar o aprendizado nas aulas a distância, o governo distribuiu tablets para 100% dos alunos da educação básica.
Em abril, o país se tornou o primeiro da América Latina a retomar as aulas presenciais, começando pelas escolas rurais. Em junho, foi a vez das zonas urbanas, incluindo Montevidéu. Tudo ocorreu com a epidemia controlada (havia 20 mortes no total quando a abertura geral das escolas foi anunciada). Como particularidades, o uso de máscaras é obrigatório para estudantes secundários e as aulas têm no máximo quatro horas.
![Erica Rehder / Arquivo pessoal Erica Rehder / Arquivo pessoal](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/25991759.jpg?w=300)
Donos de uma tradicional padaria que emprega 60 pessoas em Montevidéu, o uruguaio Antonio Esmerode, 43 anos, e a paulista Erica Rehder, 41, ficaram aliviados quando os filhos Máximo, três anos, Xavier, 10, e Alex, 13, puderam voltar à escola particular onde estudam. Conciliar a empresa, que seguiu aberta, com as crianças exigiu jogo de cintura. As regras adotadas no país tranquilizaram a família.
— São quatro horas diárias de aula e três horários diferentes para entrar: 7h45min, 8h e 8h15min. Tem termômetro na porta, tapete na entrada e jogam uma substância na mochila e nos cabelos dos alunos. Claro que deu receio no começo, ainda mais ouvindo os casos de São Paulo, mas fiz os meninos lerem todo o protocolo e eles se organizaram. No fim, não teve nenhum problema, foi super tranquilo voltar às aulas — resume a empresária.
Nos Estados Unidos, retomada em regiões ocorre com ascensão da epidemia
- Retomada das aulas: depende do Estado.
A maioria dos estudantes do ensino básico norte-americano ainda estuda de forma remota, mas alguns Estados já retomaram as atividades, como Indiana, Mississippi e Tennessee. Nova York planeja a volta em setembro com controle da epidemia, mas já houve retornos em regiões com cenário em piora, caso de Texas e Geórgia. Marcadamente, escolas em Estados republicanos tendem a abrir mais.
Os protocolos variam — o departamento de saúde do Mississipi, por exemplo, aconselha fechar a escola se três turmas ou clubes de atividades distintos têm novos casos de covid-19. Na Califórnia, fecha-se a escola se 5% dos alunos e profissionais ficarem doentes dentro de 14 dias.
Está prevista para 31 de agosto a retomada das aulas da escola particular dos filhos do ex-governador do Rio Grande do Sul Antonio Brito em Miami, na Flórida, onde a família vive há mais de três anos. A volta é opcional: câmeras instaladas em todas as salas transmitirão ao vivo para quem estiver em casa.
![Antonio Brito / Arquivo pessoal Antonio Brito / Arquivo pessoal](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/25991377.jpg?w=300)
Os trigêmeos Pedro, Bernardo e o Caetano, 17 anos, serão examinados na entrada por termômetros e oxímetros. Na escola onde estudam, as turmas em geral são pequenas, mas eventuais grandes grupos terão aula no ginásio. Todo o sistema de refrigeração por ar-condicionado recebeu filtros que sanitizam o ar.
Como a tradição é que os alunos se desloquem até a sala do professor da disciplina (e não o contrário, como é hábito no Brasil), a cada troca de turma, a sala será higienizada. Uma vez por semana, pais devem preencher um formulário informando a condição de saúde dos filhos.
— As providências que a escola tomou são muito bem feitas, então a gente se sente muito seguro. As turmas por aqui costumam ser pequenas também, porque a grade curricular é diferente da do Brasil. Combinamos que eles voltam para a escola, se a situação (de Miami) não piorar até lá. Como estão no último ano e o último semestre importa para ter nota para aplicar para as universidades, em princípio eles irão presencialmente — afirma Brito.
Na Holanda, máscaras não são obrigatórias para crianças
- Suspensão das aulas: 16 de março
- Retomada das aulas: 11 de maio
A volta às aulas na Holanda foi liberada apenas após expansão da testagem e semanas consecutivas de queda acentuada no número de casos. Começaram as creches, Ensino Fundamental e educação especial — quase um mês depois, o Ensino Médio retornou. De início, eram duas aulas por semana, para depois a rotina ser retomada. O ano escolar já acabou e agora há férias – crianças menores de 12 anos não precisam usar máscara nem praticar distanciamento.
![Brenda Lucena / Arquivo pessoal Brenda Lucena / Arquivo pessoal](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/25991309.jpg?w=300)
O controle da epidemia, com baixo número de novos casos, e as exigências do trabalho foram decisivos para que a designer carioca Brenda Lucena, 36, e o marido, o engenheiro de software Fábio Fonseca, 40, permitissem que a filha Olívia, seis anos, voltasse à escola para se formar no Jardim de Infância na cidade de Utrecht, região central da Holanda.
— A gente ficou com medo no início, mas vale lembrar que crianças têm risco menor e que, quando anunciaram a volta às aulas, estávamos há duas semanas em declínio gritante de casos. Não havia nenhum platô de 1 mil mortes por dia. Minha cidade sempre teve número baixo de casos, o que trouxe certa tranquilidade. E só voltaram quando expandiram a testagem, então qualquer professor poderia ser testado ao menor sintoma. Até agora, na escola da minha filha, ninguém pegou coronavírus — diz Brenda.
Israel registrou grave surto em escola
Em meio a temperaturas acima de 40ºC, uma escola secundária de Israel fechou janelas das salas, ligou o ar-condicionado ao máximo, liberou a exigência de máscaras port rês dias e voltou às atividades da mesma forma como antes da pandemia. Após duas infecções confirmadas, a instituição testou em massa alunos, professores e funcionários. Descobriu-se um surto de quase 200 contaminações, um dos piores do país. O caso virou exemplo de erro para o mundo inteiro e mudou a estratégia do governo israelense, que passou a retomar as aulas pela pré-escola e formandos.
Noruega e Dinamarca voltaram em abril
Ambos os países retomaram as aulas em abril, primeiro pelos alunos mais jovens e turmas reduzidas — na Noruega, o máximo era de 15 alunos. O tamanho das turmas foi aumentando gradualmente, semana após semana. Não houve aumento expressivo na epidemia.
Principais medidas adotadas pelos países que retomaram as aulas:
- 50% de lotação na sala de aula,
- Retorno gradual dos alunos por idade
- Entrada na sala de aula e recreio em horários distintos
- Presença voluntária
- Máscaras obrigatórias, pelo menos para os mais velhos
- Colocação de tapete sanitário nas entradas
- Adesivos no chão demarcam distância segura
- Janelas abertas para aumentar a ventilação
- Aulas em ginásios ou ao ar livre para turmas grandes
- Cancelamento de atividades físicas no início
- Limitação de no máximo quatro horas de aula