A chegada de dois alunos surdos mudou a rotina da turma 4C, do 4º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Arnaldo Grin, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Para melhorar a comunicação com os novos colegas, os estudantes decidiram espalhar cartazes com gestos da língua brasileira de sinais (libras) pela sala de aula, depois, pelos corredores do colégio, e, em seguida, criar um aplicativo de celular.
Por iniciativa própria, pequenos desenvolvedores de 9 a 11 anos de idade programaram um app para ensinar os usuários a se comunicar em libras. O trabalho foi supervisionado pela professora Clarissa Paz de Menezes, que acompanha a turma desde o início do ano e percebe não só a melhora na comunicação entre os estudantes, mas também no desempenho escolar dos alunos de inclusão.
Para ela, a evolução rápida passa pela inserção social no ambiente escolar, e o aplicativo criado em sala de aula teve papel fundamental nesse processo.
— Professores de outras turmas comentam que, às vezes, os alunos estão num bolinho em volta do celular fazendo mímica, e aí se dão conta de que estão imitando os gestos ensinados no aplicativo — conta Clarissa.
O app “Começar Libras” foi criado a partir do estudo de tutoriais na internet, usando a plataforma MIT App Inventor para programar em Chromebooks (computador portátil do Google) disponibilizados em sala de aula todas as terças-feiras. As máquinas foram distribuídas pela Secretaria Municipal de Educação no ano passado, por meio do programa Escola Conectada, do governo federal, que também provê acesso à internet. O desenvolvimento envolveu todos os 25 alunos, divididos em grupos: enquanto uns programavam na plataforma, outros trabalhavam na pesquisa. Os ajustes finais de programação eram feitos pela professora.
Recursos
A interação com o usuário se dá por meio de jogos de memória e quiz. O app também apresenta o alfabeto em libras e a história da língua. O desenvolvimento começou em abril e foi destaque na mostra científica da escola, habilitando os alunos para a feira municipal de ciências, na semana passada. Com certa dose de timidez, eles repetem a apresentação para a reportagem – com tradução simultânea em libras.
— Nosso objetivo é melhorar a comunicação de alunos surdos na escola — resume Pedro Frantz de Lima, nove anos.
Os principais sinais ensinados no app são as expressões básicas de conversas cotidianas do ambiente escolar, como “professor”, “amigo”, “escrever”, “estudar”.
— A atividade envolveu toda a escola, porque, primeiro, eles aplicaram um questionário às outras turmas, para saber se o aplicativo teria boa aceitação. Agora, toda a comunidade escolar está se alfabetizando em libras com o trabalho deles — conta a vice-diretora Aline Schtscherbyna.
Localizada no bairro Santo Afonso, a escola recebe alunos de baixa renda. Muitos deles só têm acesso à internet no ambiente escolar. A turma da professora Clarissa segue aperfeiçoando o app, mesmo sem compreender em profundidade a linguagem de programação.
A expectativa da educadora é de que o trabalho possa chamar atenção de desenvolvedores voluntários ou até de investidores, para ser aprimorado e entrar nas lojas de aplicativos.