Um e-mail enviado por um professor da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da UFRGS gerou acusações de racismo e elitismo por parte do Diretório Acadêmico da instituição na última semana. No dia 24 de junho, o docente Mário Rocha mandou uma mensagem para a turma da disciplina de Assessoria e Consultoria em Comunicação, do segundo semestre de Jornalismo, com o propósito de apresentar "uma síntese de várias ações e manifestações" realizadas ao longo do semestre.
No texto, o professor elenca vários tópicos, entre eles um intitulado "Cotistas". Nos trechos contestados pelos estudantes, Mário Rocha diz "que alunos (as) cotistas precisam entender que, na realidade, 'tiraram a vaga' de alguém que estaria aprovado pelo desempenho no vestibular universal" e que "não podem fazer 'corpo mole', pois o eventual descomprometimento com a vaga obtida, com maus resultados acadêmicos, prejudica toda a proposta e muita gente". Confira o texto na íntegra:
"COTISTAS – Não estabeleço qualquer discriminação. Sou plenamente favorável ao sistema de direcionamento parcial de vagas vigente. No caso de negros e pardos, entendo que o critério deve ser o fenótipo (aparência), nunca o genótipo. Meu sentimento é de que o sistema de cotas não pode vigorar para sempre, apenas porque assim estaríamos aceitando que as injustiças de toda a ordem continuassem sendo perpetradas. Disse e reafirmo que aluno(as) cotistas precisam contar com o apoio dos professores e dos colegas para superar dificuldades que eventualmente apresentem ao entrar na Universidade. Disse e reafirmo que alunos (as) cotistas precisam entender que, na realidade, “tiraram a vaga” de alguém que estaria aprovado pelo desempenho no vestibular universal. O sistema social que privilegia brancos e ricos que estudaram em bons colégios não pode ser perpetuado, mas cotistas também não podem fazer “corpo mole”, pois o eventual descomprometimento com a vaga obtida, com maus resultados acadêmicos, prejudica toda a proposta e muita gente."
Em sua página no Facebook, o Diretório Acadêmico da Comunicação (Dacom) manifestou em postagem uma "Nota de repúdio ao posicionamento racista, elitista e meritocrata de professor fabicano". Os alunos consideram que a afirmação do docente "tem efeito perverso pelo forte potencial de colocar os estudantes ingressantes pelo Acesso Universal contra os estudantes cotistas", além de destacar que os que se matriculam via cotas "não podem nem devem ser cobrados a mais pelo seu desempenho, muito menos sofrer ou ser alvo de algum tipo de diferenciação mediante os outros".
Questionada por GaúchaZH, a coordenação da Comissão de Graduação do curso de Jornalismo da UFRGS (Comgrad) diz ser "contrária a qualquer manifestação discriminatória em relação aos alunos cotistas" e comunica que "deu encaminhamento interno à manifestação da representação discente do curso e continuará acompanhando o esclarecimento da situação".
Na última terça-feira (3), após encontro com a turma, o professor informou o envio de nova mensagem para os integrantes da disciplina reconsiderando o que foi escrito inicialmente e pedindo desculpas.
"Aceito de bom grado as críticas recebidas e agradeço por elas. E, principalmente, destaco que foi muito bom ver o tensionamento inicial na manhã de hoje ceder lugar a uma reflexão madura e coerente, mais madura e coerente por parte da turma do que da minha parte em inúmeros momentos", escreveu no e-mail aos estudantes.