Enquanto as instituições de ensino investem no ensino a distância para conquistar novos alunos, alguns conselhos profissionais resistem à oferta de cursos nessa modalidade. Entre as entidades mais críticas está a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que considera preocupante a ampliação da vagas para formação de advogados por meio do modelo.
— É algo que preocupa significativamente a OAB e suas comissões nacionais e estaduais de ensino jurídico exatamente porque nós poderemos ter uma redução ainda maior da qualidade do ensino — afirma o presidente nacional da OAB, Cláudio Lamachia.
A entidade não é totalmente contra o modelo, mas defende uma integração, com atividades presenciais e a distância:
— Um percentual ainda a distância, como complemento do curso jurídico pode ser aceitável. Mas não se pode admitir que se tenha uma faculdade de Direito cursada toda ela na modalidade de EAD.
O presidente da seccional gaúcha da OAB, Ricardo Breier, afirma que, antes de ampliar a oferta a distância, é preciso pensar na qualificação do ensino presencial. Segundo ele, apenas uma pequena parte das 1,2 mil universidades que oferecem o curso de Ciências Jurídicas no país está em condições de seguir com o ensino.
— Dessas mais de 1,2 mil universidades no Brasil hoje, apenas 140 têm o selo que a OAB recomenda a permanência desse curso, justo porque há condições mínimas de ensino jurídico presencial — afirma ele, ao destacar que a fiscalização da qualidade no modelo a distância é ainda mais difícil.
Conselhos ligados à área da saúde também têm resistência ao ensino a distância. Vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Ismael Maguilnik sustenta que a Medicina, assim como outras especialidades da área da saúde, tem características de contato pessoal, que não se encaixam no EAD.
— Cada paciente tem uma história diversa daquela que está no livro ou está em qualquer outro manual. Você pode transferir o livro para o EAD, mas não se pode transferir o paciente para o EAD.
Para Maguilnik, as novas tecnologias já são utilizadas no curso de Medicina.
— Agora nós não conseguimos entender ensinar medicina, ensinar como a gente trata com pessoas a distância. Isso é impossível. O contato humano com o paciente. E por outro lado, a universidade significa que as pessoas vão conviver num meio, aprender em conjunto, transmitir conhecimento um para o outro e resolver os problemas em conjunto. E o EAD é algo muito pessoal. As pessoas ficam frente a um canal escutando algumas coisas.
Presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul, Daniel Menezes de Souza também é crítico do fenômeno EAD.
— Nós entendemos que a profissão é eminentemente técnica e assistencial, baseada no cuidado de pessoas. E não se ensina cuidado, atendimento, contato com as pessoas utilizando as tecnologias a distância. Nós entendemos que a educação na formação tem que ser presencial.
O ex-presidente do Conselho Regional de Farmácia e atual conselheiro da entidade, Maurício Schuler Nin segue na mesma linha, mesmo admitindo ser favorável às novas tecnologias no aprendizado e na profissão.
— O conselho é favorável à inclusão de mais e melhores tecnologias na graduação em saúde. Mas que profissional é esse que queremos formar que não tem contato humano algum e que receberá um diploma ao final? É esse o profissional que atenderá as necessidades da população brasileira? — questiona o farmacêutico.
O que dizem as universidades
Se os conselhos profissionais têm seus argumentos para resistir ao ensino a distância, as universidades têm suas opiniões para passar a oferecer o método em cursos que ainda são oferecidos apenas de forma presencial. O diretor acadêmico de EAD da Universidade Estácio de Sá, Flávio Murilo de Oliveira Gouvêa, acredita que a resistência de entidades deva diminuir ao longo dos anos.
— Eu não estou dizendo que todas as disciplinas da saúde possam ser feitas a distância hoje, mas a tecnologia, a evolução, a informação, a informática, os algoritmos e a inteligência estabelecida vão fazer com que essas resistências serão mitigadas ao longo do tempo.
Para Thiago Nunes Bazoli, gerente de operações acadêmicas EAD da Unopar, há um equívoco nessa resistência dos conselhos.
— Porque os conselhos entendem educação a distância como um curso 100% a distância e isso não é verdade. Citando como exemplo o nosso curso de Enfermagem. Ele só não é presencial, porque tem 60% de presencialidade. Então esse aluno está realizando as aulas teóricas de modo a distância e todas as atividades práticas que ele tem do curso, ele está fazendo isso presencialmente num laboratório especializado.
A gerente da graduação a distância da Unisinos, Simoni Rohden, sustenta que quase todos os cursos de graduação poderiam ser oferecidos através do método EAD, inclusive alguns da saúde.
— A grande questão é o quanto a universidade está disposta em investir em tecnologia para isso. Porque existem avanços tecnológicos que permitem ao aluno diversas experiências imersivas e de simulação, usando realidade virtual, usando programas de computador que propiciam ao aluno se colocar em situações que talvez atividades acadêmicas necessitam.