Liberadas pelo governo do Estado para retomar as atividades presenciais, escolas de idiomas devem adotar estratégias distintas para reabrir as portas durante a pandemia de coronavírus. Enquanto algumas já se organizam para levar as atividades de volta à sala de aula, o que pode ocorrer a partir do dia 15, outras optaram por manter planos de atividades a distância até ter uma noção mais clara de como a situação irá evoluir nas próximas semanas. Há quem cogite fechar em definitivo.
Diretora do Yazigi Menino Deus, na Rua Botafogo, Andrea Gert conta que o local começou a se preparar para o retorno na semana passada. Adquiriu tapetes sanitizantes, termômetros digitais, álcool gel e placas informativas. As mudanças, no entanto, devem ser para poucos. Uma pesquisa feita pela escola apontou que somente 5% dos cerca de 270 estudantes pretendem frequentar as aulas agora.
– Muita gente não quer retornar. Apesar de todas as medidas, as pessoas não estão se sentindo seguras. Quem quiser continuar online, vamos deixar – observa
Com cerca de 7 mil alunos em todo o Estado, o Senac também trabalha em um protocolo para voltar com as aulas presenciais nas próximas semanas, atendendo às determinações do governo para a manutenção do distanciamento. O plano é organizar a retomada de forma escalonada, para garantir que não haja aglomerações. Não sabem, no entanto, se os alunos irão aparecer.
– Nossos módulos mais avançados, que têm turmas menores, poderiam voltar a funcionar normalmente mantendo o distanciamento. Mas a gente percebe que os alunos têm um pouco de medo – diz o gerente de educação, Ariel Berti.
Assim como no Yazigi, as aulas a distância serão mantidas em um primeiro momento. Já as atividades com crianças, suspensas no começo da pandemia, devem seguir paralisadas, pelo menos, até o fim de junho.
Apenas nos chamados cursos livres (como idiomas, artes e profissionalizantes) o governo do Estado estima que cerca de 100 mil alunos poderão retornar às salas de aula na segunda quinzena de junho. O aumento da circulação está entre as preocupações de quem nem sequer cogitou voltar.
Diretor do Instituto Cervantes, José Vicente Ballester avalia que a retomada, com o quadro de casos em ascensão, poderia colocar os alunos em risco.
– Vamos ser muito prudentes. Não tem porque ter pressa. Até porque não são só as aulas, tem o deslocamento, muitas pessoas usam transporte público. Essa pandemia é coisa séria – justifica.
Segundo Ballester, os cerca de 150 alunos do instituto, que trabalha com o ensino de espanhol, seguirão tendo classes pela internet, pelo menos, até o fim de junho. Caso a evolução dos casos se mantenha controlada, o retorno deve ocorrer por setores, começando pela parte administrativa.
Avaliação semelhante teve a Aliança Francesa de Porto Alegre, que planeja estender as atividades à distância, pelo menos, até o fim de julho. Conforme a assessoria de imprensa da instituição, há possibilidade de retorno em agosto, em formato híbrido: parte das aulas ocorreria de forma presencial, e parte delas, virtualmente.
Cancelamentos e futuro incerto
Sócio e diretor da escola de inglês Brasas, que atende a cerca de 300 estudantes, Igor Amorim também é cauteloso ao projetar o retorno às atividades presenciais. Além da preocupação com a segurança de alunos e funcionários, teme mobilizar a equipe para um retorno e, diante de um surto mais forte da doença, ter de fechar as portas novamente (o plano do governo prevê suspensão das aulas presenciais em regiões com bandeira vermelha).
– A gente acha que o número de casos vai aumentar com a flexibilização. Para o negócio, é ruim ficar abrindo e fechando – diz o diretor, que estima ter perdido cerca de 20% dos alunos desde o começo da pandemia.
A resistência de parte dos alunos à modalidade a distância também tem impactado no orçamento das escolas, algumas das quais já se veem em risco. Coordenador-geral da UP Idiomas, no bairro Menino Deus, Diego Groisman diz que apenas 30% dos estudantes aderiram às aulas online.
– Agora tem mais gente buscando, porque as pessoas estão vendo que a pandemia vai ser mais longa do que imaginavam. Mas a gente acha que o segundo semestre vai ser muito difícil. Vamos ter de fechar se não conseguirmos dar conta das despesas – lamenta.
Apesar da situação difícil, a escola descarta retomar as aulas presenciais enquanto os casos de coronavírus não se estabilizarem no Estado.
Veja as cinco fases de retomada das aulas no plano do governo
- Fase 1 – Início em 1º de junho – Volta às aulas remotas (ensino a distância) para rede pública estadual
- Fase 2 – Início em 15 de junho – Volta às aulas presenciais para atividades práticas essenciais para a conclusão do curso, pesquisa, estágio curricular obrigatório na graduação, pós-graduação e ensino técnico
- Fase 3 – Início em 1º de julho – em aberto.
- Fase 4 – Início em 3 de agosto – em aberto.
- Fase 5 – Início em 1º setembro – em aberto.