A saúde emocional de muitos professores no Rio Grande do Sul está comprometida em meio à pandemia e ao ensino remoto. Para 24,45% dos docentes em escolas da rede pública e privada no Estado, a saúde emocional neste período é classificada como ruim ou péssima, enquanto 33,1% dos profissionais a definem como apenas razoável. Os dados fazem parte da pesquisa "A situação dos professores no Brasil durante a pandemia", realizada entre 16 e 28 de maio, que contou com a participação de 9.557 profissionais de escolas municipais, estaduais e particulares em todo o Brasil – 589 deles no Rio Grande do Sul.
Somente 11,3% dos professores gaúchos declararam se sentir em situação "excelente" ao comparar sua saúde emocional com o período pré-pandemia. Entre os motivos relatados em depoimentos dos professores ouvidos no levantamento, há estresse envolvido na necessidade de aprender rápido, risco de contaminação, insegurança em relação ao futuro, falta de reconhecimento das famílias e gestores, excesso de atividades.
A pesquisa se propôs a capturar o cenário vivenciado pelos docentes em quatro eixos: participação dos alunos e famílias nas atividades, situação do professor, situação da rede e perspectivas para o retorno das atividades presenciais.
— Estamos vivendo um período de muitas incertezas, mas entendemos que uma das maneiras de reduzir os efeitos da quarentena é investir em redes de apoio e oferecer bons recursos de trabalho e formação para professores, levando em conta os desafios inerentes desse contexto — afirma Ana Ligia Scachetti, gerente pedagógica da Nova Escola.
Para o psicopedagogo Wadson Rafael, os professores são alvo de uma grande pressão psicológica diante da demanda apresentada neste período.
— As cobranças são inúmeras, e a atividade remota pegou de surpresa esses profissionais. Mas conseguimos desenvolver e nos adaptar a essa nova necessidade gerada pela pandemia — destaca o profissional.
Uma das maneiras de reduzir os efeitos da quarentena é investir em redes de apoio e oferecer bons recursos de trabalho e formação para professores.
ANA LIGIA SCACHETTI
Gerente pedagógica
Ele afirma ainda que, por outro lado, há as famílias desses professores, que sofrem e recebem de forma integral ou parcial as mesmas pressões, pois, com esse regime remoto, os educadores continuam a desempenhar seu trabalho mesmo estando em casa.
— É necessário que não apenas o professor, mas também toda a família seja fortalecida emocionalmente para conseguir apoio e juntos passarem por esse momento delicado em nossa história — explica o psicopedagogo.
A pesquisa também questionou como, para além dos desafios e sentimentos inerentes à pandemia, tem sido o nível de participação e engajamento dos estudantes e famílias com as atividades propostas pelos professores. E os dados revelam, além de uma baixa participação – especialmente nas instituições pública –, as disparidades entre as redes estaduais e municipais e o ensino particular.
É necessário que não apenas o professor, mas também toda a família seja fortalecida emocionalmente para conseguir apoio e juntos passarem por esse momento.
WADSON RAFAEL
Psicopedagogo
No cenário nacional, a maior parte dos professores que atuam na rede pública afirma que poucos de seus alunos têm participado das atividades. Em contrapartida, nas redes privadas, a maioria dos docentes relatou que os alunos têm, em grande parte, participado das atividades remotas. No Rio Grande do Sul, o cenário é diferente: a participação dos alunos é apontada como constante pela maior parte dos professores, mesmo nas escolas públicas. Já a participação das famílias é menos constante.
Os depoimentos coletados apontam que a falta de equipamentos eletrônicos e acesso à internet são os principais motivos para a ausência de retorno dos alunos sobre as tarefas e para o incentivo e apoio das famílias ao ensino remoto. Alguns professores relatam ainda a dificuldade dos alunos para acessar os aparelhos dos pais, seja porque estão fora de casa trabalhando ou porque os celulares não possuem recursos tecnológicos ou conectividade que suportem o recebimento e envio dos conteúdos pedagógicos.
Os participantes foram convidados a avaliar com uma nota a experiência de trabalhar com o ensino remoto durante a pandemia. No Rio Grande do Sul, 35,83% dos participantes avaliaram a experiência como razoável, enquanto para 29,37% foi ruim ou péssima. Entre os principais fatores negativos apontados pelos educadores que avaliaram a experiência aparecem os desafios para a adaptação do formato, baixo retorno dos alunos, alta cobrança de resultados, crescimento da demanda de atendimento individual às famílias e falta de capacitação, de infraestrutura e de contato direto com os alunos.