O engenheiro mecânico Ivo Klug, aos 79 anos, é o candidato mais idoso aprovado no Vestibular 2019 da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A partir do segundo semestre deste ano, quando estará com 80 anos, ele iniciará o curso de Engenharia de Controle e Automação no Campus Blumenau, em Santa Catarina. Será a segunda graduação.
Casado com Vera Regina e pai de Alessandra, Jamile e Pedro Ivo, ele passou por diversas empresas, algumas cidades, viajou para o exterior, fez uma série de cursos e uma pós-graduação e agora, 50 anos após a conclusão do curso superior em Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Paraná, retorna aos bancos universitários para aprender, com profundidade, sobre projetar, analisar e usar sistemas de controle e automação na área de concentração Controle de Processos.
A escolha pela UFSC e pelo curso não foi um mero acaso. Todos os passos foram analisados, estudados e preparados para que a aprovação fosse possível. Ivo frequentou aulas no Campus Blumenau em 2018, quando cursou a disciplina de Física I como aluno isolado. Foi aprovado com média 7,5, se apaixonou por Controle e Automação. Esses motivos foram suficientes para que decidisse prestar o Vestibular 2019.
— A prova foi difícil, cansativa, são três dias. Fui bem em matemática, mas não consegui fazer todas as discursivas. É muito diferente da minha época.
Quando soube que seria calouro da UFSC, após confirmação de aprovado na Secretaria do Campus, Ivo disse: “então quer dizer que eu estou dentro?”.
— Dei um berro ali fora, sabe aquele de emoção?. Eu fiquei muito emocionado, é uma grande alegria. Eu me senti não no céu ainda, mas bem pertinho — relatou à assessoria de comunicação da UFSC.
O Censo da Educação Superior, que analisa dados educacionais de 2017, apontou que 7.792 pessoas acima dos 65 anos estão matriculadas em cursos de graduação presencial e à distância no Brasil. Destes, 2.461 têm mais de 70 anos. No Sul, são 367 matriculados acima dos 70 anos, sendo que em Santa Catarina são 62 estudantes nesta faixa etária.
A busca por atualização e profundidade são os objetivos de Ivo. Quando se formou o diploma foi emitido em pergaminho.
— Os microcomputadores só vieram anos depois de eu estar formado. Agora, eu sinto essa dificuldade de acompanhar o avanço tecnológico, principalmente nos elevadores (área em que trabalha). Eu vou pegar essa base firme aqui, com vocês.
Ivo Klug tem muita bagagem. Trabalhou em bancos, escritórios de contabilidade, esteve no exército, passou pela indústria química, mexeu em caldeiras, turbinas e geradores no setor de energia elétrica, foi para a Alemanha entender de equipamentos para porcelana, esteve no sul do estado catarinense para trabalhar com companhias carboníferas, atuou na indústria têxtil, fábricas de caldeiras e para a indústria de papel, fundição de aço e ferro. Se aposentou em 2003, ano em que começou a lecionar, até ano passado.
Quando já estiver completado 80 anos começará as aulas na UFSC. Para ele, o segredo para ter força está em descobrir a sua vocação.
— A minha eu descobri trabalhando numa área que não era minha: fabricar cerveja. Eu poderia estar fabricando cerveja há mais de 50 anos, mas eu resolvi fazer engenharia, porque eu descobri na cervejaria que a minha vocação eram máquinas. E nessa área eu tive a oportunidade de atuar com elevadores, termelétricas, tudo na área de mecânica. Então eu não preciso ser motivado, porque eu tive essa sorte, mas nem todos tem. Por isso, digo, comece a trabalhar em alguma coisa e, quem sabe lá, você descobrirá a tua vocação.