A inquietação de uma educadora da rede estadual, alarmada ao observar a falta de perspectiva dos alunos quanto à aplicação dos ensinamentos de língua inglesa na vida além da escola, levou Tânia de Oliveira Maineri, 52 anos, a ser selecionada como bolsista de um curso de formação internacional em Ottawa, no Canadá.
A capacitação, promovida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), terá duração de oito semanas, entre julho e agosto, com foco no aperfeiçoamento do idioma inglês, na gestão educacional, no modelo canadense, no ensino voltado ao aluno e nas formas de abordagem.
Tânia é professora da rede estadual há 30 anos. Atualmente, leciona na Escola Estadual Maria Teresa Vilanova Castilhos, também conhecida como Escola Polivalente, em Osório, no litoral norte gaúcho. O contato diário com alunos do Ensino Médio começou a lhe preocupar quando percebeu que, na concepção dos jovens, o conhecimento do inglês serviria apenas para compreender melhor as letras das músicas de estrelas internacionais e sacar os jogos virtuais.
— A bolsa surgiu no momento em que eu vinha questionando o meu trabalho de língua inglesa. Eu sentia que os alunos não davam mais sentido, não tinham perspectiva de como desenvolver isso para o futuro. Isso me incomodava — conta Tânia.
A docente resolveu pesquisar meios de mostrar o quão ampla pode se tornar a prática dos ensinamentos adquiridos em sala de aula. Em buscas pela internet, descobriu a hipótese de serem feitos intercâmbios virtuais entre alunos brasileiros e ingleses por meio de uma plataforma da organização British Council. A ideia inicial não prosperou, mas Tânia foi avisada por uma colega sobre a abertura de edital de seleção para as bolsas no Canadá, visando à qualificação de professores pela Capes. Decidida a concorrer com docentes de todo o Brasil, desenvolveu o projeto intitulado "O ensino de inglês conectando a realidade do aluno ao mundo do trabalho". A proposta é promover conversas virtuais entre alunos brasileiros e estrangeiros, de uma cidade a ser escolhida, tendo o inglês como idioma, para discutir "angústias, realidades e usos da língua como ferramenta".
— O eixo temático do projeto é o mundo do trabalho, criar novas perspectivas do aluno em relação a isso. Vou procurar uma turma no Canadá que possa fazer o intercâmbio — conta Tânia.
Ela detalha que alçou o desenvolvimento profissional como uma das diretrizes do programa porque considera "angustiante" ouvir alunos do 3º ano do Ensino Médio responderem constantemente que não sabem o que pretendem fazer no futuro da vida, com demonstração de baixa perspectiva.
Na avaliação, o projeto de Tânia alcançou 88 pontos em 100 possíveis. Acabou classificada em terceiro lugar dentre as seis vagas disponíveis para professores de Ensino Médio da região Sul do Brasil. No total, a formação internacional receberá 102 docentes brasileiros, com as despesas pagas pela organização. Será o maior voo da carreira de Tânia, que já cursou uma pós-graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A contrapartida dela, registrada em contrato, é aplicar o programa educacional quando retornar do Canadá, remetendo relatórios sobre o desenvolvimento prático da proposta. Adepta das ferramentas virtuais, usará, desde a América do Norte, a plataforma do Google chamada "classroom" para enviar conteúdos e tarefas aos alunos que estarão em Osório durante os dois meses da viagem de qualificação.