Pós-doutor em Linguística e professor livre docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Valdir Heitor Barzotto acredita que transição escolar é um fator superdimensionado na educação. Ele afirma que as crianças e adolescentes lidam com questões bem mais complexas, dentro e fora da escola, e portanto a ênfase dada às passagens de séries é desnecessária.
A transição escolar pode ser vista como uma nova fase da vida? Ou o impacto dessa mudança é superdimensionado?
O ser humano sempre entra em novas fases, independentemente do calendário escolar. A menos que estejamos entendendo que não entramos em nova fase, que não somos exigidos a elaborar a respeito dos episódios de Brumadinho, por exemplo. A existência dessa transição escolar é superdimensionada desnecessariamente.
Quando a troca do nível de ensino envolve também uma troca de escola, é preciso maior atenção dos pais e educadores?
Adultos próximos às crianças precisam sempre prestar atenção, estar em constante vigília para apoiar em suas dificuldades, seja qual for o momento. É recomendável não relaxar a atenção em nenhum momento. Afinal, estamos lidando com um ser humano não programado. Logo, se estamos de fato interagindo com ele, devemos ser capazes de perceber como ele está e agir para apoiá-lo.
É importante abordar esse assunto com os filhos? De que maneira fazê-lo?
Todo assunto é passivo de ser abordado com filhos, desde que o assunto venha à tona. Para abordar, é preciso que o assunto se apresente e deve-se fazê-lo com naturalidade.
Abordar o assunto não é informar de que ele terá um problema programado para ocorrer no momento em que mudar de nível escolar. Num país em que a mortalidade de crianças e jovens é um absurdo, não se pode criar a ilusão de que há uma programação de momentos para surgirem os problemas. É preciso estar atento ao outro.
É necessário, de alguma maneira, preparar as crianças e adolescentes para esse momento?
Não é possível preparar as crianças para todas as mudanças pelas quais ela terá de passar. Mas pode-se abordar a respeito de alguns temas, sempre sabendo que não dá para prever que momentos serão mais críticos. E também, repito, diferenciando preparo com gerar o problema, informar que o aluno vai ter um problema. Ele pode não ter ou saber lidar bem quando aparecer.