Hoje, uma reunião do conselho do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Restinga, em Porto Alegre, irá discutir com a comunidade quais áreas serão atingidas após o anúncio do governo federal, no dia 30 de abril, sobre o corte de 30% no orçamento deste ano em todas as universidades federais do país.
Às 10h, uma caminhada até a esplanada do bairro e uma exposição das produções científicas, organizadas pelo Grêmio Estudantil Diversifica, também será promovida em defesa do campus e da educação pública.
O orçamento anual para manutenção do campus é de R$ 1,9 milhão. Desde a declaração do Ministério da Educação, a direção vem analisando as medidas necessárias e de menor impacto a serem implantadas no campus.
Os 62 bolsistas já estão cientes da possibilidade de perder o benefício a partir do mês que vem. Devem ser suspensas, a partir de junho, as atividades de ensino, pesquisa e extensão, o que significa, interromper 33 projetos de pesquisa, viagens técnicas (obrigatórias no curso de Turismo, inclusive para receber o certificado), eventos, capacitação de professores e o fornecimento da merenda escolar.
O corte também impactará na assistência estudantil (chamado também de auxílio permanência) repassado para os alunos que comprovam baixa renda. Haverá dificuldades em honrar com os contratos continuados, que incluem despesas com energia elétrica, limpeza, vigilância, água, telefonia e intérprete de libras.
— Fomos pegos de surpresa. Começou com o bloqueio em três universidades e, de repente, para todo mundo. Nós teríamos que optar por manter a assistência estudantil ou os contratos continuados — explicou o diretor do campus, Gleison Samuel Nascimento.
O auxílio permanência é repassado, atualmente, para 350 estudantes. Desde a aprovação da PEC do Teto dos Gastos, durante o governo de Michel Temer, as universidades e institutos vêm sofrendo com os contingenciamentos, já refletindo no pagamento de fornecedores.
— As despesas mais urgentes são pagas em 30 dias. As demais, estão atrasadas — detalha o diretor.
A quadra de esportes, que deveria ter sido construída em cinco meses, está há 17 meses esperando conclusão por falta de recursos. Algumas empresas ameaçam retirar bens adquiridos pela instituição, como as cadeiras do auditório e os contêineres para ferramentas do curso de agroecologia.
O campus da Restinga tem 1,1 mil alunos nos três turnos. São três cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, dois cursos técnicos integrados ao ensino médio EJA, um curso técnico subsequente e cinco superiores. O grêmio estudantil tem buscado apoio da comunidade para mostrar a importância do instituto para os estudantes. Na última quinta, eles deram um abraço simbólico no campus. No dia 15, está prevista uma mobilização geral dos servidores.
Preocupação
Helena Santos Moreira, 16 anos, é aluna do 2º ano no IFRS Restinga. Recebe bolsa, assistência estudantil e teme pelo impacto que a falta dos auxílios trará para sua família.
— A experiência que o instituto me traz é enriquecedora, um dos poucos lugares com oportunidades dentro da Restinga. Tirar isso da gente é absurdo. Quero entrar em uma universidade pública, que também está sofrendo impacto, e vejo que estão acabando com as minhas perspectivas de futuro. Provavelmente, meus pais terão que arcar com os custos, mas isso resultará em menos dinheiro para comida, passagem, água, luz em casa — mencionou.
Lúcio Costa da Rocha, 47 anos, também morador da Restinga, recebe bolsa desde 2017 para cursar o EJA. A um semestre da formatura, se preocupa com a conclusão do curso.
— Estou desempregado e este é meu único recurso. Vai me prejudicar muito. Aguardo pelo fim das aulas para melhorar meu posicionamento no mercado de trabalho.